quinta-feira, 3 de dezembro de 2009

Sessão Notívagos: Ferraro Trio + "SIMONAL – NINGUÉM SABE O DURO QUE DEI"

Próximo sábado, a partir das 23:59, no Cinemark do Shopping Jardins, em Aracaju, mais uma Sessão Notívagos, com a exibição do Filme "SIMONAL – NINGUÉM SABE O DURO QUE DEI" seguida de uma apresentação, no Hall do cinema, do grupo Ferraro Trio.

Ingressos à venda na bilheteria do cinema.

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Sobre o Ferraro Trio:

O Power trio instrumental sergipano foi concebido e pensado no início de 2008, mas posto em ação apenas no primeiro semestre de 2009, um ano depois da decisão coletiva de colocar em prática o gosto pela música negra, pelos grooves do funk e da soul music e pela música instrumental.

Formado por 3 músicos sergipanos que dividem os palcos e os estúdios com a Maria Scombona há alguns anos e cursam Licenciatura em Música na Universidade Federal de Sergipe, o Ferraro Trio é a consolidação de anos de amizade, trabalho coletivo e amadurecimento musical e pessoal, refletido no entrosamento do novo combo, que pretende tocar para um público amplo e variado, de jazzistas a rockers, além dos amantes da música negra em geral.

As principais influências são a soul music e os grooves funky das gravadoras Motown e Stax. Músicas próprias e temas desses artistas fazem parte do repertório do grupo, que tem a seguinte formação:

# Saulinho Ferreira: Guitarrista, compositor, arranjador, produtor e professor renomado em Aracaju há vários anos, ex-professor de Guitarra no Conservatório de Música de Sergipe. Toca na Maria Scombona desde 2005, trabalha com música instrumental e gospel, além de ter gravado diversos discos de artistas locais (Rubens Lisboa, Joésia Ramos, etc). Está preparando seu segundo disco solo e gravando o trabalho de estréia do grupo “Em 3”. É aluno de Música e professor de Percepção Musical no Curso de Extensão em Música (CEM) da UFS.

Prediletos: Robert Johnson, Ray Charles, John Scofield, Roben Ford, Jeff Beck, James Wheeler, Pat Metheny, Steve Ray Vaughan e Jimi Hendrix Experience.

# Robson Macaxeira: Baixista profissional há mais de 10 anos, estudou com Hugo Leonardo (Professor Doutor da Universidade Federal de Sergipe) e Emanuel Jorge (baixista e arranjador). Acompanhou diversos artistas sergipanos (Rubens Lisboa, Paulo Lobo, Ivan Reis, Alejandro Habib Quarteto, Banda Java, Alapada, etc), além de realizar gravações em estúdio e aulas particulares. Toca na Maria Scombona desde 2000 e com as bandas pop A Fábrica e Unique. É aluno de Música da UFS.

Prediletos: Marcus Miller, Jaco Pastorious, Larry Grahan/Sly, Jackson 5, Jamie Jamerson/Marvin Gaye, Rocco Prestia/Tower of Power, Jamiroquai e Jimi Hendrix Experience.

# Rafael Jr: Baterista há 15 anos e professor do instrumento há 10, foi aluno de Wallace Patriarca no Conservatório de Música de Sergipe de 1992 a 1995 e participou de diversos cursos e workshops com músicos renomados. Integrou a Orquestra Sinfônica de Sergipe de 1995 a 2002 e é membro da Banda do Corpo de Bombeiros desde 2003. Gravou diversos discos com a banda Snooze (rock) e acompanhou artistas locais como Nino Karva, Joésia Ramos, Alex Sant´anna, Patrícia Polayne, Ivan Reis e Alejandro Habib. Toca na Maria Scombona desde 1996 e atualmente integra a Orquestra Sinfônica da UFS (OSUFS) e a banda pop A Fábrica. É aluno de Música e professor de Teoria no Curso de Extensão em Música (CEM) da UFS.

Prediletos: Ringo/Beatles, Zigaboo Modeliste/The Meters, Steve Wonder, Maestro Moacir Santos, Clyde Stublefield/James Brown, Black Rio, Curtis Mayfield e Jimi Hendrix Experience.

