domingo, 25 de abril de 2010

# 144 - 23/04/2010

O programa de rock da última sexta foi focado na série de shows que aconteceram em Recife nos dias 16, 17 e 20 de abril de 2010. Abrindo o programa, 5 faixas extraídas do célebre disco "Rust In Peace", do Megadeth, cuja turnê comemorativa de 20 anos passou pela capital pernambucana na terça, dia 20. Na sequencia dois blocos com novidades: Faixas dos novos trabalhos dos gaúchos da Pata de elefante, do Mustang (RJ) e da sergipana Friendship (Ska Made In Sergipe, surpreendente). No campo internacional, os novos singles que marcam a volta do Blur e do Atari Teenage Riot, além de uma faixa extraída do novo disco (duplo) dos veteranos da cena Stoner/doom metal britânica Cathedral. A segunda metade do programa foi inteiramente dedicada a bandas que se apresentaram na décima oitava edição do Festival Abril pro rock, dentre elas a Plástico Lunar (terceira banda sergipana a pisar naquele tradicional palco, depois do lacertae e da Rockassetes), Agent Orange, Varukers, Ratos de Porão e o legendário DJ e produtor norte-americano Afrika Bambaataa.



Megadeth – “Rust In Peace” 20 Anos

• Holy wars – The punishment due (demo)
• Hangar 18
• Rust In peace/polaris (demo)
• Tornado of souls
• Lucretia

Friendship – Don´t Have
Mustang – Osíris
Pata de Elefante – Diga-me com quem andas que eu te direi se vou junto

Blur – Fool´s Day
Atari Teenage Riot – Activate
Cathedral – Funeral of Dreans

Agent Orange – Bloodstains (original version)
The Varukers – Killing myself to live
Ratos de Porão – Otário involuntário

Claustrofobia – Tiro de meta
Eminence – The God of all mistakes
Wado – cordão de isolamento
Mundo Livre S/A – Senhora encrenca

Afrika Bambaataa – Planet rock
Plastique Noir – Those Who walk by the night (My Lonely child remix)

Camarones Orquestra Guitarrística – Sweet Família Adans
Nevilton – pressuposto
Plástico Lunar – quarto azul

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Um dia de coronel - Prefeito do Recife ameaça jornalista com revólver e diz ter agido em defesa da mulher
por Dina Duarte e Angelica Tasso
Fonte: Revista Veja
18/08/1999

O prefeito do Recife, Roberto Magalhães, é um homem de aparência circunspecta. Professor de direito, ex-governador de Pernambuco, duas vezes deputado federal, sempre cultivou um perfil diferente do estereótipo que marcou alguns políticos da velha aristocracia nordestina, dados a rompantes e bravatas na hora de resolver questões políticas e pessoais. Na última segunda-feira, Magalhães teve seu dia de coronel. De revólver na cintura, invadiu a redação do Jornal do Commercio e postou-se diante do colunista social Orismar Rodrigues. "Quantos anos você tem e quantos mais quer viver?", intimou-o. "Ainda muitos, senhor", balbuciou o jornalista. "Pois então trate de me respeitar", retrucou o prefeito, com o coldre à mostra. "Eu mato aquele que me desonrar." Diante da rápida intervenção de outros jornalistas, Magalhães foi embora. Orismar respirou aliviado. "Levei o maior susto", conta ele. "Pensei que tinha voltado à época do cangaço."

A cena protagonizada pelo prefeito foi o ponto mais dramático de uma polêmica que agitou a capital pernambucana nas últimas duas semanas. Na origem de tudo está a denúncia de que a prefeitura do Recife teria censurado uma obra do artista plástico pernambucano Francisco Brennand, um dos mais conhecidos escultores brasileiros. Brennand tinha sido encarregado de projetar um monumento em comemoração aos 500 anos do Brasil. A obra seria paga pela prefeitura, em parceria com o governo do Estado, o Ministério da Cultura e a Universidade Federal de Pernambuco. Ficaria exposta no cais do Porto do Recife. O escultor apresentou o projeto seis meses atrás. Era um totem com a aparência de um foguete e cerca de 30 metros de altura, feito de cerâmica e cobre. Há duas semanas, Brennand foi procurado pela comissão encarregada de executar a obra. Um dos responsáveis, o arquiteto Reginaldo Esteves, comunicou-lhe que o projeto tinha sido modificado. Sem dizer quem eram os autores da mudança, Esteves mostrou a Brennand a maquete de um novo monumento, em que as formas do totem original eram inteiramente descaracterizadas e ganhavam a aparência de um minarete árabe. Ao ouvir a notícia, Brennand ficou revoltado. Em seguida, mandou uma carta ao prefeito, com cópias para os jornais locais, na qual anunciava que estava desistindo do projeto. "Não tenho mais idade para ser censurado", explicou. "Tenho um nome a zelar e não vou assinar uma obra que não é minha."

Brennand conta que em momento algum lhe foi explicado o motivo da censura. Até agora, nenhuma autoridade assumiu a autoria do veto. Rapidamente, porém, uma versão apimentada tomou conta das páginas dos jornais pernambucanos. Em pequenas notas e comentários, dizia-se que a obra fora modificada por ordem da primeira-dama do município, Jane Magalhães. Ela teria achado a forma do totem original excessivamente fálica, uma alusão explícita ao órgão sexual masculino. Incomodado com essas insinuações, Roberto Magalhães mandou publicar uma nota oficial nos jornais com um alerta às pessoas que criticavam sua mulher: "Considero a honra pessoal como um valor maior e não vou assistir a este cerco que me é feito sem me defender e reagir", escreveu. Dois dias depois, Orismar Rodrigues insinuou em sua coluna social que o veto ao monumento de Brennand tinha partido de alguém que nada entendia de arte. Orismar não citou nomes nem fez referência direta à mulher do prefeito. Mas, segundo a versão corrente no Recife, foi exatamente isso que o prefeito entendeu nas entrelinhas. E decidiu tirar satisfações de revólver na cintura. "Orismar teve o azar de ter sido o primeiro a não levar a sério meu comunicado", justificou-se o prefeito, numa entrevista a VEJA na última quinta-feira. "Eu havia proibido de mexerem com a minha honra e falarem de minha mulher."

