quinta-feira, 17 de setembro de 2009

Karne Krua é do rock

Karne Krua no ‘Eu Sou do Rock’

Do Blog "Spleen e charutos"

Rian Santos
riansantos@jornaldodiase.com.br

Quando o camarada Estranho, da Boca de Forno Produções, me enviou o release do Festival Eu Sou do Rock, que deverá reunir algumas das bandas mais virulentas da cidade na área externa do Teatro Lourival Baptista, no próximo domingo, tratei logo de botar o olho na programação. A ansiedade possuía justificativa. Talvez fosse a oportunidade necessária para registrar a história da banda mais importante de todo o cenário alternativo de Sergipe. Não me arrisco a dizer se existe justiça no mundo, mas os anjos degenerados do acaso e da distorção sorriram pra mim.

Minha intenção inicial era reunir algumas impressões a respeito da Karne Krua durante um ensaio dos caras, mas o veterano Sílvio, vocalista e fundador da banda, me explicou que eles estão num ritmo bacana de shows, de modo que o repertório já está meio azeitado, dispensando a necessidade de uma nova reunião com os músicos. Isso não nos impediu, contudo, de lorotar um bocado, enquanto o rapaz atendia à molecada que continua procurando informação na Freedom.

Durante a conversa, Sílvio me explicou que o hardcore está na base de tudo o que a Karne Krua faz desde a sua fundação, há mais de vinte anos. Isso nunca representou empecilho, entretanto, para que eles utilizassem a batida vertiginosa do gênero para imprimir uma personalidade a suas composições.

“O alicerce é o hardcore, mas nós sempre incorporamos outros elementos, sem nenhuma limitação. Eu não gosto dessa história de gênero, de se prender a determinados dogmas de maneira religiosa, respeitando determinadas fronteiras. É por isso que nosso público é bem heterogêneo, e aglomera tanto a molecada que está começando a ouvir rock, quanto o quarentão de cabelos brancos que nos acompanha faz tempo”.

Quando Sílvio começou a se interessar por música, nos esmaecidos anos 80 (Itabira é só um retrato na parede, mas como dói!), influenciado pelos irmãos mais velhos e por um ambiente familiar propício, a paisagem de Aracaju era muito diferente, e não convivia pacificamente com a negação dos modelos de comportamento que cultivava. Segundo Sílvio, não era raro o camburão acompanhar um grupo de cabeludos de maneira ostensiva.

“No imaginário da época, roqueiro era tudo drogado, marginal, batia em mulher. Claro que era todo mundo moleque, com dezesseis, dezessete anos, querendo mergulhar no universo dos ídolos, e a droga sempre caminhou de mãos dadas com o rock. Mas tudo depende de como o cara lida com isso. Tem gente que afunda, tem gente que sai nadando, de mansinho…”, defendeu com alguma ironia.

Foi motivado pela curiosidade despertada por esse universo, que Sílvio começou a fazer música. “Depois de ouvir os discos que meus irmãos traziam da loja onde trabalhavam, de conhecer a música sessentista, setentista, eu entendi que tinha que buscar a emoção de fazer música. Era a peça que faltava pra completar o quebra-cabeça. O rock era a nossa grande arma, a gente tinha que montar uma banda”.

Nos tempos da Sem Freio na Língua, banda que lançou as sementes para o surgimento da Karne Krua, o cenário também não era propício para a divulgação da música autoral, mas os caras pretendiam, deliberadamente, fazer história.

“Me lembro de um show em que anunciaram que o cara ia tocar com uma Fender. Foi a grande atração do evento. A guitarra apareceu mais do que a maioria das bandas. Talvez por isso a Karne Krua tenha se destacado”.

Sílvio continua. “Desde o início, quando fundei a banda com Almada, defendemos a bandeira da música autoral. Era uma coisa ideológica, de batalha mesmo. Isso também pode explicar a nossa vitalidade. Quando um menino vem me pedir conselho, tentando entender como a Karne Krua sobrevive há tanto tempo, explico que uma banda tem que estar sempre em atividade, ocupando os espaços, renovando o seu público, procurando novos desafios. O cara precisa acreditar no que está fazendo. O resto é lucro”.

Serviço:

Local: Área externa do Teatro Lourival Baptista
Data: 20 de setembro (domingo)
Hora: 15 horas

PS: A banda também será uma das atrações da Quinta Sessão Notívagos, que será realizada no dia 03 de outubro (sábado para domingo), a partir das 23:59h, no Cinemark do Shopping Jardins. Na ocasião será exibido o aclamado documentário "GUIDABLE: A VERDADEIRA HISTÓRIA DO RATOS DE PORÃO".



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