segunda-feira, 6 de agosto de 2012

Celso Blues Boy sempre brilhará ...


Chorar eu não vou. Festejar sua partida também não. Falei com ele que não queria que ele nos deixasse. Sei que o buraco que ele deixa no meu peito é maior do que o tempo que ele me deu de vida e alegria. Sei também que está fazendo uma boa viagem porque me falou que Deus o trouxe sem ele saber como e que Deus o levaria sem ele também saber como. Por isso ele sempre esteve nas mãos de Deus. Era assim o Celso Blues Boy – ranzinza e delicado, incrédulo e fiel às suas  vontades. Sei que sua guitarra era como ele : linda, amorosa, transparente e única. Nada como a de ninguém. Celso Blues Boy, simplesmente o MAGO DA GUITARRA como sempre me referi a ele desde os releases de 1982 do Rock Voador. Foi  um tempo longo  que voou e nunca ficou velho. Nem ele.  Voa Celso ! Voa !

Maria Juçá, no Blog do Circo Voador

O músico Celso Blues Boy, de 56 anos, morreu por volta das 8h50m desta segunda-feira em sua casa, em Joinville, Santa Cantarina, onde vivia há mais de uma década. Cantor, compositor e guitarrista, Celso sofria de câncer na garganta há cerca de um ano. De acordo com o Serviço de Verificação de Óbito de Joinville, Celso mantinha a existência da doença em segredo e se recusou a fazer os tratamentos necessários. A pedido do próprio Celso, seu corpo não será velado e já foi encaminhado para um crematório em Blumenau.

Nascido Celso Ricardo Furtado de Carvalho, o músico começou a tocar profissionalmente na década de 1970 e, aos 17 anos, já atuava como apoio a grandes nomes da música como Raul Seixas, com quem gravou "O diabo é o pai do rock". Considerado um dos maiores guitarristas do Brasil, tocou ainda com Sá & Guarabyra, Renato e Seus Blue Caps, Luiz Melodia e Cazuza - com quem gravou a faixa "Marginal" -, além de fazer parte das bandas Legião Estrangeira e Aero blues.

O reconhecimento de seu trabalho solo veio com a ascensão do rock brasileiro na década de 1980, apoiado pelo surgimento da rádio Fluminense FM, das Noites Cariocas, de Nelson Motta, e do Circo Voador. É dele o recorde de shows da casa da Lapa: em 30 anos de história, Celso Blues Boy subiu ao palco do Circo 104 vezes. A 105ª seria no dia 23 de outubro, em comemoração ao aniversário do Circo. (Aliás, uma curiosidade: o outro campeão de apresentações na casa, Severino Araújo - da Orquestra Tabajara -, morreu no último dia 3).

Seu primeiro disco, "Som na guitarra", foi lançado em 1984, com seu maior sucesso, "Aumenta que isso aí é rock'n roll", e outros hits como "Blues motel" e "Rock fora da lei" . Celso ainda participou da trilha sonora de filmes clássicos do período, como "Rock Estrela" e "Bete Balanço".

Na década de 1990, passou a se apresentar regularmente na Europa, quando estreitou laços com B. B. King, seu maior ídolo, que participou da faixa "Mississipi", em homenagem ao lendário Robert Johnson, do disco "Indiana blues", de 1996. Em 2011, lançou o bem humorado "Por um monte de cerveja", seu derradeiro trabalho. Nos últimos tempos, Celso vinha excursionando pelo Brasil quando, em julho deste ano, sofreu uma paralisia facial, que o impediu de fazer algumas apresentações agendadas. O músico subiu ao palco pela última vez no dia 7 de julho, no SESC Santo Amaro, em São Paulo.

O Globo

EM – Desde então não fez outra coisa na vida?
CBB –
Nem poderia. Se guitarra eu já não sei, imagina o resto (risos).

EM - Antes de se bandear para o blues, você havia trabalhado com o Raul Seixas e Renato e seus Blue Caps. Já era ligado na cena roqueira. Morar no Rio é muito mais fácil, não é verdade?
CBB –
Sou carioca, mas morava em Blumenau. Eu tocava e gostava de escutar. Depois vim para o Rio e o Sá e o Guarabira me chamaram. Fazia baile antes e estava tocando no conjunto Legião Estrangeira, 72, 73, por aí.

EM – Quem te deu o apelido de Celso Blues Boy foi o Sá. Porque, você atazanava a vidas dos caras ouvindo blues o dia inteiro?
CBB –
O Sá e o Guarabira foram verdadeiros pais pra mim. Um dia o Sá falou: “Pô, se você for fazer um xote vai ficar parecido com blues” (risos).
EM – Já tinha uma pegada blueseira?
CBB –
Já, eu conhecia sem saber. Porque um tio avô que não tinha filhos mandava uns discos pra mim dos Estados Unidos. Eu escutava o dia inteiro, mas não sabia nada, não conhecia nada. Quando retornei ao Rio muitos anos depois, não me lembro com que idade, acho que 16, tinha um pessoal que tinha voltado de morar nos Estados Unidos e me chamaram pra uma festa na casa deles. Então tinha bateria, contrabaixo, aquelas festas dos anos 70. Aí eles me mandaram tocar. Comecei a tocar, o outro também e um outro disse: “Ué, vocês do Brasil já conhecem blues?”. Eu disse que não conhecia e ele me disse que o que eu estava tocando era blues. Eu disse que era de um disco que tinha lá em casa. Um dia eu mostrei o disco para um dos caras e ele disse: “Isso é B.B. King, rapaz”.

