sexta-feira, 14 de fevereiro de 2014

Marlio, o baixista

Na foto, com a Devotos, tocando Karne Krua
Conheci a Karne Krua no II Festcore de Aracaju, o primeiro show de rock “underground” que fui em minha vida. O ano era 1988 e o clima estava tenso, com alguns punks radicais soteropolitanos, da banda Jesus Bastado, vociferando contra os Headbangers. Eu, ingenuamente, havia ido com uma camiseta do Slayer, do qual era fã. Marinheiro de primeira viagem, tabaréu do interior, confesso que arreguei: vesti a camiseta com a estampa ao contrário, na esperança de evitar uma abordagem mais direta – e agressiva. Mas uma pessoa, em especial, parecia ter ido pra provocar mesmo: estava com uma camiseta – belíssima, por sinal – do Metallica. Os tais radicaloides de plantão ficaram só olhando feio de longe, mas não ousaram partir para o ataque ...

Fiquei surpreso ao ver o tal “provocador” subir no palco para tocar baixo com a Karne Krua – que eu achei sensacional, tão boa quanto o Cólera – era o que vinha à minha mente, pois o Cólera era minha primeira, praticamente única, na época, referência em termos de punk rock nacional. Fiquei com uma imagem muito positiva daquela figura. Um cara de atitude ...

Algum tempo depois conheci Marlio pessoalmente numa das primeiras de muitas visitas que fiz à Lókaos, loja do vocalista da Karne, Silvio “Suburbano” – o “Imperador do Hardcore”(releve, piadinha interna) – num final de tarde, depois do expediente. Já de primeira ele e sua simpaticíssima esposa, Tânia, me convidam para tomar café em sua casa! Fui, ora. Tava morando só aqui, comia de qualquer jeito na rua. E foi aí que começou uma grande amizade que dura até hoje.

Marlio cedeu, por muito tempo, sua residencia para ensaios da Karne Krua e de algumas bandas de amigos, como a Camboja, de Jamson Madureira, e a ETC, montada por Silvio e da qual fui o vocalista. Isso só fez reforçar os laços de amizade, que não se romperam mesmo quando ele se mudou para o Recife, onde montou uma loja especializada em Skate e rock, a Curinga. Começou, também, a tocar na Câmbio Negro HC, o que faz dele a única pessoa do mundo a ter sido membro fixo das duas mais importantes bandas de punk rock e Hard Core do nordeste. Com o devido respeito a todas as demais, evidentemente ...

Hoje ele está ainda mais longe, morando em São Caetano do Sul, ABC paulista. Mas ainda é meu amigo. Faço questão de visitá-lo toda vez que vou a São Paulo – o que, infelizmente, não acontece com a freqüência que eu gostaria. Amizade verdadeira é assim: persiste, apesar dos pesares e das dificuldades, como a distancia. A lamentar, apenas, o fato de que ele tenha aposentado o contrabaixo. Um desperdício. Era um cara talentoso e esforçado, apesar da notória e assumidíssima preguiça – da qual compartilho entusiasticamente, diga-se de passagem.

Amanhã, no programa de rock, tocarei uam faixa de minha demo tape preferida da Karne Krua, “Labor Operário”, em homenagem a essas duas grandes figuras, Silvio e Marlio, que aniversariaram esta semana. Silvio fez 50 anos muito bem vividos. Marlio? Mistério ...

19H, 104,9 FM em Aracaju e região.

por Adelvan

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