segunda-feira, 18 de maio de 2009

“MUNDO ROCK INTERIOR” *



* título “surrupiado na cara dura”de um projeto bem bacana promovido há algum tempo pela banda Maria Scombona.

por Adelvan Kenobi

Fotos do Rock Sertão por Ademarcos

Rock Sertão – 7ª. Edição
Sexta e sábado, dias 15 e 16 de maio de 2009
Nossa Senhora da Glória - SE

O que primeiro salta aos olhos (e aos demais sentidos) nesta nova edição do Rock Sertão é o caminho percorrido para se chegar a Nossa Senhora da Glória: um belíssimo tapete negro de asfalto de primeira qualidade. Uma obra impecável do governo de Sergipe, auto-intitulado, nesta gestão, “governo de todos”. Esta obra corrobora esta afirmação publicitária, já que a referida estrada é uma reivindicação antiga dos moradores da região, e serve à população em geral, pois todos precisam de uma via em boas condições para se locomover com conforto e de forma economicamente viável. Serve inclusive aos produtores e freqüentadores do evento em questão, já que muitos, eu inclusive, pensariam duas (senão três) vezes antes de enfrentar a buraqueira que imperava até o ano passado para ver, basicamente, bandas que fazem shows regularmente aqui mesmo, em Aracaju. O atrativo, no caso, é a simples mudança de ares. Em outras palavras, “dar um role”. Por outro lado, é lamentável que o mesmo “governo de todos”, que tem sistematicamente cortado verbas de apoio para eventos de interesse publico/comunitário em geral alegando falta de recursos devido à queda de arrecadação decorrente da crise financeira mundial, tenha promovido uma megafesta popularesca com chamadas insistentes pela televisão para inaugurar a chamada “Rota do sertão”. “farinha pouca, meu angu primeiro”, bem diz aquele célebre ditado popular, ou seja – para festividades de interesse direto para a promoção das ações do governo em si, os recursos não faltaram. São as contradições da política, que devem ser bem guardadas e registradas em nossa memória para que sejam devidamente pesadas na hora de depositarmos o voto.

Dito isto, vamos ao evento em si:

Não pude ir na sexta por um motivo nobre : colocar o programa de rock no ar. Fui no sábado. Chegamos a tempo de ver os Mamutes, mas perdemos a apresentação da AliquiD – uma pena. Muito embora não façam um tipo de som que me agrade pessoalmente, um Heavy Metal melódico com pitadas de prog-metal, fazem muito bem o que se propõem e têm uma postura bastante aberta e profissional, ou seja: merecem respeito. De todos. Mas ok, quero crer que terei várias outras oportunidades de vê-los em ação, afinal, a banda está apenas começando sua trajetória. O que não é o caso do Mamutes, uma formação já mais que testada e aprovada no cenário “rocker”sergipano. Apresentaram-se pela primeira vez desfalcados de um de seus guitarristas, o excelente Marcio Navas. Mas Rick Maia segurou a peteca com louvor, até porque, segundo eles mesmo me explicaram (e aos ouvintes) numa entrevista ao vivo ao programa de rock um dia antes, foi assim que a banda começou, com apenas um guitarrista, então não deixa de ser uma volta às origens, embora não de forma voluntária. Para minha surpresa, a praça estava relativamente vazia, o que é um fato lamentável, já que o evento tem bastante projeção e seria de se supor que atrairia um bom publico. Com o decorrer do tempo as pessoas viriam chegando e chegaríamos num bom pico de audiência durante o avançar da noite, mas foi lamentável que uma banda tão competente e energética no palco como os Mamutes tenha tocado pra tão pouca gente. Alguns problemas de equalização também comprometeram a qualidade do som, mas no geral foi um bom show. Nem de longe o melhor show da Mamutes que eu já vi, mas mesmo assim, bom. Destaque para as boas composições próprias e a comprovada competência de todos em seus instrumentos, mas um aparte especial tem que ser dado ao guitarrista Rick Maia, detonando riffs e solos com uma competência e entrega “de dar gosto”. Esse é do rock, não há duvidas. Um detalhe pitoresco foi o arremesso de uma galinha viva (!!!!) vinda de alguém da audiência na cara do vocalista Kal. Se esse gesto teve algum significado especifico, difícil dizer, porém a intenção não parece ter sido depreciativa, já que o mesmo arremessador galináceo pôde ser visto durante todo o restante do evento trajando uma camiseta da banda devidamente adquirida na barraca de souvenirs pilotada por Cabelo e Estranho.

