sexta-feira, 20 de setembro de 2013

Rock. In Rio. No sofá.

Há uma tendência recente entre críticos de musica consagrados porém meio “cansados de guerra”, como os Andrés Forastieri e Barcinscky, de fazer resenhas de grandes festivais a partir do que vêem na TV, no conforto de seus lares. Para, segundo eles, evitar os transtornos que os megaeventos inevitavelmente proporcionam. Eu não tenho esse problema não. Ainda não consei de vez, e é sempre, sem exceção, infinitamente melhor ver ao vivo e em carne osso, de corpo presente.  Até poderia ter ido ao Rock in Rio, mas como dinheiro não é capim e eu já vi “cara a cara” boa parte das atrações que me são interessantes – Sepultura, Slayer  e Iron Maiden – resolvi guardar minhas energias e economias para o Black Sabbath, que toca pela primeira vez no Brasil com Ozzy Osbourne nos vocais mês que vem . Em todo caso, animei-me em ver a cobertura do Multishow desta quinta, praticamente o primeiro dia dedicado inteiramente ao rock do festival que começou sexta-feira passada com Ivete Sangalo, Beyoncê, Justin Timberlake e Cia. Ltda. Escalei-me no sofá de minha amiga Maíra e só saí de lá incríveis 8 horas depois. Abaixo, o que vi e ouvi ...

Sepultura começou pontualmente às 18:30, como marcado. Show energético e competente. Bom. Mas teria sido melhor se os caras não insistissem em focar nas chatíssimas músicas da fase Derick Green – que já está, inacreditavelmente, há mais tempo na banda do que o próprio Max, ex-vocalista e membro fundador. E convenhamos: ele é ruim demais! Muito ruim! Ruim que dói! Um vocalzinho gutural chimfrim genérico que qualquer um faria, totalmente sem personalidade, e uma presença de palco sempre meio atabalhoada. A impressão que tenho é que ele até hoje ele não sabe ao certo o que está fazendo ali. Mas os caras – Andreas e Paulo - são teimosos e agora, com o suporte de uma grande gravador do gênero, a Nuclear Blast, é que vão insistir mesmo. Só que não tem jeito: ao vivo ainda seguram uma onda, mas a banda está desfigurada demais! Restou apenas Paulo Xisto, o menos talentoso- embora gente finíssima, é a impressão que tenho - da formação original. Pra mim, Sepultura acabou assim que Max saíu. E olha que sou dos menos radicais, tem gente que acha que já era desde o “Beneath the remais” ...

É legal a participação do tal Tambours du Bronx, mas nada demais. Dá a impressão de que eles precisaram contratar aquele povo todo pra substituir Igor Cavalera. Aliás, foi a primeira apresentação que vi com o “novo” baterista, Eloy Casagrande, e não me impressionei muito não. Tem energia e técnica, o moleque, mas falta o “mojo”. É meio “durão”. Não sei, não curti.

Mas o grande ponto fraco do show, a meu ver, foi o set list, com pouquíssimos clássicos. Dentre eles aquela que talvez seja minha faixa preferida – não por acaso do melhor álbum – da banda, “Refuse/Resist”. Só que massacrada pelo vocal genérico e insosso de Derick. Lamentável. De boa surpresa mesmo, apenas duas do Tambours Du Bronx metidas no meio do set. Meio tribal/industrial, e com o vocal agressivo em francês, lembrou o Young Gods, seminal grupo suíço, um dos precursores do uso do sampler como instrumento musical.

Nota 6

Na sequencia, num palco menor, tivemos Rob Zombie pela primeira vez no Brasil em carreira solo. Bom show, com aquele visual meio exagerado de praxe e o mesmo tipo de som da antiga banda, o White Zombie: uma espécie de rock industrial com “groove”. Alguns clássicos, como “Dragula” e “More Human than Human”, e pelo menos uma música com um título sensacional: “Mars Needs Women”. Destaque para a presença de palco do maluco zumbi/mendigo e pro guitarrista prodígio John 5, que segue um pouco aquela linha masturbatória a la Steve Vai e Joe Satriani, mas que não sei porque eu gosto ...

Nota 6,9998 – a la Igor Matheus ...

E então veio a grande incógnita da noite: Ghost. Banda nova, quase ninguém conhece fora dos círculos fechados do mundo do Heavy Metal. E olha que eles nem são tão “metal” assim: seu som está mais para um “classic rock” meio setentista com clima de Missa Negra – inclusive nas letras, explicitamente satanistas. Mais pra Blue Oyster Cult ou Pentagram que pra Mercyful Fate – com o qual são insistentemente e, ao meu ver, erroneamente, comparados. Especialmente pelos vocais, que são muito diferentes. O conceito visual é impactante: trata-se de um vocalista, Papa Eméritus II, trajado a rigor em vestes litúrgicas porém com uma maquiagem de zumbi, e 5 comparsas com fantasias iguais e identidades anônimas – todos atendem por Nameless Ghouls.

