sexta-feira, 23 de julho de 2010

# 154 - 23/07/2010

Zefirina Bomba – A outra trilha de sumé
The Renegades of punk – Tenho certeza que a vingança será doce
The Baggios:
• O Azar me consome
• Can´t find my mind
• Canção dos velhos tempos

Entrevistas com:
• The Baggios
• Zefirina Bomba
+ Não – Zefirina Bomba

The Cigarretes – Addictions
(Drop Loaded)

Contra La contra – Kupalski vjanok
Tectonic – arhaic
Gride – Lobotomie virou
Gurenica y luno – antypatriota
(por Juliano Mattos)

Venus Volts – In the palm of your hand
The Name – Can you dance, boy
Cassim – This place called feeling
Motherfish – Superdreams last all Summer long

Arnaldo & Patrulha do Espaço – Sexy sua
Mustang – Dez Horas da manhã
Casa Flutuante – Paredes
Guilherme Lamounier – Capitão de papel

Sarcófago – Sex, drinks and metal
Mystifier – Satanic lust
Pathologic Noise – Satanas
Impaled Nazarene – The Black Vomit
Satyricon – INRI
Mysteriis – Nightmare


Havia um grilo na cabeça - O cantor e compositor Guilherme Lamounier perdeu dias de glória para a esquizofrenia.

Da Carta Capital, por Pedro Alexandre Sanches

Enrosca o meu pescoço, dá um beijo no meu queixo e geme/ o dia tá nascendo e nos chamando pra curtir com ele. Cíclicos, esses versos ganharam o Brasil em 1982, na voz romântica de Fábio Jr., e de novo em 2000, na versão infanto-juvenil da dupla Sandy & Junior. Haviam aparecido antes ainda, em 1977, quando Enrosca integrou a trilha sonora da novela Locomotivas, da Globo, na voz segura e inclinada ao soul do autor, um rapaz chamado Guilherme Lamounier.

“Ele era muito, muito, muito talentoso”, avalia Luiz Cláudio Ramos, arranjador do disco Guilherme Lamounier (Continental, 1973) e atual maestro de Chico Buarque. “Eu estava pensando outro dia que só duas vezes fiz discos com orquestra, de big band. Um foi o do Guilherme, e o outro foi o mais recente do Chico (Carioca, de 2006).” Apesar de Lamounier estar vivo, Ramos usa o verbo no passado porque desde 1985, o músico está desaparecido do circuito musical.

Hoje, com 59 anos, Lamounier vive no bairro onde nasceu, Copacabana, em companhia da mãe, a cantora lírica e professora de canto Sílvia Lamounier (o avô materno, Gastão Lamounier, foi compositor de valsas e tangos gravados nos anos 1930 por Silvio Caldas, Carlos Galhardo e Augusto Calheiros). Ele ainda toca violão e compõe, mas não dá entrevistas, vive solitário, anda sujo e desarrumado. São efeitos da esquizofrenia, de que já sofria no tempo todo em que criou as canções pop ternas, suaves e amorosas que o fizeram quase famoso nos anos 1970. “Guilherme não para quieto, acha que está sendo perseguido. A vida dele é um inferno. É uma tristeza muito grande, ele tinha de se tratar e não se trata”, lamenta Ramos.

“Ele não aceita, acha que é normal e se irrita se você o contesta”, afirma outro ex-parceiro, o compositor Tibério Gaspar, coautor de todas as canções do disco de 1973, cultuado até hoje pela mistura original que estabeleceu entre psicodelia, country rock, soul e rock rural, em pequenos clássicos pop obscuros como Será Que Eu Pus um Grilo na Sua Cabeça? e Os Telhados do Mundo.

“Uma vez, ele me disse que estava chegando da Bahia, onde tinha ido visitar seus netinhos. Tinha descoberto que foi Maria Bonita na outra encarnação”, conta Gaspar, autor de sucessos como Sá Marina (gravada por Wilson Simonal em 1968) e BR-3 (vencedora do Festival Internacional da Canção de 1970, na voz de Toni Tornado), ambas em parceria com Antonio Adolfo.