Contatos: 8817-2488 (Rafael Jr.) ou 9995-8069 (Robson)

Download:

http://www.4shared.com/file/123589085/155542cc/Ferraro_Trio.html

http://www.ladonorte.net/netlabel/net-ferraro.html

Matéria no Jornal "O Dia":
http://spleencharutos.wordpress.com/

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Sobre o filme:

SIMONAL – NINGUÉM SABE O DURO QUE DEI

Um filme de CLAUDIO MANOEL, MICAEL LANGER E CALVITO LEAL

Festival do Rio 2008
Hors Concours

13º Festival É Tudo Verdade
Menção Honrosa

I Festival Paulínia de Cinema
Melhor Documentário – Juri Oficial e Juri Popular

Selecionado para os festivais:
Festival de Cinema do Amazonas
Cine BH
Mostra de Documentários de Maceió
Festival de Aruanda
Cinemúsica
V Panorama Internacional Coisa de Cinema
V Festival de Cinema de Arte de Salvador
V Festival de Verão

“Faz justiça ao artista sem fugir da polêmica que derrubou o homem.”
“Revelador para as gerações que só ouviram falar de seu sucesso.”
“Suas apresentações são provas convincentes de seu poder de mover as massas com enorme carisma.”
“Grandes atuações no palco em raras imagens de arquivo.”
- O Estado de S.Paulo
...

“É o primeiro olhar do cinema sobre esse homem.”
- Folha de S.Paulo
...

“Gente Boa não é o Bonequinho, mas viu o filme e aplaude de pé.”
- O Globo
...

“Montagem esperta e moderna, depoimentos contundentes.”
“Imagens de arquivo que mostram o contraste da grandiosidade do cantos nos anos 60 versus a decadência nos últimos dias.”
“Honesto e bem trabalhado tributo a um artista que experimentou tanto a doçura da fama como o amargo do ostracismo social.”
“Um filme essencial, atraente e contundente que resgata a memória de uma figura que não deveria ter sido esquecida.”
Cineclick


SINOPSE REDUZIDA

História da ascensão e queda de Wilson Simonal (1939-2000), cantor que conseguiu status de estrela numa época em que no Brasil isso era raridade para artistas negros

SINOPSE

Numa época de talentos eternos e revolucionários, Wilson Simonal brilhou como ninguém e inovou como poucos. Juntando qualidade, carisma, simpatia, suingue, charme, sensualidade e muito talento, ele se tornou a sensação do Brasil e ainda conquistou o público internacional. De repente tudo acabou. Boatos, acusações, mistérios, patrulhas e perseguições. O que aconteceu com Wilson Simonal?

“Simonal - Ninguém sabe o duro que dei” traça a trajetória impressionante do ex-cabo de exército, que reinou soberano e acabou condenado ao ostracismo por um delito que jurava inocência. Através de depoimentos de amigos, inimigos e, principalmente, de imagens das exuberantes performances do grande artista, o filme mostra também as respostas que nunca apareceram. Simonal era informante da ditadura? Era favorável aos militantes? Ou seu maior crime foi ser negro, milionário, símbolo sexual num país e numa época em que existia muito racismo?

ENTREVISTAS

Diretores

Claudio Manoel foi, em 1978, um dos fundadores do Casseta Popular, tablóide feito por estudantes universitários, que ajudou a renovar o humor brasileiro na década seguinte. Junto com os amigos da publicação e com integrantes do jornal O Planeta Diário, ele montou ainda nos anos 80 o Casseta & Planeta, grupo multimídia que, além de produzir um programa semanal de televisão com uma das maiores audiências no Brasil, gravou discos de sucesso, produziu programas de rádio, filmes, tele-piadas, jogos em CD-Rom, livros de humor, e editou várias revistas – inclusive em quadrinhos. Simonal – Ninguém Sabe o Duro que Dei é sua estreia na direção cinematográfica.

Em que momento o Simonal apareceu em sua vida?

Foi quando eu era moleque. O Simonal estava no auge – era o fim dos anos 60, começo dos 70. Eu tinha por volta de 10 anos de idade e não ia a shows, mas via TV e conhecia os hits dele. Lembro da presença do Simonal como o artista mais popular da época – havia até aquele mito de que ele havia regido uma multidão no Maracanãzinho. Depois, teve todo aquele processo que ele sofreu, mas aí eu já estava entrando para a universidade e então perdi todo o contato – se o ambiente universitário daquela época não aceitava Nelson Rodrigues, que dirá Simonal! Ele não era o cara que tinha simplesmente caído no ostracismo, ele foi vitima de uma verdadeira sovietização – não apenas saiu de moda, mas foi retirado dos verbetes! Bom, mas aí os anos se passaram e um dia eu estava lendo o livro Noites Tropicais, do Nelson Motta, e havia um capítulo bem interessante sobre o Simonal. Ali, deu para ver bem como, ao longo dos anos, aquele troço todo havia sido mal contado pela História. A imagem era a de um cara que fazia um sucesso estrondoso e, que, nas horas vagas, era delator. Uma coisa muito doida.

