quarta-feira, 3 de agosto de 2011

Judas Priest, uma entrevista

Renovado - Com a entrada de novo integrante, Judas Priest desiste de aposentadoria, segue em turnê que passa pelo Brasil em setembro e se prepara para gravar novo álbum.

por Marcos Bragatto, para o Rock Em Geral

Parecia que, depois de 40 anos bem curtidos no heavy metal, o Judas Priest iria pendurar as guitarras. O grupo chegou até de batizar a turnê anterior de “Turnê de Despedida”, mas voltou atrás e segue em frente. Agora, o Judas volta ao Brasil, em setembro, para shows junto com o Whitesnake (detalhes aqui), repetindo a dobradinha dede 2005, que passam por quatro capitais, dentro da “Epitaph Tour”, na qual o grupo inclui músicas nem sempre presentes no repertório de palco. Entre uma turnê e outra, uma baixa: o guitarrista KK Downing, integrante fundador, decidiu se aposentar. Para o lugar dele, rapidamente Richie Faulkner, quase 30 anos mais novo, foi chamado.

Faulkner já havia tocado em bandas britânicas de menor projeção como o Dirty Deeds e no grupo de Lauren Harris, a filha do baixista e líder do Iron Maiden, Steve Harris. E parece que a entrada dele resultou naquele típico caso de banda veterana que ganha um gás novo a partir da entrada de um integrante. Elogiado por todos na banda, sobretudo o parceiro das seis cordas Glenn Tipton, Faulkner assume o protagonismo dos solos em várias músicas da atual turnê. A coisa deu tão certo que, além de o Judas não acabar, já vai entrar em estúdio para gravar um álbum de inéditas com essa formação – Além de Faulkner e Tipton, estão na banda o “Metal God” Rob Halford (vocais), Scott Travis (bateria) e Ian Hill (baixo).

Foi este último que conversou conosco sobre tudo isso, via celular, diretamente do “meio do nada”, na Espanha, num domingão em que o grupo saía de Madri e ia para Bilbao. Hill, outro integrante da formação original, explicou essa história da despedida que não aconteceu, do cansaço das longas turnês, de como devem ser os shows no Brasil, da gravação do novo álbum e da inusitada participação do Judas num programa de TV popularesco nos Estados Unidos. Aproveite!

Rock em Geral: Vocês estão no meio da turnê européia agora, como está indo?

Ian Hill: Está tudo indo bem, a turnê está muito boa. Ontem mesmo fizemos um grande show, em Madri, para um público muito bom, um lugar bem grande e ficou lotado.

REG: Vocês não costumam mudar o repertório dos shows durante a turnê (veja aqui), mas há a chance de termos novidades nos shows do Brasil?

Ian: De repente, sim, podemos mudar. Mas o certo é que nessa turnê estamos tocando músicas de todos os discos. Montamos o repertório de modo a atender o interesse dos fãs por cada fase de nossa carreira, por isso mudamos pouco, porque em geral essas músicas já satisfazem aos fãs. O show tem em torno de duas horas.

REG: Em 2005 vocês estiveram no Brasil, numa turnê foi junto com o Whitesnake, que é o que vai acontecer de novo este ano…

Ian: É verdade, nós nos damos muito bem, seja qual for a formação deles. Nos conhecemos já há bastante tempo, já fizemos muitas turnês juntos. São bandas diferentes, e há pessoas que vão ao show para ver o Judas Priest e outras que só querem ver o Whitesnake. Mas, basicamente, é o mesmo público. Podemos até dizer que no público do Whitesnake tem gente que - sei lá - goste de música mais comercial, mas eles tiveram várias fases na carreira, assim como nós, e em muitas delas as duas bandas são bem parecidas.

REG: Como estão as coisas com o novo guitarrista, Richie Faulkner?

Ian: O Richie está muito, muito bem entrosado. Ele se encaixou bem na banda, é como se estivesse conosco há anos, foi a melhor escolha que podíamos fazer, ele parece ter o “sotaque” da banda. Ele está trabalhando muito bem e deu tudo certo.

REG: Quando o KK Downing decidiu parar, vocês anunciaram o substituto muito rapidamente. Vocês já conheciam/tinham contato com Richie?

Ian: Nós não tínhamos o Richie à disposição. Ficamos na nossa por alguns meses, até porque talvez o Kenn pudesse mudar de idéia. Quando perguntamos a Richie se ele poderia entrar para a banda, ele logo disse que sim, e graças a Deus conseguimos resolver rápido. O Kenn queria parar, mas precisávamos seguir em frente. E o Richie já conhecia boa parte das músicas, e por causa do empenho dele em se adaptar, foi tudo realmente muito rápido. Quando vimos, não precisávamos procurar mais, já tínhamos um substituto.