O rock Sertão inovou este ano e apresentou também, além de graffites feitos no palco na noite anterior, uma peça de teatro montada por um grupo amador local que conta a historia da cidade. Foi interessante, mesmo com algumas falhas técnicas e com um texto demasiadamente calcado na chamada “historia oficial”, com citações a meu ver desnecessárias a políticos locais. Depois da peça (que foi um tanto quanto demorada, diga-se de passagem), sobe ao palco a Plástico Lunar – na minha modesta opinião a melhor banda de rock sergipana em atividade. Fizeram um show impecável, sensivelmente beneficiado por uma melhor equalização. Meio difícil para mim, que já vi e descrevi tantos shows da plástico, descrever mais um, mas esse foi especialmente bom, quase perfeito. A banda está “viajando” ainda mais em pirotecnias instrumentais psicodélicas ao vivo, mas o que em mãos menos competentes resultaria em enfado, com eles se transforma em enriquecimento puro e simples para arranjos já antes matadores. Nesses “happenings” instrumentais o destaque vai para o tecladista Leo Airplane, sempre arrepiando em perfomances inspiradas e muito bem colocadas. Julio Dodges, também guitarrista da The Baggios, vem tendo mais projeção nos shows da Plástico, e sua contribuição é pra lá de enriquecedora, chegando inclusive, agora, a fazer alguns vocais – o que faz da Plástico Lunar, creio eu, a banda mais bem servida de bons vocalista da historia do rock sergipano. Apenas Leo não canta, e todos os outros mandam muito bem, “cada um no seu quadrado” – o baterista Odara, por exemplo, arrebenta nos vocais de “Banquete dos gafanhotos”, a ponto de ser difícil de imaginar outra pessoa cantando essa musica em seu lugar. O show da Plástico teve outro detalhe pitoresco, embora já bastente “tradicional”- a invasão do palco por parte de Bilal, “Elite do metal”, “A Base de tudo”, para soltar um de seus devastadores “screaming” que fez tremer nas bases a nação roqueira presente em Nossa Senhora da Gloria, também conhecida como “Boca da mata”- apelido, dizem, dado por Lampião, que invadiu a cidade certa feita, segundo contou a própria peça anteriormente encenada, mas sem deixar rastros de sua alardeada crueldade, muito pelo contrario, diz-se que, inclusive, distribuiu doces para as crianças. Vale ressaltar também que o show da Plástico foi o que mais “levantou”a galera, o que corrobora como acertada a escolha da produção sempre muito criticada, injustamente, diga-se de passagem, por não “dar oportunidade a bandas novas”- a maioria dessas criticas, como não poderia deixar de ser, vem sempre de componentes de bandas que não foram selecionadas.

A próxima banda, Dr. Garage Experience, demora um pouco mais do que o razoável para começr sua apresentação, o que causou um certo esfriamento e esvaziamento do recinto (lembrando que o evento acontece a céu aberto, numa das praças centrais da cidade, e é gratuito). Trata-se de uma das encarnações “garageiras” do guitarrista Maicon “stooge”, escudado por seu fiel companheiro Givanilton, na bateria, e por Luciano no contrabaixo. Infelizmente estavam um tanto quanto desentrosados, pois passaram um tempo de molho sem ensaios devido um acidente com o baixista, mas o que poderia ser uma falha grave acabou não comprometendo de todo o show por conta da sempre contagiante empolgação de seus componentes, notadamente Givanilton, nosso Pete Shelley do agreste, e Maicon, que chegou a chutar, espezinhar e maltratar sua pobre guitarra, dando por encerrada apresentação quando TODAS as cordas (aparentemente) se arrebentaram, ao mesmo tempo. Não sem antes nos presentear com, além de suas boas composições próprias, uma do Cramps, sempre memorável. Não deixa de ser surreal ver uma musica do Cramps ser executada ao vivo em pleno sertão sergipano ...

Era avançado da noite e o cansaço começa a bater. Três bandas ainda iriam se apresentar, mas tornava-se fato o que antes era apenas evidencia, que não iríamos aguentar até o final – até porque havia um relativamente longo caminho a ser percorrido na volta a Aracaju. Vi de longe minha primeira apresentação da Anéis de Vento, mas vou me abster de emitir aqui alguma opinião para não ser injusto, porque já estava cansado e com dificuldade para me concentrar. Fica para (mais uma) outra oportunidade.

Voltamos em paz, chegamos em paz – quer dizer, mais ou menos: De vez em quando Bilal, que veio comigo, despertava de seu torpor alcoólico para entoar mais um de seus hinos metálicos numa voz tosca e inaudível, para desespero de minha amiga Desirée, sempre linda e “estilosa”, que tentava em vão dormir em paz no banco ao lado, e sob os protestos de Espantalho “tattoo”, que também nos acompanhou na jornada.

Até o ano que vem, se Nossa Senhora da Gloria permitir.

Clique AQUI para saber como foi no ano passado.

