segunda-feira, 11 de julho de 2011

"Viva La Brasa" entrevista Edu K.

Punk, gótico, hardcore, headbanger, rapper, romântico, funkeiro, sadomasô e até emo. Mais camaleônico que David Bowie, mais esquizofrênico que Mike Patton, mais sonso do que o Latino... Estou falando do monstro mutante do rock gaúcho... Não, não é o Humberto Gessinger... Tudo bem, ele também é sem-noção, mas não vamos exagerar. Afinal de contas, Edu K é um cara legal.

Nascido em 1969 no lado paraguaio de Foz do Iguaçu, Eduardo Dornelles descobriu o que queria ainda criança, ao assistir James Brown na TV. No início da adolescência foi morar em Porto Alegre e conheceu Carlos Eduardo Miranda, famoso produtor musical e jurado do programa Qual É o Seu Talento?, na época apenas um gordinho cabeludo que tocava numa banda chamada Urubu Rei – de onde sairiam os integrantes do seu futuro grupo, o Fluxo, que ficaria mais conhecido como Defalla.

“Já fazia um tempo que eu estava com a idéia de fazer uma banda free jam maluca, tipo Grateful Dead, Mothers of Invention e Miles Davis na época do Miles Runs the Voodoo Down”, lembra Edu. “Quando eu conheci o Miranda, todo mês ele inventava versões novas das músicas do Urubu Rei e era sempre uma mais legal que a outra. Mal sabia ele, coitado, que ia me criar uma obsessão. O Miranda é o pai da neurose toda que gerou o Defalla. Mesmo que criássemos um molde, nós mesmos quebrávamos depois.”

Lançaram o 1º álbum pelo Plug, selo da BMG, e emplacaram uma canção no rádio, Não Me Mande Flores, só p/ abandonar o pós-punk e se jogar no hip-hop no disco seguinte, transformando Como Vovó Já Dizia de Raul num rap. Edu, metamorfose ambulante, passou a adotar acessórios de skate e peças femininas em seu visual. Perucas na fase hard rock, cabelão e roupas rasgadas na fase heavy metal. No Hollywood Rock em 93, abriu p/ o Red Hot parodiando Anthony Kieds, nu c/ um meião cobrindo os genitais, e raspou seus dreads cor-de-rosa em pleno show.

A banda estava no auge, havia recém-lançado um dos discos mais experimentais da música brasileira, KINGZOBULLSHIT BACKINFULLEFFECT92, que não só unia rap & rock como acrescentava samba à mistura – muito antes de Marcelo D2, Edu K já estava à procura da batida perfeita. Produziu faixas e álbuns inteiros p/ Nação Zumbi, Mundo Livre S/A, Pavilhão 9, Câmbio Negro, Funk Fuckers, Comunidade Nin-Jitsu, P.U.S. e até Tiazinha. É tão malandro que emplacou um hit no funk carioca mesmo sendo sulista: Popozuda Rock’n’Roll, a trilha sonora da Feiticeira.

Participou de vários projetos como Cyco, Elektra, Vernon Walters, Groo Brothers e Teenage Disco Hell, e em 95 lançou MEU NOME É EDU K, trabalho solo em que tirava onda de galã pop romântico, terninho e tudo. Canta como um negão do soul e berra feito uma diva do trash. Sua extensão vocal lhe valeu o convite de Allan Sieber p/ ser a voz de Jesus na animação Deus É Pai, premiada em Gramado em 99. No curta seguinte, Os Idiotas Mesmo, Edu dublou quase todos os personagens.

11 anos depois de sua estréia solo, lança FRENÉTIKO pelo selo Man Recordings do DJ Daniel Haaksman. O alemão não acreditou na fusão de Miami bass c/ funk do Brasil quando ouviu o disco MIAMI ROCK 2000, do Defalla. “Punk rocker Edu K’s combination of the brazilian hip-hop style known as baile funk and high energy rapping makes a sound that’s not a million miles away from vintage 1980s Beastie Boys, remodeled for the 21st century with generous helpings of sensuous reggaeton and electroclash”, disse Daniel. Eu poderia traduzir, mas soa melhor no original.

O novo álbum deu início a uma surpreendente carreira internacional. A música Gatas Gatas Gatas – clara referência a Girls Girls Girls do Mötley Crüe – ganhou clip dirigido por Bryan Barber, o mesmo de Hey Ya! do Outkast, e entrou na trilha de campanhas publicitárias da Nike, Coca-Cola e Sony Ericsson. Edu já botou som em festas na Europa, Austrália e Israel, remixou faixas de artistas gringos da nova geração como Cowgun, Don Omar e Act Yo Age, e lançou 2 EPs em 2009 pelo selo australiano Sweat It Out: RAVER LOVIN' e HEADBANGER.

Em maio, retornou c/ a formação clássica do Defalla. Ao lado de Biba, Castor e Flu, tocou o repertório do 1º disco em duas apresentações seguidas no Beco 203, em POA, e já se apresentou 2 vezes em SP, a última delas ontem, no festival Gig Rock. “Tu percebes que eles têm um tema da música e na hora do show meio que ‘ah vamos pirar e ver o que acontece’...”, diz o andrógino, que continua desafiando a semiótica e fazendo sucesso c/ a mulherada. Atualmente, Edu namora uma morena catarinense linda.

Conversei c/ ele logo após a primeira noite de shows e só terminei de entrevistá-lo esta sexta-feira. O processo foi lento mas o barato foi louco, espero que vocês se divirtam lendo tanto quanto eu me diverti fazendo. Artista de vanguarda, músico de ouvido, gênio da chinelagem, nascido p/ ser palhaço; Edu K é o cara... de pau.

Clique AQUI para ler a entrevista.

por Adolfo Sá.

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