terça-feira, 24 de janeiro de 2012

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É oficial: Morrissey volta ao Brasil em março! Depois de muito disse-me-disse nos últimos dias, foram publicadas hoje no site "True to you" as datas e locais dos shows no Brasil, que acontecem em março. O ex-vocalista dos Smiths se apresenta em em Porto Alegre, no Pepsi On Stage, no dia 7; no Rio de Janeiro, na Fundição Progresso, no dia 9; e em São Paulo, no Espaço das Américas, no dia 11. Uma segunda data em São Paulo seria confirmada, no caso de a primeira ter grande procura. Detalhes como valores de ingressos e esquemas de venda dependem das confirmação dos produtores locais.

Abaixo, a transcrição da entrevista publicada recentente na revista Billboard e reproduzida no site Aeropsicodelico. Mais uma da Escarro Napalm Unauthorized Reproductions Inc.

Ele tem uma autobiografia e um disco a caminho, uma coleção luxuosa dos Smiths pronta, nenhuma gravadora e total desinteresse por estratégias de mercado à Radiohead. Aos 52 anos, Morrissey não quer nada com o mundo pop de “McDonna” e não dá bola para a tietagem de Lady Gaga.
Não é supresa que Steven Patrick Morrissey tenha um problema pra resolver com o mundo. Faz quase dois anos e meio desde que saiu o último álbum do influente cantor pop com voz de barítono – Years Of Refusal (Decca/Universal) – e, de lá para cá, o ex-líder dos Smiths já superou um monte de obstáculos. Ele compôs seu décimo álbum solo “que paira de maneira selvagem contra os limites”, estreando três músicas: "Action Is My Middle Name", "The Kid's A Looker" e "People Are The Same Everywhere", na rádio BBC em junho.
Mas, como Morrissey revelou recentemente, nenhuma gravadora irá lançar o material para sua legião internacional de devotos, que têm se fixado em sua letras com influência do estilo de Oscar Wilde (1854-1900) há quase 30 anos. Ele continua a excursionar, como andou fazendo até o início de agosto em sua terra, o Reino Unido, e pela Europa (“eu precisaria herdar uma fortuna se quisesse ir à América do Sul”, declara o sarcástico cantor).
Ele tem pronta uma autobiografia que, reitera, não será publicada até dezembro de 2012. Na lista de notícias espantosas do mês passado, fãs ficaram sabendo que Moz foi atacado por um cão em Malmö, na Suécia, tendo sofrido ferimentos no dedo indicador. Outra novidade é a caixa The Smiths Complete – Deluxe Collectors, com todo o material da banda em CD e vinil, em pré-venda pela Rhino Records, pela bagatela de R$ 640. Mas, com sua forma de se expressar muito pessoal e explícita, Morrissey, de 52 anos, ainda está detonando. Ele fala à Billboard como o mundo da música está sufocado, de como seu contrato com a Universal desmoronou e de como reagiu à tietagem de Lady Gaga. E, do jeito que só Morrissey poderia fazer, desafia Madonna a ser um pouco mais como a legendária Edith Piaf. Como declarou em seu single exagerado de 1989, "The Last Of The Famous International Playboys": "Oh, I can't help quoting you / 'Cause everything that you said rings true" (Não posso evitar citar você/ Porque tudo o que você disse soa verdadeiro). Amém.

Billboard: Você recentemente tocou no festival de Glastonbury e no Hop Farm (festival britânico de música) e em festivais como Coachella no passado, onde você foi uma grande atração. Imagino que essas performances o coloquem cara a cara com muitas bandas novas – muitas das quais com certeza citam você como influência. Alguém chegou a declarar isso pra você agora?
Morrissey: Muitos fazem isso e cada ano parece trazer uma nova safra de bandas que me dirigem cumprimentos lisonjeiros. As músicas dos Smiths com certeza têm uma impressionante longevidade. Até a Lady Gaga disse pra mim: “Você me mostrou como se faz”. Não tenho ideia do que ela queria dizer com isso.

Como foi amplamente noticiado, você não tem contrato com gravadora, mas você tem um novo álbum pronto para ser gravado. Houve algum contato com algum selo desde que começou a falar do assunto por aí?
Nenhum. A Universal disse que está interessada, mas a comunicação deles tem intervalos que duram oito semanas, por isso é óbvio que não estão falando muito sério.

Como, exatamente, você acabou ficando sem gravadora? O que aconteceu com a Universal?
A Universal e meu empresário na época [Irving Azoff] decidiram lançar meu último álbum, Years Of Refusal, durante as semanas do Brit Awards, uma situação na qual alguém como eu não podia vencer, pois sou o exato oposto daquela abominação do prêmio. Eu sofri muito enfrentando a torrente usual de propaganda do Brit Awards, e meu relacionamento com a Universal e com meu empresário foi arruinado devido a suas más escolhas. Tudo importa.