Bons costumes – Casada com Roberto Magalhães há trinta anos, Jane Magalhães é uma mulher religiosa, de personalidade forte e ativa defensora dos bons costumes. Advogada e professora licenciada da Universidade Federal de Pernambuco, só admite ser chamada de "doutora Jane", até mesmo pelo marido. Como presidente da Legião Assistencial do Recife, LAR, entidade municipal de assistência social, ela tem, entre outras funções, a responsabilidade de organizar o Baile Municipal do Carnaval pernambucano. No comando da festa, proibiu a execução da música Xô Satanás, do grupo baiano Asa de Águia, segundo notícias publicadas na ocasião pelos jornais locais. Em outra deliberação, também amplamente noticiada em Pernambuco, Jane vetou os biquínis e o desfile de modelos menores de 18 anos no concurso de Rainha do Recife, patrocinado pela prefeitura.

Outro episódio, mais pitoresco, teria ocorrido em 1983, quando Roberto Magalhães governava Pernambuco, segundo uma história que já se incorporou ao folclore político local. Ao participar de um almoço no palácio, o então secretário de governo Syleno Ribeiro, amigo de juventude do governador, teria comentado que o sapoti, fruta típica da Região Nordeste, servido como sobremesa, era "uma dádiva de Deus". A primeira-dama, que também participava do almoço, teria se levantado e acusado o secretário de cometer uma blasfêmia ao invocar em vão o santo nome do Senhor. Em seguida, teria expulsado-o da mesa. Até hoje, Syleno nunca confirmou nem desmentiu o episódio. Da mesma forma, nunca mais freqüentou a casa dos Magalhães. "Reservo-me o direito de não fazer comentários sobre aquela senhora", disse ele a VEJA na última quarta-feira.

Apontada como pivô da crise envolvendo o prefeito na censura a Francisco Brennand, na semana passada a primeira-dama não deu declarações sobre o assunto. Magalhães, que não tem porte legal de arma, se diz arrependido de ter mostrado o revólver ao jornalista, mas avisa que não aceitará novas críticas e provocações a respeito do episódio. "Minha mulher é vítima de preconceito religioso", afirma. "Para defendê-la, faria tudo de novo. Apenas deixaria o revólver em casa."

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Entre as lendas urbanas mais curiosas do Nordeste está sem dúvida a da Perna Cabeluda, uma entidade sobrenatural que teria assombrado as ruas do Recife durante a década de 1970. Aparecendo onde menos se esperava (e por falar nisso, onde é que alguém esperaria que aparecesse?), esta criatura era o oposto-simétrico do Saci Pererê. Ou seja, era uma perna-sem-pessoa, em vez de uma pessoa-sem-perna. Surgia pulando (eu já ia dizer “pulando num pé só”), atacava os transeuntes, dava chute em todo mundo, e depois fugia pulando.
Foi cantada em verso e em prosa. Apareceu como protagonista em folhetos de cordel como A Perna Cabeluda de Tiúma e São Lourenço de José Soares, inclusive um em que ela enfrentava outra criatura mítica: A Véia debaixo da cama e a Perna Cabeluda de José Costa Leite. Apareceu também em um vídeo de Marcelo Gomes, A Perna Cabeluda (1995). Figurou em shows de Chico Science & Nação Zumbi: Chico dançava com uma perna de pano estufada, e depois a jogava no meio da platéia. Eu próprio a utilizei como tema num curta para TV de 40 minutos para o programa Viva Pernambuco, em 1996, dirigido por Romero de Andrade Lima e Cláudio Assis.
A Perna Cabeluda é um bom exemplo de como surgem essas criaturas folclóricas. Uma vez eu estava em Recife conversando com o escritor Raimundo Carrero, que me deu uma versão para o surgimento dessa lenda. Ele e Jota Ferreira tinham um programa de rádio (pelo que me lembro ele era redator e Jota Ferreira o apresentador, mas posso estar enganado). E uma noite, entre uma música e outra deram uma notinha humorística, mais ou menos assim: “Pois é, meu amigo, a vida no Recife não anda nada fácil!… Chega agora à nossa redação a notícia de que Fulano de Tal, guarda-noturno, chegou em casa depois de uma jornada de trabalho e deitou-se para dormir ao lado de sua esposa. Ouviu um barulho, e ao olhar para baixo viu uma perna cabeluda embaixo da cama!”
A intenção era sugerir, com a imagem da perna cabeluda, a presença do “urso”, do amante da esposa. A nota provocou muitos risos, e no dia seguinte, ele voltaram à carga. “E atenção, minha gente… Sicrano de Tal, morador da Imbiribeira, chegou em casa de viagem, e para sua surpresa viu a perna cabeluda fugindo pela porta da cozinha!” E aí não parou mais. Usada inicialmente como uma sinédoque visual (a parte pelo todo), a perna acabou ganhando vida própria.
Isto não quer dizer que qualquer coisa inventada vire automaticamente uma lenda. Neste caso específico virou porque a imagem resultante ficou ao mesmo tempo absurda e engraçada, ou pelo menos assim pareceu à galera onde a história começou a circular (ouvintes de rádio dos subúrbios recifenses). Imagens e figuras semelhantes são lançadas diariamente no caldeirão cultural. É um processo aleatório. Umas pegam, outras não. “Cultura popular” talvez se defina por este aspecto aleatório, onde não se pesquisa, não se planeja, e as criações dão certo meio que por acaso.

>> MUNDO FANTASMO – por Bráulio Tavares
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Mundo Livre S/A - Release