Promessa de cantor-galã arquitetada pelo controverso agitador cultural Carlos Imperial (que antes orientara Roberto Carlos, Elis Regina, Simonal e Erasmo Carlos), Lamounier também participou daquela fatídica edição do festival da Globo. Defendeu Conquistando e Conquistado, composta por Imperial em dupla com o colunista social Ibrahim Sued, mas não teve chance em meio ao levante de black power à brasileira que se ensaiava naquele festival (e que foi pronta e brutalmente reprimida pela ditadura).

“Imperial ficou enfiando na cabeça de Guilherme que ele ia ser a grande sensação do festival, mas a música não era grande coisa. Começou a cantar e começou a ser vaiado. Ficou desesperado, se esgoelou sem ouvir a própria voz”, documenta Denilson Monteiro, autor da biografia Dez! Nota Dez! – Eu Sou Carlos Imperial (Ed. Matrix, 2008). “Não via que atrás dele estava Imperial, fazendo palhaçadas vestido de xamã, numa fantasia do Cacique de Ramos. Com aquilo Guilherme teve uma crise, foi internado. Imperial tinha uma postura às vezes muito agressiva, dava altos esporros no Guilherme.” Gaspar completa: “Aquilo foi ruim para a cabeça dele. Passou a ter percepções, recebia esse índio. Foi o começo, um gatilho.”

Imperial foi o mentor do primeiro LP, Guilherme Lamounier (Odeon, 1970), fortemente influenciado pela onda black – que o produtor queria apelidar “som livre”. Um dos arranjadores era o mais tarde mundialmente respeitado Dom Salvador, e havia ali um funk que no mesmo ano se tornaria bem mais conhecido na versão de um dos autores, Tim Maia. À época, segundo Denilson Monteiro, Tim e Lamounier moravam no apartamento de Imperial, onde o funk foi criado. “Imperial não gostava de maconha, e Tim e Guilherme criaram um código para falar em dar um tapa no baseado: ‘Vou ver Cristina’. Aí nasceu Cristina”, diz o biógrafo.

Monteiro guarda um depoimento de Tim Maia sobre Lamounier, que foi ao ar pela rádio Globo AM em 1995. “O mais injustiçado de todos é o Guilherme. Ele pirou total. O pessoal tinha de chegar e ajudar o Guilherme, mas ninguém ajuda”, reclamava o cantor, três anos antes de morrer.

Amigo de Tim, Fábio Jr. foi um dos que mais ajudaram, indiretamente. Além de Enrosca, transforma em sucesso nacional outras duas delicadas composições de Lamounier: Seu Melhor Amigo (você é linda como uma flor do campo/minha menina, eu te amo), em 1981, e Seres Humanos (você também tem todo direito/de ser alguém nessa vida), em 1982. “Fábio aprendeu a cantar com Guilherme”, diz Gaspar. Os direitos autorais vindos das gravações e regravações de Fábio e Sandy & Junior são importantes para a subsistência de Lamounier.
Como Fábio, ele foi ator antes de se consolidar cantor, numa passagem extraordinária de sua biografia. Aos 19 anos, atuou num filme norte-americano chamado The Sandpit Generals, de Hall Bartlet. Trata-se de uma adaptação cinematográfica do romance Capitães de Areia, de Jorge Amado, que Lamounier interpretou o menor abandonado Gato. Rodado na Bahia, o filme tinha, na parte brasileira do elenco, os também músicos Dorival Caymmi, Eliana Pittman e Aloysio de Oliveira. A trilha era de Caymmi e Lamounier.

No YouTube encontram-se cenas improváveis do filme, dubladas em russo, pois a produção venceu um festival na então União Soviética e é objeto de culto por lá. The Sandpit Generals foi lançado nos Estados Unidos em 1972 e até hoje jamais exibido comercialmente no Brasil.

