quarta-feira, 15 de julho de 2009

Entrevista com Vendo 147



por Rian Santos - riansantos@jornaldodiase.com.br

publicada originalmente no Jornal do Dia e no Blog "Spleen e Charutos"

O palco do Capitão Cook, verdadeiro reduto roqueiro de Aracaju, recebe esta semana uma das maiores promessas da cena independente brasileira. Ao realizar o lançamento de seu primeiro trabalho, um EP virtual que carrega o mesmo nome da banda, os baianos da Vendo 147 prometem surpreender os incautos com um som visceral (poucas vezes o adjetivo fez tanto sentido) e a experiência incomum de dois bateristas dividindo o mesmo instrumento durante toda a apresentação.
Vejam bem, estamos falando de dois bateristas, e não de duas baterias. A bateria continua reinando única, soberana. A novidade é que os malucos resolveram contrariar as leis da física e inventaram que dois bateristas podem, sim, ocupar o mesmo lugar no espaço. E a mesma bateria também.
No último fim de semana, o batera Dimmy, mentor da maluquice, fez a gentileza de trocar uma idéia com este escriba, e expôs seu ponto de vista a respeito da indústria cultural baiana, da cena independente brasileira e dos percalços enfrentados pelos aventureiros que ainda acreditam na vitalidade do Rock’n Roll. O resultado da conversa, você confere abaixo.

Jornal do Dia – Não é a primeira vez que você participa do “acontecimento” de uma banda. Isso ocorreu com a The Honkers e, ao que parece, se repete agora. Como é a sensação? Dessa vez foi muito diferente?

Dimmy – Na verdade tem um sabor diferente. A Vendo 147 é um projeto que nasceu em 2006, mas só agora resolvemos colocá-lo em prática, transformá-lo em banda. Tem também os dois lados da moeda, pois somos banda nova e temos um caminho longo a seguir, essa sensação de desafio me motiva e me entusiasma.

JD – A indústria cultural baiana possui no axé o seu produto mais popular. Por outro lado, no entanto, a terra de Caetano e João Gilberto tem revelado alguns nomes bastante influentes no cenário independente brasileiro. Quais são as dificuldades de quem trabalha com música de menor apelo comercial aí na Bahia?

Dimmy – Acredito que as dificuldades encontradas aqui não são maiores, menores, piores ou melhores do que em qualquer outra cidade no Brasil. Estamos num ponto, geograficamente falando, muito ruim, esse é um ponto que eu considero como um dos mais agravantes, porém outros aspectos contribuem para que o trabalho realizado por uma banda de rock independente possa se sobressair mais do que em outro estado. Com a profissionalização da música, a partir do surgimento do Axé, tudo que envolve o mercado musical melhorou na cidade de Salvador. Hoje temos estúdios, lojas, músicos e bandas que estão entre os melhores do país por conta dessa profissionalização. Se na década de 80 esse mesmo mercado sufocou outros estilos musicais, hoje em dia ele não só ajuda como sente a necessidade de se adaptar e se juntar a todo tipo de música. Vemos hoje bandas de axé e blocos de carnaval organizando festas e shows com bandas de reggae, rock, rap. Tanto bandas conhecidas (mainstream) como bandas emergentes. Vimos no último carnaval a prefeitura colocar dois trios dedicados ao rock e com duas das bandas mais representativas do estado à frente deles: Retrofoguetes e Cascadura. Essa é uma das provas de que a indústria do axé está se adaptando a uma nova situação. A internet foi uma das ferramentas facilitadoras para que o trabalho de muita gente corresse o mundo. Hoje em dia, temos bandas que são conhecidas na Finlândia, por exemplo, como é o caso da Cobalto. No entanto, a maioria dos finlandeses não sabe quem é Ivete Sangalo. Essa é uma prova do poder que a internet tem.

JD – Como foi que a idéia insana do Clone Drum nasceu? Você sabe se existe alguma experiência parecida no resto do mundo?