A história do Mundo Livre S. A. começa no início dos anos 60, em Jaboatão dos Guararapes. Foi nessa cidade vizinha ao Recife que nasceu Fred Rodrigues Montenegro, hoje mais conhecido por “Zero Quatro”. Sua biografia dos tempos pré-música é a de qualquer criança de classe média da época. Ou seja, ele jogou futebol, ganhou um monte de irmãos, e cantou o hino nacional no pátio da escola, no caso o Colégio Militar, cujas marchas ainda hoje costuma cantar em noites de embriaguez.
Da infância e adolescência em Jaboatão, veio uma de suas futuras paixões: na vitrola da sala de estar, Jorge Ben já fazia o líder do Mundo Livre delirar com sua alquimia de samba, rhythm and blues, baião e o que mais viesse. Foi em Jaboatão, também (mais especificamente no bairro de Candeias), que, ainda um teenager, ele descobriu o poder dos palcos. A memória mostra nosso herói junto com os amigos numa churrascaria, assistindo ao show de uma banda terrível quando, de repente, foi convidado para tocar pela primeira vez numa guitarra de verdade. Mágica! Daí em diante, ter uma banda passou a ser uma obsessão…
Seu primeiro grupo de verdade foi o “Trapaça”. Estamos no início dos anos 80, época da explosão do punk brasileiro. A influência de bandas do ABC paulista como “Cólera”, “Olho Seco” e “Inocentes”, provocou o fim precoce do Trapaça e o surgimento de sua segunda banda, a “Serviço Sujo”. Gritando toda a paranóia em letras inspiradas no 1984 de George Orwell, Fred desfilava alfinetes, coturnos, uma velha e surrada pasta 007 e camisas pretas com slogans do tipo “Abaixo a Poesia”. Desfilava, também, um novo codinome: surgia o “Rato”, um sujeito e um som muito à frente de uma Recife fascinada (uma minoria) e indiferente ou francamente hostil (o vasto rebanho).
O tédio dos anos 80 deixou a raiva do punk amadurecer, se transformar num cinismo calculado, e, assim, o “Serviço Sujo” deu lugar ao “Mundo Livre S. A.”, um nome de clara inspiração Malcom Mclareana, destinado a ridicularizar a guerra fria revisitada da presidência Reagan e as engrenagens da indústria do disco. O “rato” dos primórdios do punk se transformou, então, em “Zero Quatro”, disfarce inspirado nos dois últimos algarismos de sua cédula de identidade.
No começo nada dava muito certo para o Mundo Livre. O equipamento não ajudava, o público não entendia, os shows em geral terminavam de maneira caótica. Recife parecia perdida no mapa da música Pop. Junto com dois dos seus cinco irmãos, o baixista Fábio Goró, e o baterista Tony Maresia, o band leader ia se convencendo cada vez mais de que tinha montado a banda certa no lugar errado.
Foi só no início da década de 90 que a má sorte começou a mudar: Zero encontrou, através de amigos comuns, Chico Science, Jorge Dü Peixe e vários outros futuros Nação Zumbi. No convívio com esses camaradas ajudou a construir o movimento musical mais importante do Brasil em longos e longos anos. O Mangue fincou uma parabólica na lama e transformou o Recife numa outra cidade, a “manguetown”. A partir daí, a história se acelerou e se tornou mais pública. Zero escreveu o primeiro manifesto do movimento e, com o Mundo Livre, amadureceu a sua peculiar mistura de samba e punk-rock, resumido na equação “Jorge Ben e Johnny Rotten no mesmo groove”.
Em 94 saiu o disco de estréia da banda, o clássico “Samba Esquema Noise”, considerado por boa parte da crítica “disco do ano” e “disco da geração 90″. Depois foi a vez do “Guentando a Ôia” ( 96 ) e “Carnaval na Obra” ( 98 ), também sucessos de crítica e de público, não obstante a absurdamente precária distribuição, que vem se refletindo em vendagens não condizentes com a popularidade do grupo.
Em 97, Zero co-escreveu o segundo manifesto Mangue, “Quanto Vale uma Vida?”, lançado logo depois do acidente de carro que vitimou Chico Science. A morte do companheiro malungo não arrefeceu os ânimos do Mundo Livre, que continuou se apresentando nos principais palcos brasileiros. Festivais e shows em Nova Iorque, Paris, Lisboa e na Cidade do México se encarregaram de espalhar os comunicados sonoros do subcomandante Zero Quatro e de seus liderados para o resto do planeta. “Por Pouco”, o quarto disco do Mundo Livre ganhou as lojas no segundo semestre do ano 2000. O título faz referência a esse eterno gozo interrompido que parece dominar a vida brasileira. É o trabalho supostamente mais comercial do grupo, na verdade, uma aula de política, onde os ajustes “comerciais” – a voz colocada em primeiro plano, por exemplo – servem muitas vezes para deixar transparentes aspectos mais subversivos – as letras detonando guerras, muros econômicos e intervenções “humanitárias”. “Por Pouco” ganhou o prêmio de melhor disco do ano da APCA (Associação Paulista dos Críticos de Arte). A balada “Meu Esquema” foi escolhida como tema do programa “Tudo de Bom”, da MTV, apresentado semanalmente de New York pela estrela Luana Piovani. A faixa também foi apontada por um batalhão de críticos – convidados pela revista Showbizz – como uma das três melhores músicas do ano 2000.
Em 2001, a banda teve destaque em importantes festivais, como o Abril Pro Rock (tocando em Recife e São Paulo), Porão do Rock (Headline da primeira noite, para cerca de 30 mil pessoas, em Brasília) FreeZone (Rio) e Free Jazz Project (São Paulo, fechando o evento no Tom Brasil) e Pernambuco Mix. Em 2003, o Mundo Livre S/A fez uma pequena turnê na Europa (Chiasso,Lugano,Paris) e em Nova Iorque (Lincoln Center Festival) e finalizou o quinto CD de sua carreira, “O Outro Mundo de Manuela Rosário”. Em 2004 recebeu o “Prêmio Dynamite de Música
Independente” por melhor disco de MPB.
O sexto disco, “Bebadogroove”, saiu em 2005, com ótima repercussão de toda a crítica, tanto que a banda recebeu convites pra vários festivais importantes, terminando por abrir dois shows da banda The Strokes (RIO e SAMPA) no Tim Festival, como principal atração nacional. Nesse mesmo ano a banda fez uma apresentação no Palácio do Planalto, quando recebeu das mãos do Presidente Lula e do ministro Gilberto Gil uma importante comenda, a Ordem do Mérito Cultural.
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Atari Teenage Riot é uma banda alemã de hardcore digital (também chamada de technocore) formada em 1992 por Alec Empire, Hanin Elias e Carl Crack. Posteriormente Nic Endo uniu-se a banda. Seu nascimento foi motivado principalmente por uma reação à crescente onda de bandas neonazistas no cenário da música eletrônica da Alemanha. Suas letras eram explicitamente politizadas e seus shows quase sempre acabavam em tumultos com a polícia.
Caos e desordem na música eletrônica - Altamente políticos, eles fundiram uma música eletrônica, barulhenta e com pitadas de techno com guitarras distorcidas, ideais anarquistas, anti-nazistas e vocais típicamente punk. Apesar de a sonoridade da banda ter sido rotulada por muito tempo como "eletrônica" o próprio Alec Empire dizia que não era um rótulo que o Atari Teenage Riot se encaixava pelo som da banda ser "barulhento demais".
Muitas vezes os lugares onde o Atari Teenage Riot tocava não suportavam tecnicamente as grandes distorções e o barulho feito pelo quarteto e muitos aparelhos simplesmente estouravam. Para Alec Empire o som do Atari Teenage Riot poderia ser chamado de "Riot Sound" (algo como som de revolta) e suas canções geravam sempre tumultos.
Em 1999, em Berlin (cidade natal da banda), houve um grande tumulto envolvendo centenas de fãs e a Polícia local. O grupo chegou inclusive a ser investigado pelo Verfassungschutz, uma repartição do serviço secreto alemão que monitora grupos que representam perigo para a sociedade. Toda a banda chegou a ser presa em outra apresentação em Berlin, por terem "incitado as pessoas à violência" durante uma passeata anti-nazista em 1° de maio. A banda estava tocando a canção "Revolution Action" em um caminhão estacionado no meio do evento quando de repente começou uma briga entre a polícia e os manifestantes, que totalizavam cerca de 30.000 pessoas.
De acordo com Alec Empire, "frontman" da banda, "houve um grande distúrbio, e era difícil cantar por causa do gás lacrimogêneo. As pessoas jogavam pedras e a situação saiu do controle. Os policiais atiraram pedras em nós e depois acabamos presos." Depois de poucas horas, porém, a banda foi libertada sem ter que pagar qualquer tipo de fiança.
O "fim" dos Atari Teenage Riot - Uma das últimas apresentações do ATR foi no Brixton Academy em Londres um dos shows mais extremos do grupo. Carl Crack teve um ataque de pânico durante o vôo para Londres, provavelmente devido ao seu envolvimento com drogas. Hanin Elias também teve problemas na turnê e a banda se encontrava em um estado psicológico deplorável.
Em 9 de setembro de 2001, Carl Crack acabou sofrendo uma overdose e morreu aos 30 anos de idade. Carl sempre teve muitos problemas psicológicos desde sua adolescência. Após a morte de Carl a banda não se reuniu de novo. Hanin Elias partiu para trabalhar em seu projeto solo, assim como Alec Empire e Nic Endo (esses dois últimos continuam trabalhando juntos).
Em Janeiro de 2010, foi anunciado que o Atari Teenage Riot iria se reunir para alguns shows e no começo de Março de 2010 Alec Empire lançou uma nova faixa do Atari Teenage Riot chamada "Activate" em sua página no site Soundcloud. É a primeira música com o novo integrante da banda o MC CX Kidtronik e foi gravada em 03 de Março de 2010 no Hellish Vortex Studios em Berlin.

