segunda-feira, 9 de maio de 2011

A Walk on the wild side

"Quero meia hora de show da Karne Krua de volta e em dinheiro"

E mesmo quando não tem nada pra fazer na cidade, se tem muito o que fazer. Se quer ficar sentado num bar enchendo a cara e paquerando a migué, fique a vontade. A cidade ta cheia disso e, como é de costume, pode-se voltar pra casa bêbado e sem ter pego ninguém. Mas ontem teve a volta da Sessão Notívagos, tocou Eddie, de Pernanbuco, e Mamutes, que é daqui. Fora o filme de Sofia Copolla, acho que era dela (Nota: era.), sexta feira passada eu ouvi o Programa de Rock e Adelvan colocou um bloco com musicas de trilhas sonoras dos filmes dela. Beleza, mas eu não estava lá. Eu estava em outro evento, tocando com a Karne Krua.

Realmente não interessa aqui como foi o show da Sessão Notívagos, não é disso que queremos falar. É de outra parte da cidade, um lugar mais perto do submundo.

Garagem do Rock. Não vou comentar quem fez o show, isso também não interessa. O lance é a força de vontade de fazer a parada. Depois de um tempo tive que me contentar em pensar assim e tentar não me estressar com o monte de doideira (confusão) que acontece nesses eventos. Se a banda se predispôs a tocar, vamos ver no que vai dar. Garagem do Rock realmente é numa garagem, chão de brita e duas fileiras de cobertura onde se guardam os carros nos agitados dias "úteis" do centro comercial de Aracaju.

Pipus: casa de show destinado ao público masculino para saciar seus desejos sexuais, localizada na Rua Geru, centrão da cidade, do ladinho da garagem. Um trecho mais abaixo tem a esquina do "Maria Feliciana" (Nota: apelido do edifício mais alto da cidade, nosso "world trade center". Maria Feliciana é uma sergipana famosa por ter sido considerada a mulher mais alta do mundo), prostituição de todo tipo; e se quebra à esquerda chega no Bar do Meio. Entroncamento cabuloso que te joga pra Zona Norte da cidade, rota de fuga pra tudo quanto é coisa que uma noite no Centro da Cidade pode te proporcionar. A todo tempo se viam caras sinistras transitando na rua, guardadores de carros alucinados, cidadãos com cara de mala e carros cheio de machos com cara de matador. Gente "bêba" é o que não falta, além de viciados na pedra olhando para o nada. Um clima não muito agradável nem amigável. Ficar ligado para não ser roubado ou não rolar uma treta pior é sempre importante.

É nesse clima de submundo que acontece o outro lado do rock nesta bendita cidade. É ver que as coisas que sempre aconteceram continuam acontecendo. É quando se percebe que as coisas aqui realmente sofrem um atraso. É quando colocamos a maior fé que a maldição do cacique fez e ainda faz efeito. É a constatação de que parte do underground (tem que restringir e, mesmo sendo um texto literário, temos que nos importar com os egos de pé atrás dos produtores) parece ser a esponja da eterna maldição. Qual banda vai tocar agora? Qual a ordem das bandas? Quem souber morre! Aparelhagem de som um tanto quanto decente? É maluco de pensar nisso? É mais de uma década (da minha parte) vendo coisas desse tipo acontecerem, mas eu não estou mais numas de me estressar, então, por mais que o clima não fosse dos melhores, estava tudo de boa. E ai começa o mal estar do rock, onde uma banda quer tocar antes, outra acha que vai tocar, quando já tem outra banda montando seus instrumentos, onde a banda se esgoela toda pra fazer um show, mas porque ta na instiga de tocar. São longos anos arrastados pelas mesmas situações. Todas as bandas que tocam num show neste naipe estão lá por um mesmo motivo: INSTIGA EM QUERER TOCAR! É simplesmente boa vontade e instiga.

E a Karne Krua tocou. Tocou depois da Os Leprechauns (seja lá o que isso significa). Banda que tocou sons próprios e que de repente possa lançar um novo estilo de som: o Arrocha n’ Roll (nome produzido por uma breve conversa entre eu e Silvio, pois alguém da banda dizia que era fã de Pablo do Arrocha). Mas pelo menos os caras estavam tocando os sons deles, o que mostra que tem uma galera ai fazendo som próprio e isso é o que importa: dê sua roupagem ao seu conhecimento. “Quem toca cover tem a alma alienada”, uma bela frase, não?

Baixo: bem, o baixo dava pra escutar de boa. As vozes também, estavam de boa. A bateria: bateria faz barulho de qualquer jeito, o lance é o baterista ouvir o que está se tocando. Guitarra: no talo! E a caixa não conseguia berrar... E a tecnologia é uma coisa fantástica. Hoje temos ilhas de gravação de áudio e vídeo que fazem a gente falar com alguém que tá na casa da gota serena (só é ter conta ou crédito suficiente) e que podem registrar as coisas naquele momento, ao alcance da mão, pois costuma ficar no bolso (ou na bolsa, para mulheres). E é daí que você constata que as coisas realmente continuam as mesmas. Você ouve uma gravação de celular com qualidade de fitas K7 e percebe que antigamente se ouvia as fitinhas com uma ânsia de matar na gastrite. Quando a fitinha já tinha sido a milhonéssima vez reproduzida e tudo era uma chiadeira só, vocal estourado, baixo estourado, guitarra cortante de ruim, bateria de lata... aí era quando se empolgava mesmo e achava a banda mais underground do mundo, quando a maioria das vezes realmente era ... então tome aí e ouça: http://www.youtube.com/user/adilioapc16#p/a/u/0/pN4K3bZtv2A.Isso faz parte da tecnologia, não vai ser impresso, tá no computador, então vá lá e ouça ... como ouça um pedaço da confusão idiotizante que fez acabar o show da Karne Krua. Idealismos à parte, mas roda de pogo é pra se pogar, pra se divertir e como diz Silvio: “quando você vem para um show que tem banda de punk rock/hardcore tocando, tem que ir com o espírito desarmado”. E é assim que que um show acaba, com uma briga que nem começou direito. E é assim que o rock não acontece, porque acaba antes de mesmo ter começado a briga. É isso, to indo pra casa e quero meia hora de show de volta em dinheiro!

por Alexandre Gandhi Mendes Costa, guitarrista da Karne Krua

Fonte: Facebook

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