quarta-feira, 29 de setembro de 2010

"Alvorada", Nantes

Quem ainda não percebeu os indícios de claridade no horizonte da música sergipana possui nova oportunidade de apreciar o espetáculo esta semana. A Nantes lança o seu primeiro disco e toma parte num momento especial, em que os personagens de nosso cenário independente fazem a coisa acontecer por conta própria, sob o pretexto de apresentar as 13 canções reunidas em “Alvorada”.

O projeto é ambicioso, não foi concebido para animar multidões. A satisfação guardada nas composições de Arthur Matos é de uma natureza um pouco mais reservada, que pretende o deleite antes da alegria. Com “Alvorada”, a Nantes reivindica nosso deslumbramento.

Gosto é que nem braço – Toda manifestação artística nasce prenhe de comunicação. É na pretensão de alcançar o outro, esse ponto de interrogação monstruoso, que os poemas fogem das gavetas e pulam da página manchada para cair no coração dos leitores. O mesmo pode ser dito dos retalhos costurados pelo artesão ou dos acordes nervosos que moleques cheios de espinhas transpiram nas garagens do fim do mundo. A música só existe na cabeça das pessoas. Em território distinto, a música não passa de promessa, impulso frustrado, exercício estéril, freqüência, barulho.

Ocorre que gosto é que nem braço – tem gente que nem tem. Ao invés de empregar um esforço inútil para conciliar a sofisticação que caracteriza seu trabalho com a instabilidade do humor coletivo, os integrantes da Nantes apostaram na radicalização de suas propostas e deram corpo a esse que, provavelmente, será lembrado como um verdadeiro marco na história da música independente realizada aqui na terrinha.

Eu não conheço trabalho mais cuidadoso. “Alvorada” é rico em ambiências, linhas vocais ousadas, sonoridades pouco usuais, experimentações. Ao contrário da tara observada em produtos semelhantes, contudo, o exagero do aparato obedece exclusivamente às necessidades das canções. Ao invés do fetiche, o proveito. No lugar do excesso, a simplicidade. Dá gosto de ver músicos tão jovens esbanjando tamanha maturidade.

Curiosamente, as músicas mais econômicas foram as que funcionaram melhor comigo. A minimalista “Bem vinda chuva” – dedilhado e tempo marcado numa caixa de madeira, como uma cerâmica latejando – me ganhou pra sempre. “O céu” é outra que gruda logo na primeira audição. Mas o disco é diverso dentro de sua coesão. Não se espante ao perceber um banjo dividindo espaço com guitarras discretas. A julgar pelo resultado alcançado, Anselmo Pereira e Léo Airplaine (responsáveis pela gravação e mixagem do disco, respectivamente) tiveram um bocado de trabalho durante os seis meses gastos na confecção.

A festa de lançamento de “Alvorada” vai contar com uma galera de peso no palco do Teatro Lourival Baptista. Além do já mencionado Léo Airplane, os músicos Pedro Yuri (Elisa), Melcíades (Máquina Blues) e João Mário se juntam à banda na execução do repertório. Segundo o vocalista Arthur, “Alvorada” vai ser executado na íntegra, provando aos incrédulos que aquilo tudo que a gente escuta no disco existe de verdade.

Alvorada da nova música sergipana

por Rian Santos - riansantos@jornaldodiase.com.br

Fonte: Spleen & Charutos

Nantes realiza lançamento do álbum “Alvorada”

Local: Teatro Lourival Baptista
Data: 01 de outubro
Hora: 20 horas

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