E como foi que cresceu a idéia de fazer um documentário?

Bem, conversa vai, conversa vem, eu comecei a fazer uma pesquisa de reportagens e de imagens ajudado por um amigo – fiz visitas à Cinemateca de São Paulo e à TV Record e achei muita coisa impressionante. Depois que eu dei uma entrevista dizendo que pensava em talvez fazer um filme e logo em seguida fui procurado pela Sandra, a segunda mulher do Simonal, que era uma espécie de mantenedora da sua memória e que também me mostrou muito material. Daí em diante, fui equacionar os custos de produção – eu nunca tinha feito um filme –, montei uma demo e fui rodar bolsinha atrás de patrocínios. O que não deu em nada, já que os prováveis financiadores ou não conheciam o Simonal (e não se interessavam por ele) ou conheciam – e se interessavam menos ainda. Tentei uma, duas, três, 10, 15 vezes. Era mais difícil do que eu pensava – parecia que eu estava fazendo algo sobre o Comando Vermelho ou o PCC! Aí fiquei mordido em meus brios, tive uma conversa com a minha família, e resolvi gastar do meu mesmo para fazer o filme. Gravei alguns depoimentos nas férias, passei uns dois verões trabalhando, mas a coisa era bem difícil de prosseguir. Então apareceram o Calvito e o Micael.

E como foi daí em diante?

Como não tínhamos um texto base, resolvemos então ver o material para achar a escrita do filme. Rolou muita discussão entre os três até que todos se convencessem de um meio do caminho. Acho que isso deu ao filme algumas sutilezas e camadas. Conseguimos escapar das ciladas do dramalhão, da tomada de posição e do maniqueísmo. O filme ficou como o próprio Simonal – pop e na contramão. A gente conseguiu não dar uma opinião, a gente joga o espectador para lá e para cá. Tem a constatação de um cara que foi quase como um ser divinal, e depois tem a sua desconstrução. Isso foi para mostrar que todo mundo é humano, nem anjo nem demônio. E ainda tem o absurdo do castigo que o cara sofreu... A pena dada pela sociedade brasileira foi maior que a por homicídio. Tinha gente que dizia: “o facínora do Wilson Simonal ainda encontra lugares que o acolham”. A crueldade da punição foi exagerada. O tempo tem que passar por cima de todas as coisas, mas com o Simonal essa máxima não valeu.

E, para você, qual o Simonal que sai desse filme?

Acho que dele saiu o Simonal artista, o que eu acho justo, já que por aí tem muito artista canalha, mau caráter, que está sendo consumido. Saiu um Simonal mais humano, com falhas, com escolhas certas e erradas. E o filme também traz uma discussão sobre a intolerância da época da ditadura, aquela de que o Ziraldo [jornalista do Pasquim] fala que foi um produto das circunstâncias. Tem um pensamento falso, de que aquela era uma luta de democratas contra autoritários – só que os dois lados tinham projetos autoritários! O pluralismo era algo liberal, de direita, ou como algo dos frouxos que estavam dando mole pros comunistas. Quem viveu na universidade viu isso – esse tipo de Fla x Flu que torna a sociedade mais imbecil. Esse é um pano de fundo relevante do filme. Para mim, o Simonal é aquele cara que estava no meio do tiroteio, numa época em que não se poderia dar mole pra Kojak.

Micael Langer cursou Rádio e TV e já trabalhou como assistente de correspondente no The New York Times no Rio de Janeiro. Desde 2003, trabalha como produtor, roteirista, diretor e pesquisador em curtas-metragens, vídeos institucionais, filmes publicitários e DVDs.

Calvito Leal é formado em Publicidade e Criação na Universidade Mackenzie em São Paulo. Trabalhou como assistente de fotografia still, artista de composição digital para filmes publicitários e assistente de direção em diversos comerciais e longas-metragens nacionais e internacionais. Simonal - Ninguém Sabe o Duro que Dei marca suaestréia na direção de filmes. Calvito hoje dirige programas de televisão para canais como Fashion TV e Multishow e é sócio-fundador da Barry Nice, produtora de conteúdo audiovisual.

Como foi que vocês dois entraram no filme?