O show começa morno e assim vai até o final, mas é isso mesmo: a banda conduz o espetáculo como se estivesse realmente num culto, mas daqueles mais solenes, contidos. Mais pra católico ou ortodoxo tradicional que pra “gospel” pentecostal.  Gosto das músicas, têm um bom senso melódico e refrões surpreendentemente “pop”. Também gostei dos guitarristas, que não são “firuleiros” e têm uma boa pegada, e do tecladista, que garante o clima sombrio. Mas detestei o baterista. Inacreditavelmente ruim. Chega a ser bizarro, de tão tosco. Limita-se a marcar o ritmo da forma mais primária possível, e olhe lá. Até eu faria melhor – mentira, sou péssimo! Não tenho a menor coordenação motora pra isso ...

Outra decepção foi o vocal. A impressão que tive foi que a máscara (pensei que fosse uma maquiagem) limita os movimentos labiais e interfere na perfomance do cara, já que em estúdio o resultado é bem mais interessante. Por outro lado, o som das guitarras ao vivo ganha peso e se torna mais encorpado, mais “Heavy Metal” mesmo. Foi um show irregular, muita gente detestou, mas no geral eu curti. Ainda mais pelo ousadia “blasfema” da caracterização.

Nota 7 pra eles.

Entre o Ghost e o Alice In Chains nada aconteceu, então tivemos que aturar as encheções de lingüiça dos apresentadores cretinos caçadores de celebridades do Multishow. A âncora, Titi, ex-MTV – tinha que ser – parece que é retardada, não é possível. Numa das entrevistas mais bizarras que já tive o desprazer de assistir, perguntou a dois dos Nameless Ghouls do Ghost se eles pegavam gropies assim mesmo, mascarados! Isso depois de chamá-los de Darth Vader e interpelá-los quanto ao satanismo, que eles confirmaram com a maior naturalidade. Haja “cunhão”, como dizemos por aqui...

Mas felizmente não demorou muito e os veteranos da cena grunge estavam no palco mandando ver num set list matador, de fazer chorar mais uma vez quem já chorou muito nos anos 1990 embalados pelo vocal angustiado do saudoso Layne Staley e suas letras depressivas com fixação pela morte. Nem há muito o que comentar, pois foi tudo quase perfeito:  o novo vocal segura bem a onda e Jerry Cantrell já não ostenta mais aquela bela cabeleira, mas ainda é o cérebro e o coração por trás da coisa toda. E ainda canta, e bem, em dueto com a voz principal.

Nota 9

Já a espera pelo Metallica, que se atrasou em mais de meia hora, foi um suplício. Primeiro tive que ouvir Jimmy do Matanza cometer o disparate de dizer que aquele show do Alice in Chains foi melhor do que a primeira vinda deles ao Brasil, no auge, início dos anos 90. Faz favor, né. E depois uma sequencia de entrevistas e matérias ridículas e sem sentido que culminaram num bate-papo bizarro entre Beto Lee e ele, o único que consegue rivalizar com Dinho Ouro Preto no quesito vergonha alheia do rock nacional: Tico Santa Cruz. Não vou nem comentar o que foi dito, farei o favor de poupá-los ...

Metallica demorou – não tanto quanto o Guns and Roses, felizmente – mas chegou chutando o pau da barraca com “Hit The Lights”, faixa que abre seu álbum de estréia – 30 anos recém-completos – “Kill em all”, emendada com a faixa-título de seu melhor disco, “Master of Puppets”. E aí foi jogo ganho até o final, tocando com uma energia e velocidade impressionantes até mesmo faixas mais lentas e/ou descaradamente pop, como “The Memory remains”, da controversa fase “Loaded”. Todos os discos foram contemplados – com exceção de “St. Anger” – inclusive o último, o mediano “Death Magnetic”, do qual extraíram a boa “The Day that never comes”. Pontos altos: a satisfação estampada na face de todos, especialmente de James Hetfield, normalmente mais carrancudo, e a monumental execução de “One”, “Blackned” e “And Justice for all”, fazendo justiça (sic) a este álbum injustamente (sic again) tachado de enfadonho e megalomaníaco. O ponto baixo foi a perfomance de Lars Ulrich, ainda pior que o usual.

Nota 9 vírgula alguma coisa.

Domingo que vem tem mais.

UP THE IRONS !!!

SLAYER !!!

A.

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Um comentário:

  1. Lars entrou numa curva descendente que parece não ter fim, é até vergonhoso, diante do que ele fez nos 1os albuns até o And Justice, e do que fazem até hoje bateras até mais velhos do que ele, como Neil Peart e Nicko Mc Brain.

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