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HOSTES INFERNAIS
Sábado, Dia 25/07/2009
Boquim, SE


Haveria um show de metal “ultrahipermega” underground em Boquim, terra da laranja, esta noite, e eu, “guerreiro do rock”que sou, não poderia perder, claro. Arregimentei meus companheiros de jornada, só a “nata” headbanger “casca-grossa” local, no barzinho ao lado do principal cemitério da cidade, onde eles bebem todas as noites de sábado, rodeados pelas trevas, e lá fomos nós. Ninguém sabia ao certo como chegar em Boquim, mas como Sergipe é o menor estado da federação e eu tinha dado uma estudada num mapa, foi fácil. Cidade do interior, praticamente igual a todas as outras cidades do interior (nunca tinha ido lá). Achamos fácil a aglomeração de camisetas pretas e já de cara me encontro com meu velho amigo Pe. Alberto. Sim, eu tenho um amigo padre, e ele é muito doido. Nos idos de 1990 e cocada ele atendia pela alcunha de Alberto “pereba”e publicava em Estância, sua terra natal, o escrotíssimo fanzine “putrefy”. Por algum acaso do destino que só ele saberia explicar ele resolveu ser padre, vai entender. Nem por isso deixo de ser seu amigo, evidentemente, porque independentemente das diferenças ele continua sendo, como sempre foi, um grande cara. Tanto é que estava ali, em meio aos Headbangers, se confraternizando.

Pensei em entrar no show logo de cara mas desisti ao ouvir, de fora, que a primeira banda, cujo nome não lembro mas sei que era do interior, tava tirando um previsibilíssimo cover do Sepultura. Dei mais um tempo fora e adentrei ao recinto quando se preparava para subir ao palco a Grinding souls, de Nossa Senhora do Socorro (grande Aracaju). A formação da banda conta, na guitarra, com a presença ilustre de Carlinhos “verruga”, egresso, entre outras, da célebre Deuteronômio, provavelmente a primeira banda de metal de Aracaju a ter uma “carreira” sólida e duradoura, do final dos anos 80 (quando contava em sua formação com o agitador “Bruxo’, de Brasília, que infelizmente veio a falecer, vítima de afogamento) até o meio dos anos 90. Fazem um Death metal sem nenhuma frescura ou firula. Tosco, feio, malvado e um tanto quanto chato, devo admitir, mas com personalidade. Mas a banda da noite, pelo menos em termos de musicalidade apurada, era mesmo a que veio a seguir, a Scarlet peace, que já tem mais de uma década de serviços prestados no campo do Doom metal e da musica melancólica em geral em Sergipe. E estão melhores que nunca. O som está ainda mais elaborado, viajante, “psicodélico” até, emulando Pink floyd, inclusive, em muitos momentos – um caminho já tradicionalmente seguido por outras formações “doom”mundo afora, vide Anathema e Tiamat, entre muitos outros. O diferencial da Scarlet, em relação a muitas outras formações de metal do estado, é que eles são muito competentes no que fazem, se dedicam à banda e conseguem, com isso, evoluir. Excelente o show, com muitas musicas novas, o que é importante, pois de uns tempos para cá já ouvia muita gente reclamar da repetição constante no repertório deles.

Depois da Scarlet subiu ao palco uma banda nova, de Black Metal, MAHAVANTARA. Primeiro show dos caras (e da garota, no baixo), e vieram dispostos. Mise-em-scene completa, “corpse painting” em todos os compontes, tochas acesas e permanentemente alimentadas por roadies atentos e hinos de louvor a Satanás explícitos cuspidos, jamais cantadas, no máximo vomitados, pelo vocalista, de postura extremamente radical, eu diria até assustadora para espíritos incautos de primeira viagem. Particularmente achei tudo um tanto quanto monocórdico e chato. Não dava pra distinguir uma musica da outra, e não fui apenas eu, que não sou exatamente um iniciado nos segredos ocultos do Black metal, que disse isso. Mas enfim, o show deles não foi feito para mim, que num jargão amplamente utilizado entre aquelas verdadeiras “hostes infernais”, “não sou real”. De qualquer forma acho válido que exista este tipo de banda. É um diferencial a mais no amplo aspecto desse imenso mosaico de infinitos estilos e subdivisões do rock.

A banda seguinte era a Litania Ater. Eu já vi alguns shows deles e gostei. Black metal também, mas mais trabalhado – pelo menos, que eu me lembre, dava pra curtir variações de riffs, cadencias e andamentos em sua musica, o que pra mim, me desculpem os extremistas, é fundamental. Mas a madrugada já ia avançada e Boquim não é ali na esquina, então resolvi voltar pra casa a tempo de deitar em minha deliciosa e preciosa cama, mesmo que já com o sol despontando no horizonte.

No final das contas o saldo foi positivo.

Foi divertido.

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