quarta-feira, 19 de maio de 2010

Ressaca do Rock Sertão



A profecia será cumprida a seu modo. A partir de amanhã, Nossa Senhora da Glória se transforma na capital da música independente de Sergipe, e o sertão vira rock, para o rock encontrar o sertão. Na abertura do festival, Alex Sant’ana – o barrigudinho à frente da NaurÊa e por trás da Banda dos Corações Partidos – apresenta um repertório autoral, encharcado de elementos pop que emolduram uma poesia particularíssima, abrindo uma janela para o exercício da veia indie que permanece adormecida nos demais projetos do cabra.

Como a programação é extensa e oportunidades para nos debruçarmos sobre o trabalho de Alex não devem faltar, contudo, vamos precipitar as coisas. Como o ébrio que adivinha a dor de cabeça ainda nos primeiros goles da festa, arrancamos algumas folhas do calendário e saltamos até o próximo domingo, quando as bandas Nantes e Rosie and Me (PR) realizam a ressaca do Rock Sertão 2010 no palco do Capitão Cook.

A Nantes, todo mundo sabe, é a mesma Daysleepers que lançou o EP “Tempo’ no ano passado e precisou de um novo batismo para evitar a confusão recorrente com uma banda gringa, mais antiga do que nossos conterrâneos. Os caras estão se preparando para o lançamento de “Alvorada”, e devem surpreender com o cuidado dispensado à produção e arranjos desse primeiro disco.

A Rosie and Me, por outro lado, embora possua uma concepção estética bem mais simples, não é menos sofisticada. A julgar pelas cinco canções registradas no EP “Bird and Whale”, que acabou de ser colocado à disposição do mercado, a pretensão do quarteto formado por Guilherme Miranda (baixo), Ivan Camargo (guitarra acústica), Rosane Machado (vocal, guitarra acústica) e Tiago Barbosa (bateria) é conjugar a sonoridade característica do folk americano ao grande poder de assimilação da música pop.

Se a dedução for correta, a banda está bem perto de satisfazer as suas ambições. Voltado para o mercado externo, como sugerem as músicas compostas na língua do Tio Sam, o primeiro registro da Rosie and Me é uma delícia grudenta. A voz doce de Rosane exorciza qualquer vestígio de engajamento sugerido pelo gênero que despertou paixões políticas na voz de bardos como Jonny Cash e Bob Dylan, assombrando o imperativo das palavras de ordem com propostas irresistíveis.

Em “Come Back”, faixa que abre o disco e prende a atenção do incauto logo no primeiro acorde, por exemplo, os violões de aço fazem uma cama harmônica para a melodia deitar e rolar, pontuada por uma guitarra discreta, que sublinha as intenções da composição com frases curtas e precisas. O essencial, no entanto, está contido nas palavras, roteiro de desencontros amorosos e promessas de reconciliação.

“’Cause you and me are meant to be/ It’s true, I treated you uncarefully/ And if I asked you so very nicely/ Would you come back to me/ So we can be together”.

E assim segue. Eu não sei pra quem a mocinha canta, mas asseguro que é impossível oferecer qualquer oposição. Os desejos expressos nas músicas da Rosie and Me, longe de soarem como súplicas, escondem condenações maravilhosas.

riansantos@jornaldodiase.com.br
Fonte: Spleen & Charutos
por Rian Santos

Serviço:

Local: Capitão Cook (próximo ao farol da Coroa do Meio)
Data: 23 de maio
Hora: 18 horas

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