sábado, 9 de março de 2013

A "Monalisa do pop”

O personagem Aladdin Sane pode não ser o mais famoso de David Bowie. O disco, lançado em 1973 (e que, comemorando 40 anos, será relançado em abril), também não é considerado o melhor da extensa discografia do músico britânico. Mas o ensaio para a imagem de capa do álbum, realizado em um domingo de abril, em Londres, resultou no que é provavelmente a mais icônica imagem dele. Fotógrafo e filho do famoso Brian Duffy, responsável pelas fotos, Chris Duffy vai ainda mais longe. “É a Monalisa do pop”, define.

Brian Duffy (1933 - 2010) tinha 39 anos quando foi chamado para produzir o material fotográfico do calendário Pirelli pela segunda vez. A parceria com o artista britânico Allen Jones, utilizando uma trabalhosa técnica chamada dye-transfer, que consistia em colorir artificialmente os negativos das fotos, uma cor de cada vez, chamou a atenção do empresário de Bowie na época, Tony Defries.

Como conta Chris, Defries queria que a gravadora, a RCA, investisse o máximo possível na divulgação do próximo álbum de Bowie, o sucessor do estrondoso The Rise and Fall of Ziggy Stardust and the Spiders From Mars (1972). Para isso, ele seguiu a seguinte lógica: quando mais se gastasse na arte da capa de Aladdin Sane, mais a companhia se sentiria pressionada a divulgar o álbum. Com essa missão, ele viu em Brian Duffy e no processo de dye-transfer uma chance perfeita.

Era um domingo de primavera, em abril, em Londres, quando o estúdio de Duffy foi visitado por Bowie e sua banda, a Spiders From Mars. Eles chegaram na hora do almoço e lá vararam a noite. “Bowie queria que fosse possível incluir um raio na capa do disco”, relembra Chris. O músico inglês estava inspirado pelo símbolo da banda de Elvis Presley, TCB Band. Foi quando o fotógrafo começou a desenhar no próprio rosto de Bowie, com uma versão do raio cortando a sua face, passando sobre o olho direito dele.

“Quando se está criando algo, você não sabe qual será a grandeza disso”, afirma Chris. “Ele não sabia que seria a imagem mais icônica do pop de todos os tempos. Para ele, era só mais uma sessão de fotos.”

Chris, que toma conta do legado e do arquivo do pai com Bowie, colaborou com o acervo reunido para a exposição David Bowie Is, cuja inauguração no museu londrino Victoria & Albert está marcada para o dia 23 de março – a mostra virá ao Brasil em 2014. "A exposição vai para o Brasil? Isso eu não sabia. É incrível", completa, ao ser informado da vinda de David Bowie Is ao país, para o MIS (Museu da Imagem e do Som). “Emprestamos algumas imagens, três ou quatro. Mas o mais importante é o frame original da arte de Aladdin Sane”, explica ele sobre a colaboração com a mostra.

Além da imagem com Bowie cabisbaixo, de olhos fechados, ele também irá cedeu o quadro que deu origem à capa da edição 77 da Rolling Stone Brasil, na qual Bowie encara o fotógrafo com intensidade – e evidencia um problema na pupila esquerda, que ficou paralisada após uma briga. “Acho que todos ficaram tão acostumados com a versão de olhos fechados que, quando veem Bowie de olhos abertos, ficam fissurados”, opina ele.

Também fotógrafo, Chris fez uma sessão de fotos com Bowie em 1979. “Ele já estava na fase do Scary Monsters (and Super Creeps)”, relembra, citando o disco lançado no ano seguinte. “Ele era sempre o mesmo cara. Até que entrava no personagem. Essa sempre foi a mágica da música dele. Ele é o que é, sempre criando uma coisa nova. Pense no Kiss. Eles inventaram um visual e vão com ele até o fim. Assim como a sonoridade. Bowie, não. Ele é criativo ao extremo. Como outros bons artistas, ele tem muita coisa genial, mas também muita coisa ruim. A gente nunca vai saber como uma cabeça criativa funciona.”

por Pedro Antunes

rs Brasil

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