Fonte: Wikipedia
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AFRIKA BAMBAATAA

Fonte – CD-Rom Bizz 20 Anos

BIOGRAFIA: Afrika Bambaataa (Nova York/EUA, 1958) entra, na adolescência, na gangue de rua Black Spades, no Bronx, Nova York - Em 74, a gangue se desfaz e ele funda a Zulu Nation, uma organização com atividades políticas e artísticas. Durante os anos 70, atua como DJ - Em 80, grava com o Cosmic Force (formado por membros da Zulu Nation) o single "Zulu Nation Throwdown Part One" - No ano seguinte, assina com o selo Tommy Boy. O primeiro lançamento pela gravadora, em 82, é "Jazzy Sensation", creditado ao Jazzy Five. A produção é de Bambaataa e Arthur Baker. Ainda nesse ano, sai "Planet Rock", single de Afrika Bambaataa e o Soul Sonic Force com produção de John Robie e Arthur Baker. Fundindo funk e música eletrônica, "Planet Rock" é um dos pioneiros do hip hop e um dos singles mais influentes de toda a dance music. Vende um milhão de cópias nos EUA e chega ao Top 60 na Inglaterra, além de valer a Bambaataa o título de "embaixador do hip hop" - O filme Beat Streel, de 83, traz Bambaataa cantando "Looking For The Perfect Beat". O single é sucesso nas paradas dance dos EUA e Inglaterra - "Renegades Of Funk" é o último lançamento pela Tommy Boy. O single entra no Top 30 britânico em 84. "Planet Rock", "Looking..." e "Renegades..." Farão parte do álbum Planet Rock, lançado pela Tommy Boy, em 86 - Assina com a Celluloid em 84 e lança com o Shango o disco Shango Funk Theology, co-produzido pelo baixista Bill Laswell. Em setembro desse ano, grava com James Brown -> o single "Unity (Part 1 - The Third Coming)", que entra no Top 50 britânico - "World Destruction", single de 85, reúne Bambaataa e John Lydon (PIL->). A composição de "Bam" e Laswell também é Top 50 na Inglaterra - Em dezembro de 85, reúne-se aos Artists United Against Apartheid (que inclui Peter Gabriel-> e Bono, do U2->) para a gravação de "Sun City", Top 40 nos EUA - Lança Beware, acompanhado pelo Family, em 86. Seu segundo disco com o Family, The light, tem participações de UB 40, Boy George->, Nona Hendrix e George Clinton ->, entre outros. "Reckless", com o UB 40, chega ao 17º posto na Inglaterra em 88 - Lança em 91, The Decade Of Darkness 1990-2000.
FRASES: "Fazíamos muito terror, mas conversávamos com alguns políticos, também" (sobre os Black Spades). "A Zulu Nation trabalha para a conscientização, mas também para o hip hop. Ela luta por liberdade, justiça, igualdade, conhecimento, compreensão, verdade e ciência. Deus, paz, amor e unidade são a mesma coisa". "Se continuarmos estragando o planeta que o Criador nos deu, traremos a destruição mundial, como eu disse em 84" (em 91).

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Afrika Bambaataa é o pseudônimo de Kevin Donovan (Bronx, Nova York, 19 de abril de 1957) é um DJ estado-unidense e líder da Zulu Nation, reconhecido como fundador oficial do Hip Hop.