Dimmy – Então, não sei se o clone drum nasceu no Monsters (banda da suíça que possui um clone drum). Em 2003, fiz uma turnê com o Honkers pelo Sudeste e em três dos nossos shows acompanhamos essa banda. Quando eu vi aquilo de perto fiquei perplexo, achei a idéia mais incrível do mundo relacionada à bateria. Já no segundo show deles eu resolvi ver como aquilo funcionava e pensei em um dia montar uma banda com um clone drum, até que vi o projeto de Glauco (o outro baterista da banda). Era uma banda instrumental com o nome de Vendo 147. Daí propus a ele usar o clone drum nessa banda. Eles toparam e depois do primeiro ensaio viram que funcionava perfeitamente, só que, como era um projeto, todo mundo tinha outras bandas e aquilo ficou congelado até descongelar e pegar fogo agora.

JD – A Vendo 147 é inteiramente formada por músicos com muita experiência no trampo (se eu fosse maldoso, diria experimentados). Isso interfere de alguma maneira no cotidiano da banda?

Dimmy – Muito pelo contrário, achamos isso fantástico. Temos três músicos que vêm de uma escola bem parecida, que sou eu, Glauco e Pedro. Somos “zeppelinmaníacos”, mas cada um tem a sua particularidade. Glauco gosta muito de rockão, bandas setentistas. Pedro é um músico super virtuoso. Apesar de gostar de rock setentista, ele não se prende a isso, tanto que tem um projeto de chorinho. Eu gosto muito de rock setentista, mas de um tempos pra cá passei a me entender muito com o metal, sem contar que eu nasci no Blues e no Soul. Duardo, que é um velho conhecido da cena roqueira de Aracaju, veio pra dar o charme na parada. Apesar de fazer paredes pesadas como ninguém, ele tem toda a sutileza pra colocar momentos na música que se tornam, musicalmente falando, incríveis. Já o caçula, de 19 anos, Caio Parish, é um daqueles talentos raros. Apesar da pouca idade, é super virtuoso e sabe segurar a onda como gente grande. Talvez ele seja o gás que os mais velhos precisam pra fazer a Vendo 147 decolar.

JD – Pelo que eu tenho acompanhado, quando se fala na Vendo 147, o inusitado de dois bateristas dividirem o mesmo set chama mais atenção da imprensa do que a própria música (virulenta e visceral, como desejam os deuses do rock). Isso não incomoda a banda? Vocês não têm medo de se tornarem uma simples curiosidade num cenário muitas vezes apático?

Dimmy – Que nada, é o grande barato da história. Muita gente pode chegar pra ver o clone e se deparar com uma música que pode ser uma trilha sonora pro seu cotidiano. Costumamos falar que as canções que compomos poderiam servir como trilha sonora de um filme, ou um desenho, propaganda… Tem também o lado da nossa preocupação em deixar cada vez mais o clone interessante tanto para a música como para o público, até porque estamos falando de dois bateristas que vão tocar juntos numa mesma bateria, dividindo o mesmo bumbo, portanto, isso tem que ser muito bem sincronizado, pra soar agradável.

JD – Pra terminar, você poderia falar de sua relação pessoal com Sergipe e com as bandas que labutam por aqui.

Dimmy – Eu aprendi a gostar e a amar esse lugar. Tanto que me casei com uma sergipana que me ensina a cada dia a gostar mais e mais dessa terra. Toquei inúmeras vezes em Aracaju com o Honkers e também com a Vendo 147 (quando ainda éramos só um projeto). Sempre achei a cidade super promissora para a música independente, tem um público super acolhedor, que sabe muito bem tratar e receber uma banda que vem de fora. Das bandas daí eu conheço algumas, todas elas muito talentosas, como a Snooze, Jezebels, Elisa, Plástico Lunar, Daysleepers, The Renegades of Punk, The Baggios. O Baggios é incrível, banda espetacular, se hoje tivesse que apostar as fichas em uma banda eu apostaria todas as fichas no Baggios. Sou fã de carteirinha deles, tanto que, quando pensamos em tocar em Aracaju, o primeiro nome em que pensamos pra dividir o palco foi o deles. E é o que vai acontecer no próximo dia 18 de julho, lá no Capitão Cook. Esperamos as roqueiras e os roqueiros sergipanos lá!

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