Qual seria o melhor cenário possível para você com este álbum? Tem alguma gravadora em mente? Indie ou grande?
Sou independente por natureza. Sou um artista independente mesmo quando estou numa grande gravadora. A palavra indie não faz mais sentido hoje em dia. Ela foi usada em excesso e as pessoas acham que significa apenas "cabelo verde".

Você recentemente tocou novas músicas na BBC Radio 2. "Action Is My Middle Name", "The Kid's A Looker" e "People Are The Same Everywhere", que aliás, tem títulos sensacionais. De todo o material novo, por que escolheu gravar e estrear essas?
Elas têm uma pegada de "subindo no ringue" que parecia ser algo essencial para transmitir na fase atual.

O que acha do que está acontecendo no mundo da música hoje? Existem figuras dramáticas como Lady Gaga reinando no pop, mas você acha que isso é algo novo e diferente em relação ao que já viu antes?
Eu digo sem amargura que não há nada de novo na ideia de uma mulher que está no controle, mas estou cansado de ver cantoras que não conseguem cantar uma música sem buscar ajuda de 750 dançarinas frenéticas para fazer a parte erótica. Isso é, na verdade, algo fraudulento e o exato oposto de erótico. Edith Piaf era baixinha, sempre vestia um modesto vestido preto e cantava sem a ajuda de cenários ou luzes. E sua voz tonitruava acima dos ventos, com o mais incrível poder de comunicação. Gostaria de ver a McDonna [Madonna] tentar fazer isso.

Do ponto de vista da indústria da música, tudo mudou. Você já se declarou uma espécie de tradicionalista nesse sentido. Quais aspectos dos negócios da música atual mais o frustram?
Apesar de tudo ser aberto, a música parece de repente ter ficado estagnada. Não há músicas sobre consciência social. O ano de 1971 de repente parece muito radical em comparação. Mas não dá para reclamar muito senão você começa a soar como uma freira enclausurada.

Quando você assinou com a Sanctuary, antes de You Are The Quarry, a gravadora reviveu a Attack para seus lançamentos e também foi sugerido que você atuasse como uma espécie de profissional de Artistas e Repertório. Você realmente trabalhou com novos artistas como parte desse processo?
Sim. Eu tive alguns sucessos pessoais com posições na parada para Jobriath, James Maker, Nancy Sinatra, Kristeen Young... Nas regiões mais baixas, mas, como sempre, a execução radiofônica era completamente impossível. Todos eles foram lançados pela Attack, que foi um empreendimento criado por mim e meu empresário da época, Merck Mercuriadis. Foi muito divertido.

Você declarou ao site Pitcthfork recentemente que não tem interesse em ser inovador em termos de lançamento de música por conta própria (como fez o Radiohead). Isso é porque você tem pouco interesse especificamente em estar envolvido no aspecto de business da música ou é alguma outra coisa?
Eu não quero me envolver com orçamentos de marketing, promoções online e esquemas de download porque isso seria mais ou menos como Gertrude Stein [escritora americana, 1874-1946] mapeando uma campanha de TV. Quero cantar. Quero viabilidade. Eu sou, em essência, Al Martino [crooner e ídolo ítalo-americano, 1927-2009], não Seymour Stein [legendário executivo americano de gravadora].

Você tem planos de estender sua turnê atual ou de tocar fora da Europa?
A turnê é incrivelmente cara e, sem patrocínio ou uma tia rica e solteirona, não dá pra viajar muito longe. Preciso herdar uma fortuna para chegar até a América do Sul, por exemplo. A Austrália para mim é como se fosse Plutão.

Você tem um vasto catálogo e obviamente seus fãs têm fortes opiniões de quais músicas querem ouvir num show. Como você decide quais músicas antigas vai incluir no seu setlist?
É algo que faço para mim mesmo. Eu ia achar a ideia de compilar um setlist que não me deixe muito empolgado como algo muito restritivo. Sentir o fogo por dentro é essencial, do contrário, você acaba como o Michael Bublé – famoso, mas sem significado.

Fale-me um pouco da autobiografia na qual está trabalhando. O que originou o desejo de contar sua própria história?
Vejo isso como o apogeu sentimental dos últimos 30 anos. Ela não será publicada até dezembro de 2012, o que me dá tempo bastante para juntar tudo que tenho numa caixa e desaparecer no centro do Brasil. Os inocentes serão nomeados e os culpados protegidos.

Você é uma lenda no mundo da música: fãs o abordam pelas ruas e tatuam sua imagem em seus corpos. Ainda assim, você é conhecido pela natureza autodepreciativa. Você alguma vez parou para pensar sobre esse paradoxo?
O paradoxo é que eu não sinto amor por quem sou como ser humano, mas tenho imenso orgulho da música que faço e acredito que ela ocupa um lugar importante. Outros acham o mesmo também, e as milhares de pessoas com tatuagens do Morrissey com certeza provam algo nesse sentido.

(Por Jillian Mapes)



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