REG: Por que você acha que o KK Downing decidiu deixar a banda agora?

Ian: Acho que simplesmente, no final do dia, ele não estava satisfeito com o que estava fazendo e decidiu parar. Foi simples assim, na verdade.

REG: Vocês chamaram a turnê anterior de turnê de despedida (“Farewell Tour”), isso teria a ver com a decisão de KK Downing? Em algum momento vocês todos pensaram em parar, a banda toda, antes de optar pela troca de um integrante?

Ian: Não, não, isso foi bem antes. E depois decidimos continuar a despedida. Quando demos o nome a essa turnê não quisemos anunciar a nossa aposentadoria, porque vamos continuar a gravar discos, não vamos acabar com a banda. Só não vamos fazer turnês tão grandes, passando por tantos lugares como temos feito em todos esses anos, turnês que duram dois anos ou mais. Então, nesse sentido, é a última. Mas estamos abertos a tocar, ainda mais agora que estamos com um novo guitarrista e curtindo o momento. Depois desses shows da América do Sul, vem México, Estados Unidos, Japão e Austrália. É muito tempo longe de casa, não somos tão jovens quanto antes, então essa é certamente a última grande turnê mundial. Mas não é o fim da banda.

REG: Então esses serão os últimos shows no Brasil?

Ian: Não necessariamente, quem sabe não voltamos? Mas não seria dentro de uma turnê tão grande. Faríamos América do Sul e voltaríamos para casa. O problema é a duração das grandes turnês.

REG: Como está a gravação do novo álbum? Muito material novo?

Ian: Sim, já temos algumas músicas, algumas idéias para novas músicas em que temos trabalhado no meio da turnê, mas ainda não tivemos a chance de organizar tudo. Na medida em que a turnê for terminando, vamos fechando isso.

REG: Já há um produtor definido e data para o início das gravações?

Ian: Ainda não, mas provavelmente vamos produzir nós mesmos, como costumamos fazer. Na verdade só vamos pensar em datas, prazos e esquemas de trabalho desse novo disco quando a turnê estiver perto de acabar.

REG: É verdade que vocês pretendem fazer um disco mais “old school”, em vez de algo conceitual como aconteceu no “Nostradamus”?

Ian: Pode ficar seguro que vai ser um disco clássico do Judas Priest. Depois do “Nostradamus”, que eu gosto bastante, temos voltar a algo parecido com o “Angel of Retribution”.

REG: Você acha que a troca de guitarristas pode alterar a forma de vocês gravarem esse disco?

Ian: Ah, deve ser diferente sim, o Ken tem uma personalidade forte, e o Richie também tem o jeito dele de fazer as coisas. É algo que não sabemos ainda como será, mas vamos descobrir assim que entrarmos em estúdio. Temos uma nova dupla de guitarristas e precisamos ver como ela funciona na hora de compor. O Richie tem assumido partes principais nos shows, ele sugere muitas coisas ao Glenn, o que é ótimo.

REG: E você, como baixista, tem grande participação na feitura de um disco?

Ian: Sim, faço as bases para as músicas e muitas vezes modificamos a idéia inicial a partir de uma linha de baixo. Eu e o Scott trabalhamos muito juntos, acho que influenciamos bastante no arranjo final das músicas, sim.

REG: E aquela participação no “American Idol”?

Ian: Nos divertimos muito, tocamos ao vivo, foi muito estranho. Mas levamos o heavy metal a uma audiência que nem sempre ele tem. Foi divertido. Em princípio não sabia o que esperar, não achei que fosse uma coisa boa para nós, mas sempre é bom ter a chance de aparecer na TV para uma banda cuja música não é feita para tocar em programas populares. Era uma chance de chegar a vários países, a muitas pessoas, e é sempre uma boa fazer algo assim, ainda mais tocando heavy metal.

REG: Falando desses 40 anos, qual é a imagem da carreira do Judas que vem à sua cabeça agora?

Ian: Tanta coisa boa já aconteceu em 40 anos, muita coisa nem lembro mais… Mas a sensação de ver o primeiro disco pronto, e de lançar o disco num show, isso é inesquecível. Coisas como tocar em grandes festivais, a primeira vez nos Estados Unidos, a primeira vez no Brasil, a primeira vez em cada país diferente é sempre algo excitante. É muita coisa em 40 anos!


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