terça-feira, 21 de junho de 2011

The Baggios, o disco.

Os registros lançados até o momento não passaram de um aperitivo, aquela dose que a gente entorna pra limpar a garganta e preparar o palato para o que realmente interessa. O primeiro disco da banda The Baggios passa a história do duo formado por Julio Andrade e Gabriel Perninha a limpo e cristaliza, com o apuro e cuidado merecidos, o talento e vigor de uma das melhores bandas independentes em atividade no país. Ainda por cima, é coisa nossa!

Quatorze faixas costumam ser demais. Difícil encontrar alguém com paciência suficiente pra reservar uma hora do dia à audição de um disco inteiro, de cabo a rabo, sem pular nenhuma faixa. No caso da Baggios, contudo, as canções se sucedem numa espécie de vertigem barulhenta, como se um mantra pontuado por cortes de navalha e estilhaços de garrafas nos hipnotizasse e impusesse os riscos das madrugadas embriagadas. Hey, baby! Take a walk on the wild side.

Sim, em se tratando da Baggios, não consigo economizar adjetivos. Eu sou todo alegria e satisfação. Do material gráfico à energia impregnada nas patadas de Julico, um frontman sem paralelo, esse primeiro disco é primoroso. Do encarte repleto de momentos singulares, o cotidiano da banda eternizado pelas lentes da Snapic, à textura da gravação, que realça os timbres da guitarra sem desrespeitar a natureza visceral das composições, o disco não fica devendo nada às apresentações dos caras. É coisa fina, nascida nas entranhas.

Aqui e ali, em pequenos intervalos, algumas das influências (assumidas ou não) dos caras florescem. De Robertão (favor não confundir com a chatice mela cueca de Roberto Carlos) a White Stripes, passando pelo lamento rouco dos primeiros blueseiros, as canções da Baggios abraçam as melhores idéias que fazem parte da formação de seus músicos para retrabalhá-las de acordo com as próprias premissas e conveniências.

Diversos na unidade, os caras ainda contam com os auxílios luxuosos de gente como Léo Airplane, Matheus Santana e Hélio Flanders, além de encaixar um naipe de metais muito oportuno em “Quanto mais eu rezo” e na velha de guerra “Candango’s Bar”.Link

Difícil traduzir uma experiência por meio de um recurso tão limitado quanto a palavra. Aqui, talvez baste dizer que ouvir o primeiro disco da Baggios é justamente isso. Uma experiência sensorial comparável somente com uma aparição dos caras nos Cooks e festivais da vida. Você bebe feito um degenerado e transpira baldes, antes de voltar pra casa com a alma lavada – um trapo exausto e feliz.

por Rian - riansantos@jornaldodiase.com.br

Spleen e charutos

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