terça-feira, 23 de outubro de 2012

Celebrando Robert Plant

Led Zeppelin foi a banda mega por excelência: excessos, magia negra, jato particular, etc. Queria eu que Iron Maiden e Metallica tivessem acabado na hora certa. Banda depois de dez anos vence a validade. Vira pantomima, entretenimento, o que você quiser, menos rock, nem no Rio nem em lugar nenhum. Springsteen pelo menos é um indivíduo, não uma turminha de faz de conta, reciclando eternamente hits empoeirados. Plant é igualmente dono de seu nariz. Anda numa trip muito louca — mais uma — mergulhado em ritmos americanos de raiz, tambores africanos e tal. Sinal que continua vivo e procurando, parabéns. Plant não vai fazer o show que a turma que pagou R$ 500 espera. Não toca pandeiro pros fãs sambarem. Faz o que está a fim, e joga umas bananas pros macacos na audiência, uns três ou quatro clássicos do Zep. Certo ele.

Uma amiga das antigas me convoca: “Vamo lá!” Me conta que sua vida mudou quando assistiu no cinema The Song Remains the Same, documentário com o Led Zeppelin ao vivo, Rio de Janeiro, fim dos 70. Descobriu O ROCK, e Plant foi o primeiro homem de sua vida, o símbolo sexual que a desvirginou. Era enchimento, provoco... mas, sim, Plant era um deus grego, ou talvez ninfa celta pré-rafaelita, andrógino e muito macho, lindo e loiro e sedutor e natural. Led Zeppelin era o bicho.

Em entrevista a Rodrigo Carneiro no Valor, Castor Daudt, do DeFalla, explica muito bem: "Eles criaram os parâmetros para todas as bandas de hard rock e heavy metal que se seguiram... Tinha o cantor sexy, o guitarrista gênio descolado, o baixista nerd e o baterista alucinado". Faltou dizer que tinha um gênio da composição no comando, Jimmy Page, o guitarrista mais importante de sua geração, que inclui Clapton e Hendrix, pra começar.

Eu não me apaixonei por Plant no cinema nem nunca. Só me rendi ao Led Zeppelin muitos anos depois da banda acabar. Eles sempre estiveram por ali, cercando, "o Led", falavam os cabeludos, mas era banda para os irmãos mais velhos dos meus amigos, e, muchocho, som de bicho-grilo. A ficha começou a cair junto com os preconceitos, lá por 1985. Em 1990, cometi meu primeiro artigo sobre o Led Zeppelin para a Folha.

Chutava o pau, comparando a vitalidade e a riqueza criativa da coleção Remasters com a bunda-molice, unha encravada do lamuriento rock amoreco da crítica da época, Morrissey etc. Gigantes andavam sobre a Terra nos 70, eu dizia em 90. Hoje, parecem everests. O rock ficou pequeno.

Dispenso a orgia mitômana nos shows brasileiros de Plant. Mas confesso uma certa tentação de ir a um cinema assistir Celebration. É o filme do show que reuniu Plant, Page, John Paul Jones e o filho de John, Jason Bonham, por uma única noite, em 2007. Hoje, é o lançamento mundial em DVD, Blu-Ray, vinil e tal. Mas também será exibida em cinema, aqui no Brasil, dias 30 de outubro e 3 de novembro. Metal pesado no conforto de poltronas reclináveis?

Pipoca e Led Zeppelin combinam? Talvez trufada? Talvez com a amiga? A principal razão do Led Zeppelin ser esse mito intocável é Plant. Sempre se negou a vender a lenda em troca de uns caraminguás. Resistiu valente a se tornar cover de si mesmo. Tentações não faltaram, nem pressão de Jimmy Page. Nunca topou ressuscitar a banda ou gravar novo material. Cedeu de leve e raramente.

Vi a dupla reunida em São Paulo na turnê Unledded, 1996*, reinventando o melhor do Led Zeppelin para outra Era, com forte acento étnico. Belo show, sem fedor de defunto, contendo uma Kashmir mais épica que a original, o que em princípio é impossível. As memórias vivem e me bastam. Led Zeppelin, nunca verás nada igual. Plant, muito menos. Faz o que quer. Rasga dinheiro. Escolheu o caminho onde ninguém vai. É louco, louco dos meus. Sabe o segredo. He asks no quarter...

* NOTA DO EDITOR (ADELVAN): Também vi esse show e foi uma experiencia transcedental! Lembro que estava sentado no piso do estádio (Hollywood rock, pacaembu, são paulo), totalmente esgotado, mas ao ouvir os primeiros acordes da guitarra de Jimmy Page - provavelmente o som de guitarra mais cristalino que já penetrou meus tímpanos - esqueci completamente o cansaço ...

por  André Forastieri

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