Nasceu e foi criado no Bronx e, quando jovem, fazia parte de uma gangue chamada Black Spades (Espadas Negras, em português), mas viu que as brigas entre as gangues não levariam a lugar nenhum. Muitos dos membros originais da Zulu Nation também faziam parte da Black Spades, que era uma das maiores e mais temidas gangues de Nova York. Bambaataa se utilizou de muitas gravações já existentes de diferentes tipos de música para criar Raps. Usando sons, que iam desde James Brown (o pai do Funk) até o som eletrônico da música “Trans-Europe Express” (da banda européia Kraftwerk), e misturando ao canto falado trazido pelo DJ jamaicano Kool Herc, Bambaataa criou a música “Planet Rock”, que hoje é um clássico. Bambaataa também foi um dos líderes do Movimento Libertem James Brown, criado quando o mestre da Soul Music estava preso e, anos depois, foi o primeiro ‘Hip-Hopper’ a trabalhar com James Brown, gravando “Peace, Love & Unity”. Bambaataa criou as bases para surgimento do Miami Bass, Freestyle (gênero musical), ritmos que infuênciaram o Funk Carioca

(Wikipedia)

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Entrevista com Afrika Bambaataa

Fonte: Bocada Forte

11/05/2007

Enquanto o maior representante da igreja católica chegava ao Brasil para uma curta visita, o "Papa do Hip-Hop", Afrika Bambaataa, já andava por terras brasileiras, promovendo a mensagem da Universal Zulu Nation, da cultura Hip-Hop, da paz, da união e, principalmente, da diversão. São mais de 30 anos de Cultura Hip-Hop. De lá pra cá muita coisa se passou. Afrika Bambaataa, 50 anos, viu o que antes era um simples "movimento" virar uma cultura global e sua voz ser escutada e respeitada no mundo todo. Com apresentação marcada para o Skol Beats 2007, no Anhembi, Bambaataa trouxe consigo seu filho, o MC TC Izlam, King Kamonz, DJ Soul Slinguer e toda sua energia positiva.

Num encontro descontraído com o Portal Bocada Forte e a jornalista Cinthia, da Zulu Nation Brasil, no hotel onde se encontrava hospedado, Bambaataa falou sobre como vê o mundo hoje e suas preocupações, espiritualidade, a música Rap e, claro, Cultura Hip-Hop.

Bocada Forte: Nós ouvimos você comentar de sua preocupação com a violência no Brasil... Afinal, o que vem fazendo Bambaataa se preocupar e refletir nos dias de hoje, além da violência?

Afrika Bambaataa: O grande problema no mundo hoje é o acesso ao conhecimento, a educação. Também a questão do racismo e do poder branco, da "supremacia branca". Muitos dos meus irmãos e irmãs do Brasil precisam esforçar-se para aumentar seu conhecimento sobre si mesmos e os outros. Por exemplo... Isso significa, que aqueles que se chamam pretos brasileiros precisam saber que seus ancestrais não vieram ao Brasil somente em navios negreiros, como escravos. Vocês são os herdeiros de um povo que estava aqui muito antes desta terra ser chamada Brasil, ou América Latina, ou América Central ou do Norte. Seus ancestrais aqui viviam, assim como os Maias, Astecas e tantos outros povos. É preciso que a juventude passe a estudar, conhecer e a debater como era o Brasil antes de ele ser chamado Brasil. É preciso buscar as reais origens, não somente de quando os europeus por aqui chegaram.

Quando você se aprofunda no estudo das raízes da história você fica sabendo quem estava aqui muito antes de Colombo pisar aqui. No filme feito por Mel Gibson, chamado "Apocalíptico", por exemplo, você não vê uma representação dos Maias com pele clara, fantasiosa. Vê homens com chapéus quadrados, cabelos rasta, com locks, pele mais escura, exatamente como realmente se pareciam as pessoas daquela época. Essa é uma representação baseada em estudos. Outro exemplo: você sabe da história de Zumbi? Você pode encontrar muita coisa nos computadores, na Internet sobre ele, mas muito poucos livros. As pessoas recebem a informação de que a cultura do povo preto começou com a escravidão, mas isso não é verdade. Assim, nós precisamos matar o racismo e mostrar a todos que pretos, marrons, vermelhos, amarelos, brancos somos todos seres humanos.

Verdadeiramente, não existe uma terra chamada "terra dos pretos", "terra dos marrons", "terra dos brancos", "terra dos vermelhos". Isso tudo é uma cultura de supremacia branca. A real questão é onde você nasceu, o seu berço, qual sua nacionalidade, de onde você veio. Daí se percebe que a real luta é a luta contra a violência entre os povos. A luta é cidade à cidade, favela à favela, rua à rua, nas esquinas. Cada um fazendo sua parte, dando o melhor de si. Buscando o conhecimento de si mesmo e da vida podemos vencer e realmente libertar-nos.

Cinthia (Zulu Nation Brasil): Bambaataa, nós gostaríamos de saber como foi sua vida quando mais jovem e como veio a cultura Hip-Hop nessa época?

Bambaataa: A vida era realmente uma batalha, gangues de rua e violência por todos os lados. Mas em meio a tudo tínhamos, por exemplo, grandes professores do Islam. Pessoas como Malcom X, Louis Farrakan. Tínhamos o Partido dos Panteras Negras, Angela Davis. Tínhamos grandes cantores pela paz como James Brown, Aretha Franklin, Sly & The Family Stone, Isley Brothers, John Lennon, e tantos outros. Seja em suas músicas ou discursos, todos me ensinaram algo de bom. Algo que me auxiliou a moldar minha mente de forma positiva e tirar-me do ócio e do crime, me levando a pensar em fazer algo pelo meu povo. Na sequência também veio o grande professor Martin Luther King, o "Young Lords Party", o movimento do Partido Porto-riquenho, tudo foi me despertando pra algo maior.

Foi então que assisti a um filme na TV chamado "Zulus", onde os Zulus da África lutavam pela sua liberdade contra os britânicos, que tentavam invadir suas terras. Isso me despertou e me fez imaginar: "quando eu for mais velho vou querer ter a minha Zulu Nation, um dia". E hoje temos a Universal Zulu Nation e quem sabe no futuro não poderemos ter a nossa "Galáctica Zulu Nation", indo de planeta a planeta defendendo a paz.