Calvito – Eu fiquei conhecendo melhor a história do Simonal a partir de um especial de TV. E depois disse para mim mesmo: Não é possível que ninguém esteja contando essa história! Logo em seguida, conheci a Bárbara, mulher do Max de Castro [filho de Simonal] e ela me disse que o Claudio Manoel estava fazendo um filme sobre ele. Resolvi então ligar para o Claudio para saber qual era o foco do seu documentário. Marcamos uma reunião e ele disse que o projeto estava parado há um tempo e sugeriu que a gente unisse forças para retomá-lo. Nós resolvemos ali começar um novo projeto e fomos catar mais imagens de arquivo. Mas um ponto fundamental para a gente era ir atrás do contador [Raphael Viviani, a quem Simonal era acusado de mandar dar uma surra, episódio que deflagrou todo o processo de degradação de sua imagem pública].

Micael – Esse depoimento do contador era o que a gente achava que ia despertar o interesse de uma geração para ir ver o filme – elucidar o que realmente aconteceu com o Simonal e como a coisa chegou àquele ponto. Quando a gente olhava de fora para a história logo via que tinha um buraco. Você tinha um episódio policial, e daqui a pouco você via que a coisa tinha se tornado política – logo, tudo foi crescendo de uma forma descontrolada. E nunca ficou muito claro para a gente o que fez uma coisa virar a outra. A gente contratou um detetive para ir atrás de algumas pessoas-chave (o promotor do caso, os detetives do DOPS, o motorista do Simonal) e, por diversas razões, e o único que ele encontrou foi o contador – justamente aquele que a gente mais queria encontrar. Quando fomos a casa dele, o Calvito ficou dentro da van com a câmera e eu fui lá, bater à porta, com um microfone de lapela sem fio. O argumento que convenceu o Viviani a falar com a gente foi a de que ele poderia se defender da acusação de que estaria roubando dinheiro da firma. Nossa primeira impressão que a gente teve é de que não só a família do Simonal foi destruída por esse acontecimento – a do Viviani sofre muito até hoje.

Calvito – O Viviani mudou a história do Simonal assim como ele mudou a nossa história também. A gente estava indo com um filme na cabeça e, depois que encontrou ele, a gente teve que parar para conversar. A entrevista dele foi a última a ser feita. Na hora, deu aquela coisa: Peraí, gente, temos um furo! E aí a gente resolveu mexer no material para entender a história que estava contando. E uma surpresa muito agradável foi que, quando estávamos começando a editar o depoimento do Viviani, nós conseguimos achar o processo criminal do Simonal – e ele estava a uma semana de ser destruído. A gente chegou a entrar com um scanner dentro do tribunal para poder copiá-lo!

O filme recorre bastante à animação com fotos. Qual foi a intenção com isso?

Calvito – A ideia era tornar o filme o mais pop possível, deixá-lo agregador. O documentário já é, por si só, um formato cinematográfico complicado, o público já é naturalmente avesso a ele. A animação era muito importante para a gente, porque trazia o elemento pop e transportava um pouco para aquela época, os anos 60, aquela coisa psicodélica, além de funcionar como respiro. Porque você tinha que ter lugar para música no filme – e recorrer a uma animação bacana era bem melhor do que deixar o som rolar somente com uma foto estática de fundo.

Micael – A animação entrou porque nós três sempre tivemos a preocupação era fazer um filme para todo mundo, não um para um circuito fechado de cinéfilos. Nós viemos de televisão e da publicidade, tínhamos essa visão que é destoante daquela da parcela mais elitista do mercado cinematográfico.

Quais foram as descobertas na garimpagem de material de arquivo?

Micael – A gente conseguiu, por exemplo, um longa do Domingos de Oliveira que se chama É Simonal [de 1970]. É um filme que não fez nenhum sucesso, mas que para a gente tem uma importância fundamental porque, pra nossa sorte, é um filme biográfico. A grande maioria das imagens coloridas do filme a gente tirou dele. E houve surpresas como a cena do palhaço negro num programa de TV, algo sobre que ninguém tinha comentado – você nunca imaginaria que, em 1968, alguém faria um número com aquele teor racial, com aquela intensidade. A primeira vez em que a gente viu essas cenas, a gente caiu da cadeira. Muita coisa boa acabou ficando de fora do filme, mas deve entrar no DVD. Esse manancial das imagens de arquivo é maravilhoso, mesmo sendo restrito.

