sexta-feira, 26 de agosto de 2011

Werden, esse ilustre conhecido

Werden Tavares, 30, é um publicitário “do rock”. Mas ao invés de ficar só nos headphones, em solitárias andanças atrás de discos novos pela internet, o Werden resolveu convergir seus interesses e virar documentarista de música. Amante do audiovisual e músico, o Werden já gravou quatro documentários, sendo um deles intitulado “Rock Sergipano: esse ilustre desconhecido” – produto do seu trabalho de conclusão de curso. Em entrevista, esse estudioso da música sergipana fala da qualidade do som feito aqui na terrinha, e do cenário musical que vem se configurando com a ousadia da ‘nova geração’.

e-Sergipe – Como você começou a fazer documentário? E de que forma surgiu o desejo de falar do rock sergipano?

Werden – As coisas foram acontecendo naturalmente. Na verdade, eu sempre tive banda (ex-‘Os Verdes’, e atual carreira solo) e andei com os caras do rock daqui. Nessa época eu estava prestes a me formar em Publicidade e, como gostava muito do audiovisual, acabei unindo o útil ao agradável: vídeo-documentário, rock e o gosto pela música. A partir disso eu não parei mais. Sempre que surgia algo referente ao rock sergipano para fazer, nós criávamos algo especial lá na *Aperipê: assim surgiu o ‘Especial Aperipê Rock Sergipano’. Logo depois, eu acompanhei a banda ‘Plástico Lunar’ numa mini-turnê pelo Nordeste. Na ocasião, eu preparei o documentário ‘Coleção de Viagens Espaciais’, este que é o nome de um dos CD’s da Banda. Já o último que eu fiz foi o ‘Music From Sergipe’, que tratava de algo de música sergipana de uma forma mais geral, buscando falar de outros estilos fora do rock.

*O publicitário compôs a equipe da emissora de TV sergipana por quatro anos.

e- Sob o seu ponto de vista de documentarista, quais os elementos do rock sergipano que contam a história da identidade local?

W- Existe identidade no rock sergipano, e explico o motivo. O rock daqui é mais abrangente do que em outros lugares. Lá fora você tem uma cena dividida em nichos, tipo o reggae, o rock, o punk rock, o que não acontece aqui. Nós juntamos tudo e criamos um som singular. Exemplos disso são as composições de bandas como ‘Reação’, ‘Plástico Lunar’ e ‘Naurêa’. São estilos diferentes, mas com a pitada do rock. E além da identidade das bandas, tem o fato de os músicos tocarem em várias bandas diferentes. O Léo, tecladista da ‘Plástico Lunar’, por exemplo, toca comigo, com a Naurêa, na ‘Banda dos Corações Partidos’ e até na Orquestra Sanfônica. São cinco coisas totalmente diferentes e que, a princípio, não tem nada a ver, mas que no fundo compartilham em essência sergipana. Como Sergipe é um estado pequeno, onde todos se conhecem, acaba tendo uma confluência de produção entre as bandas.

e - … e a que se deve essa confluência?

W- Talvez por não terem tanto poder econômico, essas bandas se ajudam. Vou citar um exemplo de união: No Manguebeat, o DJ Dolores*, que também é designer, combinou de fazer a capa do disco da galera. O produtor Paulo André produzia os shows do pessoal. Ou seja, independente dos estilos, esse espírito de cooperativismo também funciona por aqui. Há alguns dias, houve um show da banda sergipana Cabedal para a despedida do baixista deles, onde o vocalista da Naurêa Alex Sant’anna e o da Maria Scombona, Henrique Telles, fizeram participações para ajudar a atrair público. Outra explicação para essa interação é o fato de termos poucos lugares para tocar. E quando tem, precisa-se de vários tipos de públicos. Nós trabalhamos juntos, numa sinergia só. A necessidade faz a união, e acaba criando uma identidade.

*Helder Aragão – o DJ Dolores – além de ser DJ, é designer.

e- Depois do lançamento do primeiro CD, vimos a grande aceitação que a banda sergipana ‘The Baggios’ está tendo no cenário nacional e internacional, emplacando boas resenhas em vários blogs. Pra você, em que nível a The Baggios carrega essa identidade sergipana?

W- Pra mim a The Baggios é uma das bandas mais completas da cena independente nacional, por isso há tanta repercussão com o lançamento do álbum. Os traços de sergipanidade da banda estão no sotaque de *Julico e em alguns elementos instrumentais que eles incluem de forma sutil. Regionalismos à parte, existe uma assinatura característica no som da ‘Baggios’, o que dá a eles uma cara cosmopolita. São influencias do grunge, do blues, do rock inglês…talvez essa mistura de coisas universalize o som da banda e o tempero regional seja a assinatura.

