sexta-feira, 1 de fevereiro de 2013

Desagradável ...

               Tem gente que parece ter vindo ao mundo pra confundir, incomodar, nadar contra a maré, ser “do contra”. É o caso dos caras da Gangrena Gasosa, a primeira e única banda de Saravá Metal do universo. Confundiram, por exemplo, Jello Biafra, dos Dead Kennedys, que não entendeu a ironia dos caras na contracapa de seu segundo disco, “smells like a tenda espírita” – havia uma brincadeira com marcas famosas e o punk-mor achou que fosse apoio comercial. Confundiram também as entidades do terreiro que ficava próximo ao Garage, onde sempre faziam shows nos anos 1990. Ou os telespectadores do Programa do Jô, para o qual deram uma entrevista antológica numa época em que era impensável uma banda vinda do underground pré-internet, movido a fanzines xerocados e demos em fita cassete, ter tamanha atenção de um baluarte da grande mídia.

               O mesmo Jello Biafra comentou uma vez que a proposta da banda era interessante, mas que seria perfeita caso eles conseguissem conciliar no próprio som, e não em vinhetas, o metal com as influências dos ritmos africanos. Ele se referia às fitas demo e ao primeiro disco, o ainda tosco, musicalmente falando – porque conceitualmente eles sempre foram e sempre serão toscos – “Welcome to terreiro”. Pois bem: aconteceu! Depois de um grande salto evolutivo no segundo disco, o já citado “smells”, e no EP subseqüente, 666 – lançado no dia 06/06/2006, “El dia de la bestia” – a fusão se materializou de forma perfeita no novo “artefato” (para usar uma denominação comum entre as hostes do metal negro), “se Deus é 10, Satanás é 666”. Trata-se de uma sessão de culto ao esporro gravada por Tuta e Diogo Macedo no EmeStudios, com mixagem e masterização a cargo de Rodrigão Duarte no estúdio DuBrou’. Nas percussões, Elijan Rodrigues e Anjo Caldas, percussionista de Elba Ramalho e da banda Catapulta. A incorporação definitiva da percussão ao som da banda, por sinal, foi decisiva para que o ebó ficasse, finalmente, completo.

               Para comemorar o feito e divulgar o disco eles têm feito shows memoráveis, como o que aconteceu no festival Goiânia Noise, o do Domination Rio Extreme Festival e o do Circo Voador, com o Ratos de Porão. Em junho de 2010 ficaram em primeiro lugar na seletiva do festival "candango" Porão do Rock, também no Circo Voador, com uma unanimidade pouco vista entre jurados e público, após uma disputa com bandas de peso do cenário carioca. Por conta disso, em setembro de 2010 a Gangrena se apresentou no palco principal do festival, em Brasília, e foi reconhecida como uma das melhores apresentações da noite. O mesmo aconteceu pouco tempo depois, em Minas Gerais, no Festival Roça N’ Roll de julho de 2011, no qual fizeram uma apresentação furiosa e foram apontados pelo público e pela crítica como a maior surpresa do evento.

               A consagração desta nova fase, depois de inúmeras turbulências e trocas de formação, acontecerá em breve com o lançamento do DVD “Desagradável”. O disquinho virá com um documentário que passará a limpo toda a trajetória dos malditos e com a íntegra de uma apresentação gravada em São Paulo, no “Inferno” (onde mais?), na noite do dia 03 de dezembro de 2011. O show foi captado com câmeras full HD e iluminação profissional que, unidas à cenografia do palco, resultou numa sucessão de imagens macabras que englobam todo o universo sombrio da Macumba, criando assim um ambiente perfeito para o registro de uma performance única onde as entidades da Gangrena interagiram ao vivo com efeitos especiais do mestre André Kapel Furman, conhecido por sua participação na produção do último filme de Zé do Caixão, “A encarnação do Demônio”. Rolou também uma participação especialíssima do Jão, guitarrista do Ratos de Porão, relembrando seus tempos de “crooner” e caracterizado como pai de Santo para fazer os vocais em "Benzer até Morrer/Kurimba Ruim", versão gangrenada de dois clássicos dos mestres do Hard Core tupiniquim. Nada mais justo, já que é público e notório que a Gangrena nasceu única e exclusivamente, a principio, com o intuito de, um dia, abrir um show do Ratos de Porão.

               Já o documentário, produzido pelos mesmos (ir)responsáveis pelo já clássico "GUIDABLE - A Verdadeira História do Ratos de Porão", a Black Vomit, abrangerá todos os 22 anos de trajetória da banda. Será uma seleta reunião do povo que agitou a cena underground da década de 90 do século passado pra cá. Estarão presentes todas as lendas, destrinchadas e expostas num despacho que vai revelar as passagens mais "vergonha alheia" da história do rock nacional. Jello Biafra, Jão & João Gordo, BNegão, Marcelo D2, Anjo Caldas, Dado Villa Lobos, Rafael Ramos, Fábio do Garage, Marcos Bragatto, Tom Leão, Pedro Só, Adílson Pereira, Larry Antha e os ex-integrantes (mais de 15 !), dentre outros, recordarão os lamentáveis momentos pelos quais os macumbeiros do Sarava Metal passaram em suas vidas. Além disso, Imagens de arquivo, fotos e vídeos comprovarão, de uma vez por todas e para todo o sempre, que santo se casa também faz milagre.

               Quem viver, verá!

               Saravá!

               A.





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