Qual era a visão que vocês tinham do Simonal antes de fazer o filme?

Micael – Pra mim, o Simonal era só um nome mesmo, a nossa geração não teve acesso a ele. Quando eu falei para o meu pai que ia fazer um filme sobre ele, a primeira reação que ele teve foi: Ah, o dedo-duro? Duas coisas nos surpreenderam. Uma foi a qualidade artística dele e o tamanho da carreira dele, o ponto a que ele chegou – ele foi o artista mais popular do Brasil, isso não é pouca coisa. E segundo, a complexidade de toda a questão política. Uma coisa é você saber que ele é um dedo-duro, outra é tentar descobrir uma história nesse emaranhado de acontecimentos e ficções. É um negócio kafkiano.

Calvito – Acho engraçado como a história do Simonal é um reflexo do Brasil, esse oba-oba e depois toma-toma, essa coisa de construção e destruição, a efemeridade da fama num país sem memória. Um cara com o potencial dele, a exposição que ele teve, e de repente ser apagado... Se você perguntar num bar, as pessoas não vão nem saber quem foi o Simonal. E, além disso, tem o fato de ele ter sido a personificação desse jeitinho brasileiro, desse elevador entre o andar de cima e o andar de baixo. Foi uma ascensão meio malandra. É lógico que com seu próprio talento, mas não só com o talento. É também com o papo. Isso é algo que provocava uma identificação bem maior com o brasileiro do que o discurso da galera engajada.

Micael – A gente tem uma esperança de que esse filme vá suscitar o debate. O Simonal se deu a própria rasteira. O problema é que as pessoas não estenderam a mão para ele levantar. O que se poderia esperar de uma apuração mais profunda não aconteceu. As pessoas não se preocuparam em saber se aquilo procedia ou não.

Qual a maior preocupação ao fazer um filme sobre uma figura tão singular quanto o Simonal?

Calvito – A gente sabia bem que o cara era uma simpatia, que tinha um carisma e tal, mas se a gente não conseguisse convencer disso a quem está ouvindo falar do cara pela primeira vez... perderíamos o jogo de cara! Era importante mostrar o máximo de imagens de arquivo. Não só do cara cantando, mas do cara atuando como performer. Aquela coisa da brincadeira... você começa a entender o cara por causa isso. Você pega uma simpatia por ele. E aí quando chega à história da Copa de 70, você entende que só aquele cara poderia ter feito aquilo! Se a gente não tivesse isso, aí a gente ia ter feito um filme de resgate para meia dúzia de pessoas. Entender o cara é fundamental para entender a dimensão da queda.

O SIMONAL MUSICAL

Em comum, havia o fato de terem começado carreira sob os auspícios do agitador Carlos Imperial e um passado de ligações com a bossa nova – de repente, quando se chega ao final dos anos 60, lá estão os dois, Wilson Simonal e Roberto Carlos, como os donos do pedaço, vendendo discos aos milhões e lotando estádios como nenhum outro artista da música brasileira. Mas se Roberto acabaria dando a semente para a formação de um movimento de rock, eminentemente branco, no país, Simonal foi o capítulo 1 de uma espécie de black music com sabor tropical. Tim Maia, Cassiano, Banda Black Rio, Sandra de Sá, Cláudio Zoli, Ed Motta, Paula Lima, todo mundo passou pela porta aberta do cantor de invejável inflexão jazzística (Sarah Vaughan que o diga!) e incomparável ginga. A série de LPs Alegria, Alegria, iniciada por Simonal em 1967, apresentou uma das criações de Imperial, a Pilantragem, que o cantor representou melhor do que ninguém. Um passo além do samba esquema novo de Jorge Ben, rumo às paradas de sucesso e às pistas quentes das boates. A dance music brazuca por excelência.

Basta ouvir a gravação de “Nem Vem que Não Tem” (composição de Carlos Imperial, que até Brigitte Bardot cantou depois, em francês) para entender porque Simonal era o cara: malandragem total na inflexão meio rap dos versos, suingando no balanço do piano de Cezar Mariano (o futuro César Camargo Mariano, então líder do grupo Som Três) e de uma base de baixo, bateria, guitarra e sopros bem próxima daquela soul music de sucesso da época, de Otis Redding e Aretha Franklin. Uma combinação tão matadora (ah, e não dá para esquecer das onipresentes palminhas, dando um clima de festa sem fim) que funcionou com uma gama de composições tão ampla que era capaz de abranger a folclórica “Escravos de Jô”, o “Sá Marina” (de Tibério Gaspar e Antônio Adolfo), o “País Tropical” (de Jorge Ben, à qual Simonal deu sua forma definitiva), o “Remelexo” (de Caetano Veloso) e a marchinha “Mamãe Eu Quero”. Tal era o talento e o carisma do cantor que, se quisesse, até a “Marcha Fúnebre” ele poderia tentar usar para levantar o povo no salão.