*Júlio Andrade é o vocalista da The Baggios, e é natural do município de São Cristóvão – cidade histórica, localizada na Grande Aracaju.

e- Com relação ao lançamento de trabalhos novos e autorais, que também estão sendo elogiados, a o que você atribui esse movimento?

W- Manter uma banda em Aracaju requer um grande esforço. A ‘Road to Joy’, por exemplo, é formada por músicos que não utilizam o som como fonte principal de renda. Eles tocam por prazer, essencialmente, e estavam há muito tempo gravando, tiveram tempo para apurar o som e fazer uma música com muita qualidade. Com a ‘Nantes’ foi o mesmo processo. Tocaram, participaram de shows e turnês até chegar o momento de gravar o disco. Gravaram com calma, semelhante a Road to Joy, e o resultado também foi muito bom. Se você toca e tem um material de qualidade, a tendência é o sucesso.

e- Você citou qualidade. Fora a música em si, as pessoas que trabalham na criação, produção e divulgação da música são mais especializadas hoje em dia? Isso favorece o crescimento da música sergipana?

W- Com certeza. Obviamente que não há ninguém que foque apenas na produção. Muitos também são músicos e que trabalham de forma múltipla e diversificada. As capas de CD das bandas sergipanas atualmente são muito boas, e esse é um aspecto importante, pois a capa, o encarte e todo o material visual são o caminho para levar alguém a ouvir um som. O *Paulo André me disse uma vez que ele recebe muitos CDs e materiais de bandas do Brasil inteiro. Para selecionar, a primeira triagem se dá no material visual. Se for feio, ele já descarta. Com exceções, logicamente. O seu material artístico é um produto para o público. E o primeiro passo é ser bonito. Hoje, o nosso produto é de qualidade, as músicas são boas e o material é bem planejado.

*Paulo André é produtor do festival Abril Pro Rock, que acontece anualmente em Recife (PE).

e- Com essa ‘profissionalização’, em que nível as melhores bandas daqui já se consolidaram nacionalmente?

W- A ‘Plástico Lunar’, hoje, é uma das maiores bandas do país. Ela foi uma das bandas mais desejadas em festivais pelo Brasil inteiro, a exemplo do Goiânia Noise e Bananada, ambos em Goiânia, e do Psicodália, que acontece sempre na região sul. A The Baggios é a mesma coisa, e a prova disso é que ela será lançada pela gravadora Deckdisc, do Rafael Ramos, o cara que lançou Raimundos e Mamonas Assassinas. O Rafael pirou quando escutou The Baggios.

e- Conta pra nós um pouco da experiência de ter acompanhado o Plástico Lunar ao festival Psicodália para a gravação do documentário ‘Coleção de Viagens Espaciais’. Como é o processo de conceber um documentário sobre música?

W- A ideia do ‘Coleção de Viagens Espaciais’ nasceu, na verdade, durante a viagem com a Plástico Lunar ao Psicodália. Lá eu confirmei o que eu já supunha, que eles são uma das bandas mais cultuadas no meio independente nacional e que precisavam de uma divulgação maior e um material mais consistente. Quando eles me disseram que iam fazer uma tour pelo NE e que incluía o Abril Pro Rock (maior festival independente do Brasil) eu pensei que era a hora certa para esse registro. O vídeo mostra uma banda de rock viajando pelo Nordeste até a “meca do Rock nacional”: o ABP. Acabou sendo mais que um registro simples de rock tour.

Além dos elementos comuns de roteiro, as coisas que foram surgindo na viagem foram dando o tom do documentário. Impossível viajar com o pessoal da Plástico Lunar, que são meus amigos há mais de 10 anos, e não colocar as piadas e as coisas engraçadas que acontecem nas viagens.

e- A internet ajuda muito a divulgação das bandas menores, que estão começando agora, mas quem faz música quer tocar ao vivo. Na sua opinião, o que falta para as bandas menores quebrarem a barreira territorial de Sergipe e fazerem mais shows pelo Brasil?

W- Primeiramente, falta um circuito de shows aqui mesmo. Tirando o *Coverama, o último grande festival que houve aqui foi o “Nada pode parar o Rock”, realizado por mim em 2006, que trouxe bandas de fora e também contou com as bandas daqui de Sergipe. Apesar do ótimo trabalho do Rock Sertão, em Glória, nós precisamos de algo no eixo da capital, Aracaju, e pra isso precisamos de iniciativo e união. Além disso, os circuitos e festivais proporcionariam às bandas maior rentabilidade para gravar CD e se projetarem pra fora. Eles poderiam viver disso. Nós precisamos também de mais lugares pra tocar, mais casas de show.

*Festival sergipano que premia a melhor banda cover.

Fonte: e-sergipe

Nenhum comentário:

Postar um comentário