EM – Você viajou muito para o exterior pra tocar?
CBB –
Sim, mas faz muito tempo que não vou. Parei porque não pode fumar no avião.

EM – Então você está nessa de blues antes do Aero Blues?
CBB –
No meio dos anos 70 abriu o primeiro pub de blues, era o Appaloosa. Aí eu fiz o Aero Blues que tinha um monte de música minha e que depois até cheguei a lançar na carreira solo. A gente tocava lá de terça a domingo com a banda residente que era o Aero Blues. A gente tinha um público muito grande e nos finais de semana fazíamos três, quatro shows. O Brilho da Noite já era uma música muito cantada, mesmo antes de ser gravada era muito conhecida. Começou a chegar gente de fora, os músicos queriam tocar com a gente, o Azimuth, o Sérgio Batista... Foi uma época boa porque juntava muita gente. Justamente pela novidade do blues.

EM – Havia uma demanda reprimida ali e foi só alguém chutar a porta?
CBB –
E a gente nem sabia o que estava acontecendo.
EM – Fale sobre a emoção de dividir o palco com o mestre B.B. King.
CBB –
Toquei em vários shows com ele durante muito tempo. Aqui no Brasil e fora. Na verdade ele queria que eu fizesse uma carreira fora que ele bancaria. Só que eu estava em meu segundo LP, fazendo muito sucesso e não tinha como. Mas ficamos amigos. Ele veio gravar no meu disco, é uma pessoa muito generosa.

EM – Você acompanha a cena brasileira de blues?
CBB –
Eu moro em uma chacarazinha há 16 anos. Só saio de casa para o aeroporto, vou tocar e volto pra casa.

EM – E em casa, você toca?
CBB –
Todos os dias. Mas eu toco no Brasil inteiro. Vou faço o show e volto. Pouco acompanho. Só os caras que eu já conhecia.

EM – Como é a história do convite da banda Commitments?
CBB –
Era o último show do guitarrista deles. E o Cezar Castanho estava fazendo esse evento. Os caras não entenderam nada. Eu fui me encontrar com o B.B. King no salão do hotel onde estava hospedado, mas sem ele saber. Os caras estavam lá e eu vi o empresário do B.B. King conversando com eles. Nessa passa o próprio B.B. King e o lobby do hotel era grande, ele olhou para o lado, me viu e veio me abraçar. Foi aí que os caras não entenderam nada: “Pô, quem é esse cara que o B.B. King para no meio do caminho e vai abraçar”. Aí o empresário falou para eles que a gente já se conhecia há muito tempo. Os caras me convidaram para tocar com eles no dia seguinte. Aí eu fui, toquei e eles me convidaram pra entrar na banda. Eu disse que não tinha condições porque tinha uma carreira sólida.
EM – Você ganhou dinheiro tocando o blues no Brasil?
CBB –
Na realidade eu nunca fiz parte do cenário do blues. Eu apareci no rock Brasil (nos anos 80) com Aumenta Que Isso Aí é Rock and Roll, e porque no meu repertório tem rock e blues, a grande massa começou a conhecer o blues. Qual é mesmo a tua pergunta?

EM – Se você ganhou dinheiro com o Blues?
CBB –
Saí de casa aos 16 anos e tudo o que eu tenho, e sempre tive uma vida boa, quem me deu foi a música. Pra tirar teve muita gente, mas para dar só mesmo a música (risos).

EM – 1989 foi um ano chave. Houve um grande festival de blues em Ribeirão Preto e dois lançamentos importantes, um do Blues Etílicos e outro do André Christovam, ambos cantados em português. Naquela época você estava no auge. Como você se sentiu quando viu tudo isso? Como se tivesse comprido bem sua tarefa?
CBB –
O filho do Erasmo tocava nessa banda (um dos fundadores do Blues Etílicos foi o baterista Gil Eduardo), e o Erasmo e a Narinha me encontraram e pediram pra eu dar uma força. Aí eu levei pra televisão, pra jornal, aparecia pra dar muita canja. Foi isso.

CBB – Você é de onde, Eugênio?
EM –
Sou de Santos, cidade com cena roqueira forte, mas não de blues ou blues rock.

CBB – É verdade, mas eu nunca mais voltei lá. Quem sabe alguém lendo o teu blog não me convida pra tocar lá. Quero ver se eu vejo um jogo do Neymar.

Eugênio Martins Júnior
Manish Blog

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