sexta-feira, 22 de março de 2013

40 Anos de " Dark Side of the moon "

Ainda que 1973 também tenha registrado a irrupção de obras-primas do porte de 'Lark’s tongues in a spic' (King Crimson), 'Berlin', (Lou Reed), 'Tubular bells', (Mike Oldfield) 'Selling england by the pound' (Genesis) e 'Raw power' (Iggy & The Stooges), nenhum outro disco lançado ao longo daquele ano foi capaz de conquistar seu lugar nos anais do rock – e lá permanecer, incólume, como o intrigante e resoluto monólito sônico que ainda é – com a mesma força impactante de 'The dark side of the moon'. Autêntico divisor de águas na trajetória do Pink Floyd, o disco se apropriaria da ideia do “álbum conceitual” embrionariamente aventada pelos Beatles em seu 'Sergeant Pepper’s Lonely Hearts Band' para forjar uma fantástica criatura jamais vista ou ouvida até então. 

Para além do icônico prisma e do feixe de luz branca a se refratar nas múltiplas cores que os designers visionários da Hipgnosis cravariam em sua capa, 'The dark side of the moon' permaneceu no imaginário de seguidas gerações graças ao seu poder de síntese; a combinação idílica da experimentação avant-garde, arrojada instrumentação de ins(piração) lisérgica, pretensão sinfônica, inovação eletrônica e acessibilidade pop perseguida por Roger Waters, David Gilmour, Richard Wright, Nick Mason e o espectro louco de Syd Barrett desde quando irromperam pelo underground londrino, no início de 1966. 

Ex-estudantes de artes plásticas e de arquitetura um dia tocados pelo desejo de criar “música em cores”, em 'Dark side... 'seus criadores finalmente conseguiriam dar plena vazão ao seu intento. Integrado a ponto de ser praticamente impossível imaginar qualquer uma de suas 10 faixas fora da sequência ou do contexto originais, o álbum literalmente incandesce enquanto justapõe temas de isolamento, estresse, medos cotidianos, ambição, envelhecimento, loucura e morte. Tudo imantado por inauditas técnicas de gravação e mixagem quadrafônicas, hipnóticos loops, rajadas de sintetizadores VCS3, reverberações espaciais, iridescentes solos de guitarra, arroubos de virtuosismo vocal, suntuosas passagens instrumentais ao gosto progressivo, efeitos delay e toda sorte de ruídos supostamente aleatórios.

Referenciando-se no inconsciente para jogar luz no “lado escuro” do ser humano, o oitavo álbum do Pink Floyd confirmou sua magnitude por meio de sucessivos relançamentos em incontáveis formatos que ultrapassaram 50 milhões de cópias vendidas. Tal sucesso sem precedentes custou caro ao grupo. Esvaziado pela concepção de 'Dark side...', Pink Floyd ainda se manteve de pé por algum tempo. Porém, a paranoia megalomaníaca de Roger Waters e disputas internas levariam à sua cisão, em meados de 1986. Triste ironia: nesta era de misantropia hi-tech em que a informação multimídia distribuída em rede por meio de pacotes e o download de músicas isoladas imperam sem maiores questionamentos, a mera constatação da permanência de um fenômeno musical da dimensão de 'The dark side of the moon' talvez seja algo inconcebível para boa parte da humanidade.

No próximo domingo, 24/03/2013, "Dark Side of the moon" completa 40 anos de lançamento.

Arthur G. Couto Duarte

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