O filme guarda em comum com Lamounier o fato de ter ficado perdido na poeira do tempo. O músico não grava um disco desde 1978, quando a Som Livre emplacou o sucesso modesto de Serenatas Perfumadas com Jasmim, mais um tema sereno como seu criador nunca foi. Nos dois casos, a internet veio ajudar a quebrar o silêncio e o esquecimento. Guilherme Lamounier é reverenciado em sites, blogs e redes sociais, que disponibilizam para download a íntegra de sua obra, de LPs e compactos jamais reeditados no circuito comercial. Será que ele pôs um grilo nas nossas cabeças?

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(wikipedia) Sarcófago foi uma das primeiras bandas de metal extremo a surgir no Brasil, em 1985, no estado de Minas Gerais. Primeiramente não rotulavam-se a nenhum estilo de música em si, mas caracterizavam-se por fortes tendências anticlericais em suas letras e uma atmosfera musical pesada. Suas primeiras aparições datam da primeira metade da década de 80, junto com outras bandas mineiras de metal, como Chakal, Holocausto e Sextrash, que já apresentavam-se nas cidades da região. A formação mais famosa e clássica contava com Antichrist nos vocais, Butcher na guitarra, Incubus no baixo e D.D. Crazy na bateria. O baterista Leprous fez parte da gravação da coletânea Warfare Noise lançado pela Cogumelo Records em 1986. A gravação do Sarcófago traz sua primeira demo-tape, com elementos que levariam a banda ao patamar de clássicos no estilo. Era uma sonoridade era inovadora para a época, com guitarras pesadas, sujas e rápidas assim como um estilo de bateria conhecido como beat blast, pouco usado na época - apenas bandas "gringas" como o Nuclear Death, Napalm Death e Fear of God usavam a técnica. O visual também fazia parte do contexto, brutal e chocante, como demonstram as fotos de seu primeiro álbum em estúdio, feitas em um cemitério, usando enormes braceletes de pregos, cintos de bala de fuzil e a pintura facial conhecida algum tempo depois como corpse paint. Mais tarde, após a divulgação underground de seu primeiro álbum Inri de 1987 e a consolidação no exterior, o Sarcófago ficou sendo reconhecido como uma banda de black metal e death metal.

O vocalista e guitarrista "Antichrist", o pseudônimo de Wagner Lamounier, fez parte da primeira formação do Sepultura e escreveu em parceria com Max Cavalera a música "Antichrist", que foi inserido no EP Bestial Devastation. Hoje em dia, Wagner Lamounier é professor de ciências econômicas na UFMG. Outro integrante importante da primeira formação é Geraldo Minelli, baixista e compositor. Atualmente trabalha com o ramo de joalheiria. Em todo o cenário do metal extremo mundial, o Sarcófago ocupa uma posição privilegiada, graças à sua trajetória de álbuns "fiéis" ao estilo que se propunha.

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Entrevista com The Renegades of punk
por Adolfo Sá
fonte: VLB

Viva La Brasa - Dani, como você aprendeu a tocar guitarra?
Daniela Rodrigues - Eu me interessei em guitarra e rock ao ver na TV as L7 tocando no Hollywood Rock em 93, no Rio de Janeiro. Vi aquilo e pensei: ‘Que foda! Eu também quero fazer isso aí!’ Parece bobo, mas foi assim pra mim. Depois de ficar com isso só pra mim e eventualmente comentar com alguma coleguinha de escola que ouvia os mesmos sons que eu, tomei coragem de pedir pro meu pai me ensinar. Detalhe: meu pai smpre tocou violão popular, já teve banda, já tocou na noite e etc. Mas como ‘em casa de ferreiro espeto é de pau’, ele não me deu ‘aulas’; me passou uns toques e disse pra eu me virar. Foi a primeira vez que me deparei com o ‘faça-você-mesmo’, mesmo sem saber que isso seria uma constante na minha vida.

