domingo, 10 de março de 2013

me testa ...

É possível que chegue o dia em que as pessoas nem se lembrarão mais da sensação de pegar um disco nas mãos e poder apreciar a arte, sentir a textura do material em que a capa e o encarte foi impresso. Acabo de passar, mais uma vez, por esta experiência, antes tão corriqueira, e só posso lamentar pelas gerações futuras que não a conhecerão.

Tenho aqui ao meu lado um disquinho charmoso, com uma capa primorosa muito bem impressa num papel de boa qualidade. Não é vinil, o que seria o ideal, mas o desenho parece ter sido feito para o formato CD, pois está perfeitamente encaixado nas proporções reduzidas do digipack que embala a bolachinha. Abrindo-o, temos uma bela foto da banda de um lado e todas as informações técnicas – que tanto fazem falta nos downloads da internet – do outro. Atrás, o nome das músicas, grafados em letras estilosas que reproduzem a linguagem visual das ruas, e as marcas do coletivo de selos responsável pelo lançamento.

Ao meter a mão dentro do pacote, no lado esquerdo, encontraremos um belo encarte desdobrável que ostenta, de um lado, um lindo pôster da banda, e do outro as letras. Porque você não vai, a princípio, colocar o disco para tocar enquanto faz milhares de outras coisas. Pelo menos uma vez, ou duas, ou três, ou sabe-se lá quantas, você vai pegar o encarte e acompanhar as letras junto com as músicas. Experimente, é uma experiência reveladora.

Parece papo de “tiozão” saudosista. Não descarto a possibilidade de que seja. Concordo que o que importa, no final das contas, é a musica, muito mais do que a plataforma na qual ela é acondicionada. Mas acho também que você deveria, pelo menos uma vez, sentar-se confortavelmente em frente a um aparelho de som decente e apreciar este disquinho com calma, sem pressa. Não precisa pular as faixas, elas são curtinhas! E não demora – 21 minutos depois de apertar o play você estará livre para voltar ao computador e conferir as atualizações dos amigos no facebook. Sem problema, acontece comigo também. Adoro facebook.

Então supomos que você tem um aparelho de som decente e não ouve musica apenas nas diminutas caixinhas acústicas do seu computador. Você será pego de surpresa por um esporro matador já na faixa de abertura, a que dá título ao disco. Nervosa, urgente, como o punk rock deve ser – esqueci de dizer, é um disco de punk rock. A segunda vem colada à primeira, sem intervalos, e é igualmente nervosa e urgente (todas são), mas já um pouco mais trabalhada. E assim elas vão se sucedendo, sem pausa para respirar, num misto de simplicidade e intensidade, com letras confessionais - escritas em português, inglês e francês - que discorrem sobre o dia-a-dia de pessoas batalhadoras. Tudo emoldurado em arranjos criativos executados com precisão por uma banda afiada e, acima de tudo, empolgada.

A mixagem é “na cara”, com os vocais ligeiramente “soterrados” pela massaroca sonora. Mas ouvem-se perfeitamente todos os instrumentos, inclusive o contrabaixo, este eterno injustiçado. E todos estão em pé de igualdade no que se refere à habilidade dos músicos – nenhum deles é virtuoso, mas são extremamente competentes no que se propõem a fazer. O disco desce redondo da primeira à ultima faixa, e acaba de forma diametralmente oposta ao início, aos poucos, como se eles não quisessem nos deixar, ir embora. Hora de apertar de novo o play e começar tudo de novo. A internet pode esperar.

Esta experiência é ainda mais intensa porque se trata, no meu caso, de uma banda próxima, de amigos. Pessoas que eu conheço de perto e cujo trabalho já admiro há bastante tempo. Vou aos shows que eles produzem, almoço no restaurante que eles administram. Converso com eles sempre que posso e é sempre um papo muito agradável e cheio de conteúdo. O que mais me deixa feliz, no entanto, é que o disco está sendo muito bem recebido, com resenhas sempre favoráveis. Freqüentou boa parte das listas de melhores do ano em que foi lançado e foi recomendado publicamente por alguns ícones do punk rock e do Hard Core nacional. Se você ainda não o conhece, corra atrás. Vale muito a pena.

È o “Coração metrônomo” da Renegades of punk.

Ouça AQUI.

a.

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