Os sucessos de Simonal na fase Pilantragem vieram aos montes: “Meu Limão, Meu Limoeiro”, “Vesti Azul” (de outro artífice do gênero, Nonato Buzar), “Mamãe Passou Açúcar Ni Mim” (outra de Imperial) e “Mustang Cor de Sangue” (dos irmãos Marcos e Paulo Sérgio Valle). E para quem o acusava de só saber fazer dançar, ele podia sacar do bolso o “Tributo a Martin Luther King”, uma pungente tomada de posição na luta contra a discriminação racial, cuja composição ele próprio assinou com Ronaldo Bôscoli. Mas saber fazer dançar, divertir a massa era algo que o cantor fazia como ninguém – não por acaso, hoje em dia quando os jovens DJs jogam na pista alguma das faixas acima citadas, não tem quem fique parado. Wilson Simonal é aquele tio cheio de suingue, que recentemente ganhou até um disco de remixes, Rewind, feitos por nomes acima de qualquer suspeita, como Instituto e os DJs Hum e Patife.

Mas... e se alguém vem perguntar pela bossa, pelo barquinho, pelo violão, pela sofisticação jazzística e pela música civilizada? Não tem problema: os LPs Tem Algo Mais (de estreia, em 1963) e A Nova Dimensão do Samba (1964) podem satisfazer os puristas, com muito Tom Jobim (“Inútil Paisagem”, “Samba do Avião”, “Ela é Carioca”, “Garota de Ipanema”), Menescal e Bôscoli (“Ela Vai, Ela Vem”, “Telefone”), Johnny Alf (“Rapaz de Bem”) e Baden Powell/Vinicius (“Consolação”). Todos servidos com um molho especial, cuja receita ninguém mais conseguiu reproduzir. É isso aí: os serviços prestados pelo soldado Wilson Simonal à música brasileira são grandes, agora sabemos bem – a hora, então, é de ir atrás dos seus discos e ouvir, ouvir, ouvir. E dançar.



PRODUTORA

A TvZERO é uma produtora fundada em 1991 com o objetivo de investir na renovação da linguagem audiovisual, levando ao grande público obras de relevância artística e cultural. Inicialmente focada na produção de documentários e videos musicais, ao longo dos anos a TvZERO incorporou diversos segmentos dentre suas atividades e hoje concentra-se exclusivamente na produção de conteúdo para cinema, tv e novas mídias. A produtora transformou-se em um núcleo de realização, integrando profissionais de múltiplas vertentes: cineastas, documentaristas, artistas gráficos, músicos e publicitários. Dentre suas principais produções recentes estão os documentários de longa-metragem A Pessoa é para o que nasce, de Roberto Berliner e LINGUA-Vidas em Português, de Victor Lopes. A TvZERO também produziu os premiados curta-metragens Bala Perdida, Onde a coruja dorme e A pessoa é para o que nasce, que deu origem ao longa homônimo lançado em 2005. A produtora se destaca ainda pela realização de programas para televisão como a série Som da rua, veiculada na TVE e na Rede Globo desde 1997, além de programas para canais como o History Channel, A&E Entertainment, Tv Cultura, SBT, dentre vários. No meio musical, realizou diversos vídeos para bandas como Paralamas do Sucesso, Los Hermanos, Skank, Lobão, Pedro Luis, Pato Fu, Ana Carolina, Leoni, Bezerra da Silva dentre outros.

FICHA TÉCNICA

Direção: Claudio Manoel, Micael Langer e Calvito Leal
Produtores Associados: Raul Schmidt e Roberto Berliner
Produção Executiva: Manfredo G. Barretto e Rodrigo Letier
Coordenadora de Produção: Lorena Bondarovsky
Direção de Fotografia: Gustavo Hadba
Direção de Arte: Eduardo Souza e Rodrigo Lima (Pavê – ex-Apavoramento)
Trilha sonora original: Berna Ceppas
Montagem: Pedro Duran e Karen Akerman
Produção: TvZERO e Zohar
Co-produção: Globo Filmes
Distribuição: MovieMobz

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