VLB - Daí vieram as primeiras bandas, Lily Junkie, Triste Fim de Rosilene e Rever...
DR - A Rever surgiu no tempo que sobrava no final dos ensaios da Triste Fim de Rosilene. A TFR era Alex, Ivo, eu, Babalu e Luiz. Quando restava um tempinho no final eu ia pro baixo, Alex fazia umas músicas simples e mais old school na guitarra e Ivo ia pra bateria. Assim tomamos gosto e começamos a ensaiar mesmo, separados da TFR. Surgiu essa outra banda que era vegan/straight-edge e as letras falavam basicamente disso, junto a outros temas políticos.

VLB - Onde estão os integrantes dessas bandas, hoje?
DR - O Babalu hoje em dia mora em São Paulo, estuda música e toca na Gigante Animal. Alex se dedica a uma vida saudável e às gravações. Luiz toca na Snooze. Eu na Renegades e Jezebels e Ivo na Renegades e Karne Krua.

VLB - Chegaram a gravar algo?
DR - Nós gravamos com a TFR uma demo chamada ‘A Verdade É a Maior Mentira que Existe’, um split com a banda amiga e baiana Mais Treta e a capixaba Ofensa. Além disso temos uma gravação inpedita de um material que não chegou a ser lançado. A Rever tem também uma demo, um 3-way com a Ternura (ES), Cätärro (RS), além de ter algumas coisas inéditas gravadas de splits que deram errado ou materiais que não chegaram a ser lançados.

VLB - Apesar de ter menos de 3 anos, a Renegades é uma das bandas daqui que mais tocou fora, sudeste e nordeste quase inteiros...
DR - A gente tinha tocado em Salvador algumas vezes, além daqui é claro. Mas ano passado fomos pra uma tour no sudeste e passamos por Rio de Janeiro (RJ), Sorocaba (SP), 3 shows em São Paulo (SP), Campinas (SP) e São Caetano (SP). Isso foi no mês de outubro. Em dezembro fomos daqui subindo: Maceió (AL), Recife (PE), João Pessoa (PB), Mossoró (RN), Fortaleza (CE) e Natal (RN).

VLB - A RxOxPx sempre toca c/ outras bandas veganas, e o Ivo costuma usar camisetas pró-vegan. Apesar disso, vc não fica falando sobre vegetais nas letras... É intencional ou já rolou música sobre matança de animais e tal?
DR - Já rolou. Sempre rolou e acho que sempre vai rolar. Talvez o lance seja que na Renegades algumas letras não sejam tão explícitas. Tem uma música, que está no 5-way que está p/ ser lançado, que se chama ‘Everybody Stops and Stares’ e fala de animais. A Jezebels também fala. A banda é um trio, lá somos duas veganas. Na Renegades somos todos veganos. Estamos na 3ª formação e todas foram veganas. Nunca propositalmente, mas sempre foi assim. Daí acaba sendo inevitável que a gente fale nisso. Afinal de contas isso é parte de nós, de nossas vidas. É algo que acreditamos e sobre o qual nos posicionamos sempre que preciso.

VLB - Você e o Ivo namoram há anos e sempre tocaram juntos. Até o mestrado fazem juntos. Como é esse convívio quase 100% do tempo?
DR - Eu já tive banda sem Ivo e ele idem. Acontece que desde que nos conhecemos, por termos muito em comum, temos vários projetos e realizações conjuntas. Nada planejado, apenas acabou rolando assim. Acho que pra gente esse tipo de relação funciona legal. Somos muito conectados, mesmo mesmo. Daí o convívio é tranqüilo. Óbvio que às vezes brigamos, mas muito mais por motivos banais do que outra coisa. E é coisa rara de acontecer. Temos nossa independência também, nossa individualidade. Tocamos com outras pessoas também. Somos normais, mesmo não aparentando.

