sábado, 9 de março de 2013

# 264 - 09/03/2013

Muita gente achava que David Bowie estava nas últimas. Desde que sentiu os sintomas de um infarto no palco de um festival de música, em 2004, o cantor tornou-se cada vez mais recluso. Ninguém sabia ao certo onde Bowie morava – Nova York? Londres? – ou o motivo do sumiço – estaria ele com algum tipo de câncer terminal ou tinha se aposentado de vez? Que nada. No dia 8 de janeiro, seu aniversário de 66 anos, Bowie ressurgiu com o lançamento de Where Are We Now?, sua primeira música em dez anos, e o anúncio de que lançaria um disco de inéditas em março, o incrível The Next Day.

O anúncio pegou todo mundo de surpresa. Bowie conseguiu manter a gravação do álbum em segredo por mais de dois anos. Para isso, montou um esquema com poucas pessoas envolvidas e todas elas sob acordo de confidencialidade. Primeiro, o músico trabalhou sozinho nas faixas. Quando começou a gravar, em um estúdio em Nova York (provavelmente, sua atual cidade), convocou alguns colaboradores de longa data: o baterista Sterling Campbell, o guitarrista Gerry Leonard e o produtor Tony Visconti -- o último trabalha com ele desde Space Oddity, de 1969. Aos poucos, mais músicos se juntaram a eles. “Bowie disse para não contarmos nem mesmo a nossos melhores amigos”, disse Visconti à revista Rolling Stone. Ele afirma que só compartilhou a história com a namorada sob a condição de que não falasse para mais ninguém. Deve ter sido duro para ela.

Mesmo que tenha construído uma das carreiras mais prolíficas da história da música, influenciando nomes de várias gerações, desde Joy Division até Lady Gaga, passando pelo punk rock e o britpop, e mesmo que tenha experimentado e reinventado a sua sonoridade ao longo de quatro décadas em que foi do folk ao glam rock, provando ainda de gêneros como o krautrock, o rock industrial e a música eletrônica, nem sempre o chamado "camaleão" do rock foi sinônimo de unanimidade. Ainda assim não havia, entre os críticos, dúvidas de que, em seu novo álbum, Bowie seguiria tão surpreendente e enigmático quanto sempre foi.

Apesar do legado impressionante que carrega, com algumas das canções mais lembradas de todos os tempos, caso de HeroesThe Man Who Sold the WorldZiggy StardustLet’s DanceRebel RebelChina Girl Under Pressure (com o Queen), Bowie atravessou praticamente toda a década de 1990 levando pancada atrás de pancada da crítica. Daí o disco liberado para streaming -- também de forma inesperada, uma semana antes do lançamento oficial -- na última sexta-feira, no iTunes, ter sido uma grata, muito grata, surpresa. The Next Day é não apenas o 24º disco de estúdio que o inglês gravou na carreira ou o primeiro a romper um hiato de dez anos. Ele é, também, uma das melhores coisas que Bowie já fez na vida.

No disco, ele faz uma merecida e memorável retrospectiva da carreira, especialmente da década de 1970 e dos anos que passou em Berlim, durante uma temporada que rendeu três discos, entre 1976 e 1979, inclusive Heroes. Mas não só isso. Nele, Bowie consegue recuperar toda a sua trajetória por meio de melodias que passeiam pela carreira e de letras profundas que recontam fragmentos da sua história. Mas sem o menor saudosismo: o disco é mais uma celebração da versatilidade de Bowie. E também uma demonstração de que a música, assim como ele, não está morrendo. A música precisa de boas músicas. E, disso, The Next Day está cheio.

The Next Day: "Aqui estou eu, não exatamente moribundo ainda", canta Bowie, com total controle e segurança em sua voz poderosa sobre uma guitarra pulsante que muito lembra sua fase como o alienígena Ziggy Stardust. É a perfeita autoafirmação do cantor sobre os boatos a respeito de sua suposta saúde frágil.

Dirty Boys: Com climão de cabaré e saxofone tocado por Steve Elson, lembra Tom Waits, mas a referência é o compositor alemão Kurt Weill (Alabama Song), de quem Bowie é fã. É uma das melhores faixas do disco.

The Stars (Are Out Tonight): A letra dessa também soa como provocação aos anos de sumiço. "As estrelas nunca dormem, mortas ou vivas", canta Bowie.

Love Is Lost: Com órgão e batidas em tons de suspense, Bowie fala sobre o envelhecimento. "Diga adeus às alegrias da vida, acene para a vida sem sentir dor", canta, talvez, para ele mesmo, que um dia já aproveitou ao máximo de sua juventude, mas hoje sofre com as limitações da idade.

Where Are We Now?: Foi a primeira música de The Next Day a ser lançada como single, e não tem nada a ver com o resto do disco. Com melodia mais calma, Bowie fala com nostalgia sobre os anos em Berlim, mas em tom otimista. 

Valentine's Day: Tem guitarra acústica distorcida, um coro de vozes femininas e é bastante melódica. Também é uma das melhores do disco, embora a letra não seja tão profunda quanto as outras que compõem o álbum. 

If You Can See Me: A faixa é uma das que mais lembram a fase de Bowie em Berlim, quando trabalhava com o produtor Brian Eno. Também ecoa sua época experimental com o rock industrial.

I'd Rather Be High: Bastante psicodélica, mas bastante similar com a música anterior melodicamente.

Boss of Me: Bowie retoma o som cool de Dirty Boys, com um baixo bem jazz e sax dando o tom da melodia.

Dancing Out in Space: Espacial em forma e tema, é uma das músicas mais "felizes" do disco.

How Does the Grass Grow?: Seria um remake de Boys Keep Swinging? É a menos inspirada do disco.

(You Will) Set the World On Fire: Com pegada hard rock, é a música mais dissonante do disco, e incrível justamente por isso.

You Feel So Lonely You Could Die: É a baladinha do disco, com piano e coro feminino. Bowie canta sobre a morte, um dos temas recorrentes do álbum.

Heat: A faixa que fecha o disco não poderia ter sido melhor escolhida. Em clima soturno de violinos fúnebres, Bowie canta "Eu não sei quem eu sou". E convence.

Carol Nogueira

Veja 

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John Lennon & Plastic Ono Band - Woman is the nigger of the world
The Beatles - I´ve got a feeling (naked version)
Alisson Mosshart and Carla Azar - Tomorrow never knows

New Order - Blue Monday

Ten Years After - Love untill I die (live at the BBC)
David Bowie - Love is lost

Snooze - Nickdrakiana
Wry - Cancer
Grenade - Free
Stellar - Stellaroid

The Flaming lips + Tame Impala - Children od the moon

Pixies - Bone Machine
The Jesus & Mary Chain - April skies
The Birthday party - release the bats
The Lords of the New Church - Li´l boys play with dolls

Ramonetures - The KKK took my baby away

Ramones - "It´s Alive" - Grandes álbuns Ao Vivo
# Rockaway Beach
# Teenage Lobotomy
# Blitzkrieg bop
# I wanna be well
# Glad to see you go
# Gimme Gimme shock treatment
# You´re gonna kill that girl
# I don´t care
# Sheena is a punk rocker
# Havana Affair
# Commando
# Here today, gone tomorrow


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