terça-feira, 27 de outubro de 2009

Entrevista com Leo Levi, Diretor da Aperipê FM

por Rian Santos, do Blog Spleen & Charutos

riansantos@jornaldodiase.com.br

O diretor da Rádio Aperipê já conhece os nomes que deverão defender a bandeira de Sergipe no festival de música realizado pela Associação das Rádios Públicas do Brasil (Arpub), mas não os revela nem sob tortura. A divulgação só ocorrerá na próxima sexta-feira, Dia da Sergipanidade, quando a programação da emissora será totalmente dedicada aos artistas locais. Isso não significa, contudo, que Léo Levi alimente algum receio em relação à exposição de suas idéias.
Em uma conversa rápida, entre um gole de coca-cola e outro, o rapaz e4xpôs suas impressões a respeito da cena local com uma franqueza corajosa, sobretudo quando levamos em conta a importância de sua posição. A conversa deveria girar em torno do Festival da Arpub. Malicioso como poucos, no entanto, torci o rumo da prosa até encontrar o porto que pretendia.

Jornal do Dia – Quando você assumiu a direção da Rádio Aperipê, o processo de aproximação com o artista sergipano já estava em andamento.

Léo Levi – Isso. Eu entrei lá por volta de 2007, na gestão de Patrick Tor4, quando fiquei responsável pela programação. Embora Patrick tenha sido responsável por essa aproximação inicial, o perfil da Rádio acabou sendo definido por mim e por Ricardo Gama, já que Patrick se dedicou mais ao exercício político inerente a suas funções. Isso facilitou muito o meu trabalho quando assumi a direção. Quando fui convidado para o cargo, agora em março, eu já sabia como as coisas caminhavam ali dentro, quem eram nossos funcionários, como cada funcionário funcionava… E esse conhecimento, num órgão público cheio de vícios, pode ser fundamental.

Jornal do Dia – Nesse período, a Aperipê acabou se transformando numa referência muito importante na cadeia produtiva da cultural local.

Léo Levi – Cara, a grande sacada foi dar espaço aos nossos músicos. Antes, a Aperipê conseguia veicular, estourando, cinco músicas por mês. Agora, veiculamos mais de quatrocentas músicas de artistas sergipanos mensalmente. Por isso a aproximação. Os artistas perceberam que teriam espaço em nossa programação. Eles começaram a enxergar a Aperipê como uma casa onde eles podiam ficar à vontade para divulgar shows, levar música, debater idéias e lançar propostas. Isso foi muito bom pra gente e, acredito, para todos os agentes da cultura sergipana.

Jornal do Dia – A partir de sua experiência profissional – tanto como diretor da rádio, quanto como produtor cultural – é possível falar em uma nova fase na música sergipana?

Léo Levi – Eu lembro de quando era garotão, no início da década de 90. Pra sair um disco era um grito. Lembro que o lançamento do primeiro disco da Snooze foi uma coisa de outro mundo. O mesmo pode ser dito do lançamento de Joésia Ramos. Hoje, com tanta tecnologia, com essa coisa toda de internet, ficou tudo mais fácil. Isso refletiu naturalmente na produção local.
Agora, um pouco mais recentemente, lá pros anos 2000, aconteceu uma movimentação bem interessante aqui na cidade, a cena estava borbulhando. Eu lembro das pessoas empolgadas. “Agora vai! Agora vai!”.

Jornal do Dia – Parece que não foi…

Léo Levi – Parecia que ia acontecer, mas deu uma brecada, infelizmente…

Jornal do Dia – Os meios de comunicação sempre foram muito negligentes, e não se assumiam como um elo dessa cadeia, né?

Léo Levi – A divulgação era muito informal, baseada em zines e listas de discussões virtuais. Mesmo a Aperipê, uma rádio pública, permanecia indiferente, era uma rádio morta. Faltava uma válvula de escape pra coisa de fato acontecer.

Jornal do Dia – Por outra lado, no entanto, parece que o artista sergipano também reclama muito e se nega a encarar a música como uma profissão. Tem muita gente que identifica o artista local como uma cara chorão.

Léo Levi – Rapaz… Eu acho que não vou responder isso, não (sorrindo).

Jornal do Dia – Pode falar, eu prometo que não conto a ninguém…

Léo Levi – Eu acho o artista sergipano muito chorão. Tem uma gurizada que encara a atividade com muita seriedade, que está dando um gás, mas a gente ainda percebe em certa parcela da classe artística um certo comodismo. Eles acham que o governo, ou a Funcaju, ou sei lá o quê, tem obrigação de bancar o trabalho preguiçoso que fazem. Eu acho que isso atrapalha o desenvolvimento da cena, na medida em que algumas bandas que trabalham de verdade acabam sofrendo, sendo apontadas como pupilo do governo, coisa e tal.

Jornal do Dia – Você está se referindo ao “caso NaurÊa”?

Léo Levi – Pois é. Tem gente que prefere ficar se lamentando ao invés de ocupar os espaços existentes. Eles criticam a Naurêa, ficam falando essas besteiras, mas podiam trabalhar para conquistar o mesmo respaldo. Mas parece que é mais fácil fazer acusações.

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