VLB - Vocês estudam sociologia. Em que isso influencia nas letras da banda?
DR - Acho que inicialmente as bandas influenciaram-nos pra estudarmos sociologia. Depois acabou que a sociologia me fez entender melhor o mundo, as instituições e a vida em sociedade. Me mudou como pessoa também. Isso é refletido, sem sombra de dúvidas, nas letras. E mais recentemente nosso objeto de estudo, a técnica, nos fez abrir novos horizontes, novas perspectivas sobre a sociedade, o mundo e inclusive algumas posturas que até então eu tinha, por exemplo. Tudo isso entra, mesmo que de forma inconsciente, nas temáticas, nas letras. As últimas coisas da Renegades tem um quê meio caótico, falam sobre mecanização, tecnicização da vida, etc. Tudo reflexo (também) dos nossos estudos.

VLB - Ivo, o quanto tocar na Karne Krua influencia em seu trampo na Renegades?
Ivo Delmondes - Sonoramente acho que apenas na simplicidade das músicas mesmo. Ainda assim, como escuto Karne Krua desde que comecei a curtir som desse tipo, a banda está cravada nas minhas referências e portanto é uma influência de uma forma ou de outra. Talvez até mais do que a própria banda em si, o Sílvio (vocalista da KK) é uma pessoa que eu estimo bastante, e é uma espécie de anti-herói de carne e osso que representa muito do que eu entendo por punk.

VLB - Vc tb. faz um trampo gráfico bem legal na RxOxPx...
ID - Eu sempre vi a parte gráfica dos discos como algo que é complementar a música. A arte gráfica também pode expressar sensações e provocar reações tanto quanto, ou até mais do que certas músicas. Eu sempre gostei muito de ficar observando a estética dos discos, me apropriar de certas idéias e formatos pra tentar utilizar com minhas bandas. Na medida em que comecei a querer lançar material das bandas que eu tocava, também comecei a me envolver no processo de criação gráfica. A necessidade de fazer artes fiéis ao conteúdo que a gente queria expressar acabou criando esse ambiente onde eu sentia a obrigação de dar o melhor de mim pra manter uma certa integridade do material como um todo. Esse ambiente, por assim dizer, me acompanha até hoje quando eu faço cartaz pros shows que a gente organiza, pras camisetas ou pros discos. As artes da ROP estão situadas num background punk mesmo, que é minha principal influência sonora e estética. No segundo material que lançamos, o split com os mossorenhos da Mahatma Gangue, fizemos uma parceria de design meu com os desenhos horrivelmente bons do Raphael lá de Fortaleza, comparsa das duas bandas. Também já fizemos parceria com o Thiago Neumann (Cachorrão), que é um artista dos mais talentosos que eu conheço, tem desenhos inacreditáveis. Em suma, até mesmo nas artes gráficas prezamos por esse tal de faça-você-mesmo que a gente se identifica tanto. Procuramos nas artes simplicidade, provocação, cinismo e nos aliamos a pessoas que também vêem beleza nisso.

VLB - Dani, aquela guitarra que vc usa é Fender?
DR - Não. Eu uso uma cópia discarada da Fender Telecaster, uma Tagima. E adoro minha Tagima.É uma guitarra que me fez ficar super confortável, me encontrei com ela. Acho que cheguei na ‘minha sonoridade’, sabe?

VLB - E pedais?
DR - Uso um overdrive da Boss, o OS-2, e recentemente adquiri um Dan Echo, um delay da Danelectro, marca da qual sou fã. Quem sabe um dia, mas por enquanto meu set simplezinho como é tá bom demais pra mim.

VLB - E a Jezebels, ahn? Eu sou fã...
DR - The Jezebels é algo que eu vim fomentando há um tempo. Sempre tive um lance forte com bandas femininas e depois que a Lily Junkie acabou fiquei com uma vontade imensa de fazer algo só com garotas novamente. É uma dinâmica diferente ter banda com caras e com minas, ao menos minhas experiências me mostraram isso. Daí depois de ficar procurando outras meninas com o mínimo de afinidade e que topassem tocar rock, encontrei Paula (que eu já conhecia há um tempo) e Paloma.