BF: Todos sabemos que você tem uma ligação muito forte e especial com o lado espiritual. Ao mesmo tempo, hoje vivemos num mundo extremamente violento e materialista. Como despertar as mentes das pessoas, dos jovens, para a paz, as coisas boas e positivas?

Bambaataa: Antes de tudo é preciso haver organização e que se tenham bons mestres, professores, oradores. Alguém que fale a juventude assim como aos nossos ancestrais. Ensinar o respeito a esses ancestrais, nossos avós, bisavós e tataravós. A sua mãe é a minha mãe. Sua irmã é a minha irmã. Seu pai é o meu pai. E quando todos se olharem dessa forma, respeitando os mais antigos teremos um mundo melhor. Sabe, o que muda o Hip-Hop é a sua parte negativa, que vem principalmente dos Estados Unidos. A gente vê todo mundo se chamando de "niggaz" (negros), "bitches" (prostitutas). Daqui a pouco eles estão falando que sua mãe é uma vagabunda. Que sua irmã é uma vagabunda. E de repente todos começam a achar isso comum e corriqueiro e você começa a chamar sua mãe de vagabunda e sua irmã de vagabunda, seu irmão de "negrão"... E aí você se torna um imbecil. Afinal, pessoas morrem todo o dia por causa disso. Mas você continua a usar esses termos entre as pessoas que convive. Aí então um europeu chama você de "negrão" e você não vai gostar. Vai ficar irado. Mas como você vai ficar bravo se você mesmo se chama "negrão" e gosta de chamar os outros assim?

Então, precisamos mostrar aos jovens a sua real identidade, quem são seu povo, quem são seus ancestrais e seus reais valores. E precisamos ver na TV a história de Zumbi, a história dos Panteras Negras, do Movimento pelos Direitos Civis nos Estados Unidos, a história da África do Sul, a história do Brasil e todos seus problemas, a história da Cidade de Deus. Aí vendo isso as pessoas terão de pensar: "nós precisamos fazer algo a respeito destes problemas". Então precisaremos de oradores. Pessoas que falem como Farrakan, como Malcom X, como John Lennon.

Cinthia: O que você pensa dos rappers atuais e desse "novo estilo de Hip-Hop"? De artistas como 50 Cents que se auto-denominam "do Hip-Hop" e, na minha opinião, não o são. O que você pensa sobre isso e sobre suas letras, que tratam de sexo, grana e violência?

Bambaataa: Bem, o 50 Cents continua sendo meu irmão. E ele representa um lado do Hip-Hop. Nós não temos de nos preocupar apenas com o 50 Cents, mas com as Rádios que têm programas que "programam sua mente" diariamente, por todo o Brasil, por todo os Estados Unidos, por todo o mundo. Se você toca 50 Cent, você ainda tem Commom Sense, que é outro MC. Se você toca Missy Eliot, nós ainda temos Soul Sonic Force e Sugar Hill Gang. Se você toca Limp Bizkit e Korn, nós ainda temos Beatles e os Rolling Stones. Se você toca o novo samba, nós teremos o velho samba. Você toca o novo Hip-Hop, nós temos o velho Hip-Hop. Se você tem algo novo, você sempre terá algo mais antigo. Então, se você toca coisas novas, dê também espaço para as coisas velhas. E eu não falo só de coisas velhas, com 10 ou 5 anos de idade, mas música dos anos 40, 50, 60. Vamos misturar isso. Vamos fazer com que as pessoas escutem de tudo um pouco. De repente as pessoas estarão ouvindo a rádio e dirão "ei, isso é James Brown e os caras do grupo tal usaram naquele som novo". Ou então você dirá "puxa, isso é Tim Maia. Veja o que ele fazia naquele tempo". Dessa forma, as pessoas poderão sentir a diferença. Precisamos chegar nas estações de Rádio e TV e dizer "ei, nós queremos mais equilíbrio na programação. Queremos saber também do passado, das músicas antigas, dos artistas mais velhos e dos trabalhos de artistas independentes também". Só assim os artistas como 50 Cents começarão a cair em esquecimento. Começarão a ser ignorados aos poucos. Você terá os gangstas, mas terá também os artistas que falam de amor, de paz. As pessoas poderão dizer "ah, mas isso é contraditório". Mas nós sempre teremos o bom e o ruim. Nós somos bons e ruins. É o "Ying e Yang". Todo ser humano tem seu lado bom e ruim.

BF: Bam, aqui no Brasil nós temos muitas dificuldades em realizar grandes eventos. Em conseguir verba para realizá-los. Ao contrário dos Estados Unidos e de outros países onde o Hip-Hop é maduro, como a França, as grandes empresas demonstram não ter interesse na cultura. Como lidar com isso?

Bambaataa: Muitas empresas desejam ficar cegas, surdas e mudas. Não importa a eles o que a juventude vem fazendo. Eles querem mais é fazer dinheiro e ampliar o controle sobre você. Eu olho aqui (Bambaataa olha pela janela do quarto do hotel, onde se tem uma bonita vista da cidade) e vejo muito mais prédios que em Nova York. Eu vejo como em Tóquio, no Japão. Então não há razão para que não encontremos pessoas morando nas ruas, passando fome ou morando em favelas. Mas se cada pessoa nesses grandes prédios doassem um Real cada, seria um milhão para que pudéssemos realizar algo bom. Para limpar a área, tirar as pessoas das ruas, da fome. Para fazer uma escola. E assim você reúne um real de cada pessoa em outra grande comunidade de São Paulo e constrói um grande centro de estudos para jovens. Algo que seja bom ou funcional para as pessoas.

As pessoas precisam aprender a não depender tanto do governo. As pessoas precisam se organizar verdadeiramente. Se todos decidissem não comprar mais cigarros e colocar esse dinheiro na "conta bancária do povo" muitas outras coisas boas poderiam ser construídas. A ajuda está em suas próprias mãos. Se você não fizer nada por você ou para mudar a situação e ficar esperando, nada irá mudar e todos continuaremos a ser dominados pelas grandes indústrias... Continuaremos a fazer parte do "Matrix". (risos).

Cinthia: Ao redor do mundo nós vemos demonstrações de reivindicações e lutas do povo negro na tentativa de conquistar mais espaço e direitos que nos foram suprimidos. Você acredita que ainda hoje nós negros somos unidos devido a nossa condição cultural ou porque somos negros?