VLB - Jezebel é um nome bíblico. Vocês se inspiraram na rainha que mandou matar o profeta Elias e morreu devorada por cães?
DR - Quando nos juntamos e começamos a fazer nosso som e precisávamos de um nome, lembrei de uma idéia que eu tinha há bastante tempo: tirar o nome da banda da gangue de minas do filme SWITCHBLADE SISTERS (‘Faca na Garganta’ em português). Paula já estava mais do que por dentro da história e curtia o filme também. Paloma foi apresentada à idéia e curtiu geral. Ficou o nome e, de certa forma, o conceito. Jezebels não é só o nome de uma gangue; tem a ver com a condição de mulher da qual nós três não podemos fugir. Tem a ver com insubmissão, insurgência, imoralidade, e por aí vai... Mas tem uma conotação bíblica sim. A rainha Jezebel é uma das piores vilãs do Antigo Testamento, hahahaha.

VLB - A maior parte das músicas das Jezebels é em inglês, mas vcs têm pelo menos uma em português e uma em francês (!)...
DR - Paula é poliglota, garota prodígio total, orgulho de todas nós. Ela fala francês e acabou escrevendo uma letra em francês, nos juntamos e fizemos a música pra ela. Rolou. Eu confesso que tenho uma dificuldade grande em escrever em português pra coisas mais melódicas como as músicas da Jezebels. ‘Amigas’ eu tinha aqui guardada há tempos e foi muito difícil finalizá-la. Nunca me sentia confortável com ela. Quando você tá gritando algo rápido, agressivo, não importa muito qual o idioma, sabe? Então, pras outras bandas e pra Renegades, que apesar de ser punk rock tem músicas bem rapidinhas, fica mais fácil fazer algo em português... Não sei, flui. Mas pra Jezebels acabei escrevendo mais em inglês, acho que tem mais a ver com o som. Por outro lado, se eu me soltasse mais não veria problema nenhum em escrever e cantar em português. A gente vai fazendo as coisas espontaneamente. Quando funciona, pode ser inglês ou português, forçar é que é chato.

VLB - Qual seu prato preferido?
DR - Sendo vegan, qualquer um. Mas principalmente minha lasanha, bobó, feijoada, hummmmmm.

VLB - Espaço aberto pra falar o que quiser – pode mandar recado, desabafar, reclamar ou até me xingar...
DR - Valeu demais Adolfo pelo apoio, atenção e carinho com a gente. O Viva La Brasa tem um papel fundamental na divulgação do underground sergipano. Vamos manter essas coisas boas ativas e por um bom tempo. Sergipe precisa, a gente precisa.

+ trechos de entrevistas com The Renegades of punk

REVISTA DOS VEGETARIANOS - Por que o nome Renegades of Punk? Vocês se sentem renegados?
Daniela Rodrigues - O nome veio meio sem pretensão, era uma brincadeira com a música ‘Renegades of Funk’ do Afrika Bambaataa, e tinha a ver com o clima meio outsider da gente. Como somos uma banda de punk rock, trocamos o funk por punk.

REVISTA DOS VEGETARIANOS - O que a caracteriza como punk?
DR - Acho que o punk está muito mais na forma de agir, de viver sua vida, do que no fato de você se dizer ou não. Eu acho que sou punk sim no sentido de que vivo minha vida de uma forma alternativa, na contramão do status-quo, entende?

REVISTA DOS VEGETARIANOS - Por que optou pelo vegetarianismo?
DR - O veganismo apareceu como uma via eficaz de combate, de vivência, de política. Sou vegana pelos animais. Acredito que o veganismo seja uma postura ética urgente.