Bambaataa: O povo preto precisa estudar sua história. Esses são seus ancestrais (Bambaataa mostra livro de estudos muçulmano com a história dos povos antigos). Você precisa apoderar-se do conhecimento. Eles não desejam que você saiba que seu povo já estava aqui, a muito tempo antes de Colombo chegar. Você já se perguntou porque eles chamavam o povo daqui de índios? Aqui não existiam índios. Aqui não era a Índia. Mas você tem "índios norte-americanos", "índios sul-americanos", etc. Nossos ancestrais são de outro povo. Um povo bem mais antigo, presente aqui desde muito tempo. Mas eles não querem que você saiba disso (Bambaataa retira da sua bolsa outro livro e aponta). Eles criam sociedade secretas e mascaram a história. Eles não querem que você saiba o que aconteceu e o que acontece. Você sabia que muito da crença cristã vem dos antigos egípcios? Porque eles não desejam que você saiba disso? Porque eles não querem que você saiba quem estava lá antes dos europeus chegarem? Eles escondem tudo!

Cinthia: Eu não sei se me fiz entender, mas gostaria de saber, na realidade, se você acha que nós continuamos unidos pelo fato de sermos negros.

Bambaataa: Pois bem... Eles desejam que nós continuemos brigando entre nós. "Eu sou preto. Eu sou marrom. Eu sou amarelo. Eu sou branco". Essas são as regras impostas. Você está vendo essa foto? (Bambaataa aponta para uma figura artística muito antiga numa foto). Ele é muito parecido comigo e contigo. Tem nariz grande, achatado, lábios grossos. Esses são seus ancestrais, que estiveram aqui. Eles estavam lá nos Estados Unidos muito antes de alguém por lá chegar. E eu não falo somente seu ou meu ancestral porque ele é preto, mas de todos nós independente da cor! E é assim que a supremacia branca se mantém. Eles não te ensinam isso. Você já se perguntou porque será que europeus e americanos são tão ricos? Ora, eles roubaram essa riquesa dos povos antigos! Roubaram tudo de nossos ancestrais. Você era rica no passado! Eles se apoderaram de tudo.

Pergunte-se: porque vemos tantos obeliscos e figuras piramidais por todo lado em São Paulo ou em outras grandes cidades do mundo? Isso tudo vem da cultura de nossos remotos ancestrais. Do Egito antigo! Repare nos livros sagrados da Bíblia e em muitos outros existentes. Todos contam as mesmas histórias de formas diferentes. Todos baseados nos relatos egípcios.

BF: Conte-nos sobre a época que tínhamos os punks juntos com os negros curtindo o Hip-Hop. Como foi essa experiência?

Bambaataa: Sim, eles estavam lá junto conosco. Participando das festas que fazíamos. Os punks foram o primeiro movimento europeu a abraçar a cultura Hip-Hop. Nós devemos muito respeito aos punks e ao seu movimento. Eles não tinham medo de se aproximar dos negros, das festas. Eles ouviam James Brown e "caiam no funk", eles ouviam David Bowie e "caiam no funk". Nós tínhamos até punks fazendo música Rap!

Cinthia: E o racismo norte-americano diferente do racismo no Brasil?

Bambaataa: O racismo é, em todo lugar, basicamente o mesmo. Você tem a posição de poder e o topo da coisa e tem a parte de baixo. A supremacia branca se coloca no topo e deseja ver a gente embaixo. Mas eles não percebem e não querem que você saiba que o negro pode vir em muitas tonalidades. Ele pode vir claro, quase branco, como Carmem Miranda ou como Gerson King Kombo ou Nelson Mandela. Mas eles querem que vocês briguem entre vocês. Até mesmo os brancos europeus são seus filhos, pois você ajudou a concebe-los.

Você acredita em Jesus, em Deus, em Xangô. Mas eu posso vê-la como uma deusa. Eu posso vê-lo como um deus. Você me atinge em espírito muito antes de eu ver sua cor. Mas eles não querem que você saiba disso. Eles não querem que você saia da "caixa de matrix". Olha pra lá (Bambaataa aponta para a televisão). Eles te contam mentiras. Eles te controlam por lá.

BF: Para finalizar, envie uma mensagem a todos da cultura Hip-Hop. MCs, Dançarinos de Rua, Graffiteiros, DJs.

Bambaataa: Nós podemos amar a cultura Hip-Hop, mas se não tivermos conhecimento de como podemos modificar nossa situação, nossa comunidade e nosso espaço e aprendermos a respeitar nossos ancestrais, seremos sempre escravos. Ame a você mesmo, ame seus ancestrais, ame seu povo e tente fazer algo por você, pelos outros e pelo seu povo. Mas, principalmente, respeite a mãe terra!

Porque você pode amar o Hip-Hop, o funk, o jungle, o house, o gangsta, as festas, o sexo, mas se você não respeitar a mãe terra ela irá te cuspir pra fora. Tornados, terremotos, tsunamis... Ondas maiores que esses prédios (Bambaataa aponta para os altos prédios) te varrerão. Porque a mãe terra é uma entidade viva e você precisa respeitá-la. Porque se você não respeitá-la apenas uma faísca do sol te queima e te transforma em pó. Esse é o aquecimento global. Porque se nós não nos preocuparmos com o aquecimento global você não precisa mais se preocupar com o Hip-Hop, ou com o Rock´n´Roll, ou com o Jazz, nem com gangstas ou qualquer outra coisa, porque a natureza se encarrega de te dar um belo chute na bunda (risos).

Por: Noise D
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Megadeth comemora 20 anos de "Rust In Peace" e diz que disco é tão relevante hoje quanto em 1990; leia entrevista

PEDRO CARVALHO
Fonte - UOL


Em sua sexta visita ao país, o Megadeth está longe de ser uma novidade para os fãs brasileiros do thrash metal. Desta vez, no entanto, a visita a São Paulo neste sábado (24), no Credicard Hall, é especial: como o baixista original Dave Ellefson de volta aos quadros, a banda está em turnê para comemorar as duas décadas do álbum "Rust In Peace".

Um dos grandes clássicos do gênero, o disco é marcado tanto pela sonoridade furiosa quanto pelas letras politizadas de Mustaine. "Nós nunca fizemos letras sobre sexo, drogas e rock and roll, e por este motivo temos em 2010 um álbum tão relevante como há 20 anos", diz Ellefson.

Formada em 1983 pelo polêmico vocalista e guitarrista Dave Mustaine, o Megadeth logo se tornou um dos quatro bastiões originais do thrash metal, junto com Anthrax, Slayer e Metallica, banda da qual Mustaine foi expulso. O intuito declarado de Mustaine era formar um grupo mais pesado e veloz do que o de James Hetfield e Lars Ulrich.

Em entrevista ao UOL Música, Ellefson falou sobre os 20 anos de "Rust In Peace", seu retorno à banda após oito anos e o relacionamento com Dave Mustaine, com quem brigou publicamente após sua saída. Segundo o baixista, "agora a amizade vem em primeiro lugar e por isso as músicas soam melhores".

UOL Música - Como tem sido a turnê até agora?
Dave Ellefson - Excelente, muito boa mesmo. Começamos na Cidade do México, um ótimo ponto de partida. Já começamos também pelo Brasil, em Recife, Brasília. Fazia tempo que eu não tocava no Brasil com o Megadeth, acho que desde 1998.

UOL Música - Vocês tocaram no Rock In Rio 2, em 1991, no Rio de Janeiro. O que você se lembra desse show?
Ellefson - Foi um evento muito legal. Era enorme, um acontecimento monumental. Foi o maior público para o qual eu já toquei na vida, 140 mil pessoas. Sempre me lembrarei do Brasil como um lugar especial. Além disso, foi o primeiro show do Megadeth na América do Sul, então o Brasil está sempre em primeiro lugar e foi uma honra termos sido convidados para um evento gigantesco e conhecido no mundo.

UOL Música - No Rock in Rio 2 vocês estavam fazendo a turnê do álbum "Rust In Peace" e agora estão fazendo isso novamente, em comemoração dos 20 anos do disco.
Ellefson - É verdade, que engraçado! É irônico como as coisas acontecem em ciclos de 20 anos. É interessante que 20 anos depois estejam rolando coisas comigo e com o Dave (Mustaine), aniversários de várias coisas nas nossas vidas, o aniversário do "Rust In Peace" e muitas coisas que vão além das coincidências.

UOL Música - Como o quê?
Ellefson - Parte da equipe que está conosco agora também estava naquela época, o roteiro da turnê é praticamente idêntico. Eu e o Dave estamos celebrando coisas importantes nos nossos casamentos e na nossa saúde. É bacana comemorar algo importante da nossa vida musical e profissional junto com tudo isso, dá uma idéia do quanto crescemos como pessoas.

UOL Música - Como você compara o "Rust In Peace" ao disco novo, "Endgame"?
Ellefson - O "Endgame" é bem diferente, acho que se parece mais com o "Countdown To Extinction". É muito pesado, tem riffs excelentes e é mais lento, dá um peso diferente. O "Rust In Peace" era muito nervoso e descontrolado, direto ao ponto, feroz e rápido. Isso representou bem a missão original do Dave, que era a de ser a banda mais veloz e furiosa de todos os tempos, e acho que nesse disco ele conseguiu isso.

UOL Música - Como está sendo ter os dois Daves juntos novamente na banda?
Ellefson - Muito legal! Dave e eu construimos uma amizade que não tínhamos antigamente porque a banda vinha em primeiro lugar. Agora a amizade vem primeiro a e as canções em segundo. E por causa disso elas soam muito melhor.

UOL Música - Como aconteceu a reunião?
Ellefson - Em janeiro eu estava falando com o (baterista) Shawn Drover numa convenção e o roadie do Dave me chamou para uma jam session com os dois ali mesmo, de improviso. Acabou não rolando, mas abriu as portas para começarmos a trabalhar juntos novamente. Então, em fevereiro eles me chamaram dizendo "você é o cara, nós vamos fazer a turnê do 'Rust In Peace' e é o momento perfeito para a banda se você quiser voltar". Falei com o Dave por telefone e em dois minutos o acordo estava fechado. Tocamos juntos no fim de semana seguinte e o som ficou fantástico. O legal é que não foi nada planejado e nem por motivos financeiros. Dave e eu podemos relaxar e nos divertir, diferente do que seria se nós dois estivéssemos desesperados.

UOL Música - Vocês tinham muitos problemas pessoais entre vocês que tiveram de ser resolvidos?
Ellefson - Não muitos. É muito legal como desenvolvemos esta amizade que não tínhamos antes. As pessoas pensam que caras de banda são sempre amigos, mas não é bem assim. Nos conhecemos muito jovens e, durante a carreira do Megadeth, houve mudanças de formação. Muita gente entrou na banda para substituir outros integrantes e eu diria que as melhores formações são a atual e a do "Rust in Peace", quando as coisas puderam ser feitas sem pressa e colocamos gente na banda com quem gostávamos de estar, com interesses semelhantes, que se pareciam com a gente no visual, na maneira de pensar e de tocar.

UOL Música - Vocês estão compondo juntos novamente?
Ellefson - Ainda não compusemos nada juntos. Temos uma música nova que será lançada em breve que já havia sido iniciada antes da minha volta. O Dave me pediu para fazer uma linha de baixo para ela para podermos tocá-la na turnê. Em Recife estávamos ouvindo umas faixas novas e vamos começar a mexer nelas em breve. Geralmente você entra numa banda, compõe, grava e só então sai em turnê. Fizemos o contrário desta vez, acertamos o relacionamento da banda na estrada e só depois vamos nos concentrar na parte criativa e fazer o próximo disco.

UOL Música - O "Rust In Peace" foi lançado há 20 anos e, além destas coincidências que você comentou, havia uma guerra no Iraque, assim como agora. Considerando que as letras do disco são muito politizadas, como você sente que elas se encaixam na situação atual?
Ellefson - Acho que essas letras são atemporais, porque tratam de questões recorrentes, que não acabam nunca. As letras do Megadeth nunca foram sobre sexo, drogas e rock and roll, e sim sobre coisas muito mais amplas do que as outras bandas estavam escrevendo na época. O legal disso é que nós temos um disco de 20 anos atrás cujas letras ainda são tão relevantes em 2010 quanto eram em 1990. As músicas do Megadeth são sobre as pessoas, e o ser humano não muda muito.








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