CANIBAL VEGETARIANO por NK.Rock - 09/02/2010

CV - A Renegades tem aparecido bastante no cenário independente. Recentemente vocês estiveram em shows aqui no interior de São Paulo. Como foram esses shows?
DR - Nossa, foram bem legais. A gente tocou no sudeste com a Mahatma Gangue lançando nosso split no Rio de Janeiro e São Paulo, capital e algumas cidades do interior como Campinas, Bragança Paulista e Sorocaba. Nós curtimos muito esses shows. Tocamos na Loja Tentáculos em Sorocaba, a loja da Flávia (Biggs) e do Fábio (Pugna). Em Bragança tocamos no festival Cardápio Underground que queríamos muito conhecer! Foi foda, o local, as pessoas, as artes... Esse festival é organizado pelo Quique Brown do Leptospirose que é uma banda que a gente curte e respeita demais. E em Campinas no Bar do Zé, lugar foda. É massa tocar no interior e na capital, a gente sente as diferenças de tratamento e tal. O interior tem um algo a mais que a gente não sabe explicar, demais, um calor humano diferente. Mas o rolê como um todo foi massa. Não podia ter sido melhor!

CV - Qual a opinião de vocês sobre o atual momento do rock no Brasil? A estrutura de shows melhorou, o pagamento de cachês e o nível das bandas?
DR - Essa é uma discussão que tá na crista da onda, não é? Cena independente, pagar cachê ou não para banda, festivais e grupos chamados de panelinha e etc... Sinceramente, só posso falar do que vivo. E o que eu tenho experenciado tá mais ou menos na mesma. Digo isso quando falo de estrutura, dinheiro, organização. Minha experiência é no nicho punk, num âmbito menor, de shows menores. Num âmbito mais amplo não posso falar nada. Tem uma coisa estranha que vem rolando – e como disse acima, parece estar mudando – que é isso de as bandas estarem estranhas, poucos lugares para tocar, poucos eventos legais... Mas tem um monte de gente tentando mudar isso.

CV - Como você lida com o assédio, principalmente do público masculino? Ele rola de boa, o interesse é a música, ou ainda existem os chatos que ficam ‘marcando’ em cima?
DR - Hahaha, engraçado isso. Os dois. [...] Geralmente a galera que chega junto em show é mais pra tocar ideia, é raro alguém se ‘engraçar’ para meu lado, mas rola também. Acho que alguns também evitam porque inevitavelmente estou com meu namorado do lado, hehe.

POPFUZZ por Bruno J. - 17/12/2009

PF - Na sua opinião qual a importância dos coletivos no atual panorama cultural brasileiro?
DR - Acho legal quando as pessoas se juntam pra encontrar meios de realizar o que idealizam, o que acham relevante, etc. A criação de coletivos é uma das formas de organizar eventos, se mobilizar cultural e politicamente, e criar uma rede de cooperação para fins em comum. O problema que às vezes ocorre é que a ‘forma’ engole o ‘conteúdo’. Às vezes a preocupação excessiva com democracismos e consensos acaba por desmobilizar e atrapalhar ações que uma ou duas pessoas poderiam estar realizando de forma mais prática e dinâmica. Assim, acredito que os coletivos são uma forma de organização, mas não são a única e nem necessariamente a melhor. Estamos passando por um momento interessante nesse sentido, a quantidade de coletivos novos é enorme e espero que se estabeleçam de forma inteligente. Mas, independente da forma de organização, o importante é não parar de fazer acontecer.

PF- Por haver poucas mulheres no cenário hardcore e pela postura que a sua banda tem você sente que atrai a atenção de outras garotas para o hardcore?
DR - Nossa! Sinceramente? Eu gostaria! Hehe… É fato que existem poucas meninas, mas não só no hardcore e sim participando de uma forma mais geral, seja em banda, em zine, em coletivos… qualquer coisa. Sinto muita falta de ter outras garotas comigo neste barco e de ver, consumir coisas feitas por elas também. Mas fazer o quê? Eu já pensei em mil coisas, tentei enxergar mil caminhos pra isso mudar. Se eu acabar chamando a atenção delas, maravilha. Meninas, join me!

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